O “Corisco Preto”: cangaço, raça e banditismo no Nordeste brasileiro

Autores

  • Petrônio Domingues Universidade Federal de Sergipe (UFS)

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.119973

Palavras-chave:

raça, cangaço, medicina legal

Resumo

A finalidade deste artigo é reconstituir os fatos que levaram à prisão de Manoel Luiz de Jesus – um bandido negro que se identificava como Corisco Preto, do bando de Lampião –, no sertão nordestino, em 1931, para daí discutir os relatórios e pareceres produzidos sobre ele pelo sistema penitenciário de Sergipe, especialmente pelo Gabinete de Biologia Criminal, responsável por periciar o grau de degenerescência do delinquente. Para além de desvelar aspectos da trajetória de Manoel Luiz, a proposta é surpreender, a partir desse personagem, as conexões sinuosas entre cangaço, raça e banditismo à luz da medicina legal.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Petrônio Domingues, Universidade Federal de Sergipe (UFS)
    Graduado, mestre e doutor em História (USP); professor do Departamento de História e da Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Referências

ALVAREZ, Marcos César. A criminologia no Brasil ou como tratar desigualmente os desiguais. DADOS: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 45, n. 4, 2002, p. 677-704.

ALVAREZ, Marcos César. O homem delinquente e o social naturalizado: apontamentos para uma história da criminologia no Brasil. Teoria & Pesquisa, São Carlos, vol. 1, n. 47, 2005, p. 71-92.

ANTUNES, José Leopoldo Ferreira. Medicina, leis e moral: pensamento médico e comportamento no Brasil (1870-1930). São Paulo: Unesp, 1999.

ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Assim morreu Lampião. Rio de Janeiro: Brasília/Rio, 1976.

ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. Gente de Lampião: Dadá e Corisco. São Paulo: Traço, 1982.

BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Antropologia da honra: uma análise das guerras sertanejas. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, vol. 29, n. 1-2, 1998, p. 160-168.

BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão. Rio de Janeiro: Mauad, 2000.

BERARDINELLI, Waldemar et al. Estudo biotypológico de negros e mulatos brasileiros normaes e delinquentes. In: CONGRESSO AFRO-BRASILEIRO, 1, Recife. Anais... Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Massangana, 1988 [1934]. p. 151-165. vol. 2. Edição Fac-similar.

BLANCKAERT, Claude. Lógicas da antropotecnia: mensuração do homem e bio-sociologia (1860-1920). Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 21, n. 41, 2001, p. 145-156.

BORGES, Dain. Puffy, ugly, slothful, and inert’: degeneration in Brazilian social thought, 1880-1940. Journal of Latin American Studies, Cambridge, vol. 25, n. 2, 1993, p. 235-256.

CARRARA, Sérgio. Crime e loucura: o aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século. Rio de Janeiro: UERJ; São Paulo: Edusp, 1998.

CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião, o rei dos cangaceiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

CONRADO, Juarez. Lampião: assaltos e morte em Sergipe. Aracaju: J. Andrade, 2010.

CORRÊA, Mariza. Antropologia e medicina legal: variações em torno de um mito. In: VOGT, Carlos et al. Caminhos cruzados: linguagem, antropologia e ciências naturais. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 53-63.

CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade: a escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.

CUNHA, Olívia Maria Gomes da. 1933: um ano em que fizemos contatos. Revista USP, São Paulo, n. 28, 1995-1996, p. 142-163.

CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Sua alma em sua palma: identificando a “raça” e inventando a nação. In: PANDOLFI, Dulce (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999. p. 257-288.

CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Intenção e gesto: pessoa, cor e a produção cotidiana da (in)diferença no Rio de Janeiro, 1927-1942. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2002.

DANTAS, Francisco. Os desvalidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

DARMON, Pierre. Médicos e assassinos na Belle Époque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

LIMA, Estácio de. O mundo estranho dos cangaceiros: ensaio bio-sociológico. Salvador: Itapoã, 1965.

FAUSTO, Boris. O crime do restaurante chinês: carnaval, futebol e justiça na São Paulo dos anos 30. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

FERLA, Luis. Feios, sujos e malvados sob medida: a utopia médica do biodeterminismo, São Paulo (1920-1945). São Paulo: Alameda, 2009.

FERRERAS, Norberto Osvaldo. Bandoleiros, cangaceiros e matreiros: revisão da historiografia sobre o Banditismo Social na América Latina. História, Assis, vol. 22, n. 2, 2003, p. 211-226.

