Um Jacobeu em Pernambuco? O caso do Pe. Bernardo da Silva do Amaral (c.1772- c. 1776)

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DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2022.191609

Palavras-chave:

Direção espiritual, Jacobeia, Molinosismo, Inquisição, Bispado de Pernambuco

Resumo

O presente artigo propõe analisar a trajetória do Pe. Bernardo da Silva do Amaral, confessor e diretor espiritual na capitania de Pernambuco, durante a segunda metade do século XVIII. Pe. Bernardo costumava afirmar às suas dirigidas que “dar ósculos abraços, e ter tratos desonestos, não era pecado”, antes “servia para maior união dos espíritos, e serviço de Deus”. Preso pelo vigário geral do Bispado de Pernambuco, teve sua acusação “fundada na mais refinada Jacobeia”. Encaminhado à Inquisição, em Lisboa, foi condenado por cometer crimes de solicitação e molinosismo. Diante disso, examinaremos o motivo da divergência entre a acusação realizada pelo juízo eclesiástico de Pernambuco e a condenação aplicada pelo Tribunal do Santo Ofício de Lisboa; e buscaremos demonstrar que a guerra à Jacobeia, promovida pelo pombalismo, pode ter inspirado o vigário geral de Pernambuco a classificar os desvios do Pe. Bernardo como “jacobices”.

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Biografia do Autor

  • Bruno Kawai Souto Maior de Melo, Universidade Federal de Pernambuco

    Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Publicado

2022-11-04

Edição

Seção

História e Religião

Como Citar

MELO, Bruno Kawai Souto Maior de. Um Jacobeu em Pernambuco? O caso do Pe. Bernardo da Silva do Amaral (c.1772- c. 1776). Revista de História, São Paulo, n. 181, p. 1–25, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.2022.191609. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/191609.. Acesso em: 24 abr. 2024.