A escravidão e a “verdade” do romance: primeiras leituras e usos públicos de A Cabana do Pai Tomás no Brasil (1852-1858)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2020.159279

Palavras-chave:

Escravidão, Romance realista, Recepção, Literatura, abolicionismo

Resumo

Neste artigo aborda-se as primeiras leituras brasileiras e os usos públicos do romance abolicionista A Cabana do Pai Tomás [1852], da estadunidense Harriet Beecher Stowe. Considerando-se o anseio do romance realista oitocentista de desvelar o social, apresenta-se os procedimentos formais adotados assim como sua recepção por leitores do Brasil escravista. Para tanto, utiliza-se como fontes principais a imprensa e baseia-se nas reflexões de Michel de Certeau sobre a leitura. Houve três modalidades diferentes de leituras: refratárias, ambíguas e entusiásticas, cada qual correspondeu a um modo próprio dos leitores se posicionarem diante de a intensão realista do romance, nem sempre sendo aceito como uma representação verossímil da escravidão. Indica-se a importância do romance em incentivar um debate público acerca da legitimidade da escravidão, ainda que não tenha incentivado defesas de abolicionismo imediatista.

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Biografia do Autor

  • Danilo José Zioni Ferretti, Universidade Federal de São João del Rei

    Doutor pelo programa de pós-graduação em História Social pelo Departamento de História, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (2004); professor adjunto do curso de História (Cohis) do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São João del Rei

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Publicado

2020-09-14

Edição

Seção

História e Artes

Como Citar

A escravidão e a “verdade” do romance: primeiras leituras e usos públicos de A Cabana do Pai Tomás no Brasil (1852-1858). Revista de História, [S. l.], n. 179, p. 1–24, 2020. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.2020.159279. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/159279.. Acesso em: 29 mar. 2024.

Dados de financiamento