GOMES, Ana Carolina Vimieiro. A emergência da biotipologia no Brasil: medir e classificar a morfologia, a fisiologia e o temperamento do brasileiro na década de 1930. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi: Ciências Humanas, Belém, vol. 7, n. 3, 2012, p. 705-719.

GOULD, Stephen Jay. A falsa medida do homem. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

GRUNSPAN-JASMIN, Élise. Lampião, senhor do sertão. São Paulo: Edusp, 2001.

GRUNSPAN-JASMIN, Élise.. Cangaceiros. São Paulo: Terceiro Nome, 2006.

HARRIS, Ruth. Assassinato e loucura: medicina, leis e sociedade no fin de siècle. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

HOBSBAWM, Eric J. Bandidos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975 [1969].

JOSEPH, Gilbert M. On the trail of Latin American Bandits: a reexamination of peasant resistance. Latin American Research Review, Pittsburgh, vol. 25, n. 3, 1990, p. 7-53.

LIMA, Zozimo. Variações em fá sustenido: crônicas sergipanas. 2. ed. Aracaju: Triunfo, 2003.

LOMBROSO, Cesare. O homem delinquente. Trad. Sebastião José Roque. São Paulo: Ícone, 2007.

MATOS NETO, Antônio Porfírio de. Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço. Aracaju: Info Graphics, 2006.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa, 2004.

MIRANDA, Carlos Alberto Cunha. A fatalidade biológica: a medição dos corpos, de Lombroso aos biotipologistas. In: MAIA, Clarissa Nunes et al. (org.). História das prisões no Brasil, vol. 2. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 277-317.

NASCIMENTO, José Anderson. Cangaceiros, coiteiros e volantes. São Paulo: Ícone, 1998.

ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985.

PERICÁS, Luiz Bernardo. Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica. São Paulo: Boitempo, 2010.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. História do cangaço. São Paulo: Global, 1986.

RAMOS, Graciliano. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins, 1975.

RAMOS, Graciliano. Cangaços. Rio de Janeiro: Record, 2014.

REGO, José Lins do. Cangaceiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.

REVEL, Jacques. Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar em um mundo globalizado. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, vol. 15, n. 45, 2010, p. 434-445.

RODRIGUES, Nina. A loucura epidêmica de Canudos: Antônio Conselheiro e os jagunços. In: RODRIGUES, Nina. As collectividades anormais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1939. p. 50-77.

RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. 4. ed. São Paulo: Ed. Nacional; Brasília, DF: INL, 1976 [1933].

SANTOS, Ricardo Ventura. Da morfologia às moléculas, de raça à população: trajetórias conceituais em antropologia física no século XX. In: MAIO, Marcos C. & SANTOS, Ricardo V (org.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz: Centro Cultural Banco do Brasil, 1996. p. 125-140.

SANTOS, Ricardo Ventura. Mestiçagem, degeneração e viabilidade de uma nação: debates em antropologia física no Brasil (1870-1930). In: MAIO, Marcos C. & SANTOS, Ricardo V (org.). Raça como questão: história, ciência e identidades no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010. p. 83-108.

SCHWARCZ, Lilia M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SKIDMORE, Thomas. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

SLATTA, Richard W. (org.). Bandidos: the varieties of Latin American Banditry. New York: Greenwood Press, 1987.

SOARES, Paulo Gil. Vida, paixão e mortes de Corisco, o Diabo Louro. Porto Alegre: L&PM, 1984.

SOUZA, Amaury de. O cangaço e a política da violência no Nordeste brasileiro. DADOS: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, n. 10, 1973, p. 97-125.

STEPAN, Nancy L. A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.

VENTURA, Roberto. Um Brasil mestiço: raça e cultura na passagem da monarquia à república. In: MOTA, Carlos Guilherme. Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). Formação: histórias. 2. ed. São Paulo: Senac, 2000, p. 329-359.

VILLELA, Jorge Mattar. O povo em armas: violência e política no sertão de Pernambuco. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004.

WIESEBRON, Marianne L. Historiografia do cangaço e estado atual da pesquisa sobre banditismo a nível nacional e internacional. Revista Ciência & Trópico, Recife, vol. 24, n. 2, p. 417-444, 1996.

Downloads

Publicado

2017-08-03

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

DOMINGUES, Petrônio. O “Corisco Preto”: cangaço, raça e banditismo no Nordeste brasileiro. Revista de História, São Paulo, n. 176, p. 01–39, 2017. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.119973. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/119973.. Acesso em: 23 abr. 2024.