Hipertireoidismo clínico em paciente com mola hidatiforme: relato de caso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v100i1p84-89

Palavras-chave:

Doença trofoblástica gestacional, Mola hidatiforme, Hipertireoidismo

Resumo

Introdução: A doença trofoblástica gestacional (DTG) constitui um grupo de doenças responsável pela produção de elevados títulos de hCG, podendo levar a possíveis complicações como hipertireoidismo e, em situações mais graves, a crise tireotóxica. O hipertireoidismo está presente em apenas 5% dos casos de DTG, sendo importante seu diagnóstico precoce. Relato de Caso: Paciente feminina, 49 anos, G6PC2A3, apresentou-se no pronto socorro relatando sangramento vaginal irregular por 4 meses, hiperêmese, irritabilidade, tremores, palpitações, xerostomia e histórico de abortos de repetição. Ao exame ginecológico, notou-se sangramento em borra de café através do orifício externo do colo uterino, e ao toque bimanual, massa pélvica acima da cicatriz umbilical. USG/TV mostrou volume uterino de 1302 cc³ e imagens correspondentes à DTG. TSH e T4L de 0,015 mU/L (VR: 0,4 – 4,5 mU/L) e 2,34 ng/dL (VR: 0,7 – 1,8 ng/dL) respectivamente, e dosagem plasmática do BhCG > 225.000 mUI/mL. Ao exame físico, demonstrou tireoide discretamente aumentada de consistência parenquimatosa e reflexo aquileu pouco exaltado. Ausência de histórico familiar para tireoidopatias e rastreio dos anticorpos anti-TPO, anti-TG e TRAb negativo. A paciente foi submetida a Aspiração Manual Intrauterina (AMIU). Em razão da manutenção dos níveis elevados de BhCG, foi solicitado nova USG/TV cujo resultado sugeriu DTG. Devido ao alto risco de neoplasia, ausência de focos metastáticos e prole constituída, optou-se por realizar histerectomia total abdominal, com salpingectomia bilateral e preservação dos ovários bilateralmente, como forma de tratamento. O TSH normalizou em 0,5 mU/L após procedimento cirúrgico. O histopatológico evidenciou Mola Invasora. Conclusão: Doenças que cursam com elevação do hCG podem levar a um quadro de hipertireoidismo secundário. Apesar desta patologia estar presente em apenas 5% dos casos de DTG, o médico não pode ignorar a importância de sua investigação para um diagnóstico precoce, com vistas a evitar complicações mais severas como por exemplo, a crise tireotóxica.

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Biografia do Autor

  • Elis Camara Francischetto, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

    Acadêmica do 9º período de Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM, Vitória, ES

  • Laís Veiga Campanharo, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

    Acadêmica do 9º período de Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM, Vitória, ES

  • Alice Fernandes de Carvalho, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

    Acadêmica do 9º período de Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM, Vitória, ES.

  • Rubens Bermudes Musiello, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

    Ginecologista e Obstetra. Possui especialização pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (1989) e mestrado pela Universidade Federal de São Paulo (2011). Professor Assistente da Escola Superior de Ciências da Saúde da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM, Vitória, ES.

  • Rachel Torres Sasso, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

    Endocrinologista. Possui graduação em Medicina - Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (1986). Atualmente é endocrinologista do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, professora assistente - Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vitória e endocrinologista - Consultório Particular - Dra. Rachel Torres Sasso. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Endocrinologia Mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local.

  • Antônio Chambô Filho, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

    Ginecologista e Obstetra. Possui graduação em Medicina pela Escola Superior de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (1975), curso de Pós Graduação em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Clínico e Provincial da Universidade de Barcelona/Espanha no período de 1979 a 1982, Mestre em Medicina (Obstetrícia e Ginecologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1988) e Doutor em Medicina (Obstetrícia e Ginecologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001). Professor titular de Ginecologia e Obstetrícia da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM, Vitória, ES

  • Carmen Dolores Gonçalves Brandão, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

    Endocrinologista. Graduada em Medicina pela Escola Superior de Ciências da Saúde da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM/1988), Mestre em Endocrinologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/1992) e Doutora em Endocrinologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/2006). Atualmente é Professor adjunto da cadeira de Endocrinologia e Metabologia da Escola Superior de Ciências da Saúde da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), médica endocrinologista da Prefeitura Municipal de Vitória e Consultório Médico.

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Publicado

2021-03-17

Edição

Seção

Relato de Caso/Case Report

Como Citar

Francischetto, E. C., Campanharo, L. V., Carvalho, A. F. de, Musiello, R. B., Sasso, R. T., Chambô Filho, A., & Brandão, C. D. G. (2021). Hipertireoidismo clínico em paciente com mola hidatiforme: relato de caso. Revista De Medicina, 100(1), 84-89. https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v100i1p84-89