Morrer e beber manicuera

relações de sociabilidade no dia de finados

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i1p232-249

Palavras-chave:

Festa dos Mortos, Beberagens, Sociabilidade, Educação, Saberes

Resumo

O artigo analisa as relações entre a morte e o consumo de uma beberagem chamada manicuera em Salinópolis, Pará. O objetivo é analisar o preparo desta bebida – consumida exclusivamente no dia da iluminação ou dia de finados –, os saberes que atravessam esse preparo e as relações de sociabilidade que o envolvem, configurando uma pedagogia do cotidiano. Decorre de uma pesquisa de campo no cemitério e em seus arredores, onde, a partir da observação e de entrevistas, descreve-se o dia de finados, a cultura material, os saberes da manicuera e sua transmissão às demais gerações. Situa-se na confluência da educação, da história e da antropologia, apoiando-se em Ariès (2003), DaMatta (1997) e Brandão (2002). Dentre as considerações, destacamos que o principal meio de transmissão de saberes da manicuera é a observação ou a atenção (Ingold, 2015), posto que é observando que se aprende, e este ato depende mais de uma postura atenta do aprendiz do que de uma ação didática de quem ensina. Mulheres e homens, ainda crianças, observam suas mães e avós prepararem a manicuera para, assim, continuarem a tradição de seu consumo no dia de finados, fortalecendo as relações sociais entre os vivos e entre estes e seus mortos.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Maria Betânia Barbosa Albuquerque, Universidade do Estado do Pará

    Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA), líder do grupo "História da Educação na Amazônia" (GHEDA/UEPA/CNPq). 

     

  • Karen Azevedo Malar, Universidade do Estado do Pará

    Licenciada em Ciências da Religião pela Universidade do Estado do Pará (UEPA); especialista em Gestão Escolar pelo Instituto de Educação e Cultura do Pará. Professora de Ensino Religioso no sistema de ensino Pequeno Aprendiz.

Referências

ALBUQUERQUE, Maria Betânia Barbosa. Beberagens indígenas e educação não escolar no Brasil Colonial. Belém: FCPTN, 2012.
ARIÈS, Philippe. História da morte no ocidente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. Campinas: Mercado de Letras, 2002.
CÂNCIO, Raimundo Nonato de Pádua; ARAÚJO, Sônia Maria da Silva. À margem da fé: educação, saberes e práticas culturais dos rezadores de almas. Revista COCAR, Belém, v. 10, n. 20, pp. 185-211, 2016.
CARDOSO, Benjamin. Salinópolis: a cidade mais querida do Pará. Salinópolis: [s.n.], 2001.
D’ÉVREUX, Yves. Continuação da história das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão nos anos
1613 a 1614. Tradução de César Augusto Marques. Brasília: Edições do Senado Federal, 2007 [1615]. DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro:
Editora Rocco, 1997.
ELLSWORTH, Elizabeth. Places of learning: media, architecture, and pedagogy. Nova York: Routledge, 2005.
GIARD, Luce. Artes de nutrir. In: CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do
cotidiano: 2 Morar, cozinhar. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2009, pp. 211-233.
INGOLD, Tim. O dédalo e o labirinto: caminhar, imaginar e educar a atenção. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 21, n. 44, pp. 21-36, 2015. Disponível em <http://dx.doi.
org/10.1590/S0104-71832015000200002>. Acesso em 15 nov. 2017.
NEGRÃO, Marcus Vinícius Nascimento. Iluminando os mortos: um estudo sobre o ritual de homenagem
aos mortos no Dia de Finados em Salinópolis-Pará. Dissertação (Mestrado em Antropologia)
– Universidade Federal do Pará. Belém, 2014.
PASSARELLI, Ulisses. Encomendação das almas: um rito em louvor aos mortos. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João Del-Rei, São João Del Rei, v. 12, 2007.
PRIORE, Mary del. História da gente brasileira. Volume 1, colônia. São Paulo: LeYa, 2016.
REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São
Paulo: Companhia das Letras, 1991.
SANCHIS, Pierre. Arraial: festa de um povo – as romarias portuguesas. Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1983.
THEVET, André. As singularidades da França Antártica. Tradução de Eugênio Amado. Belo Horizonte:
Editora Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1978 [1557].
WORTMANN, Maria Lúcia Castagna; COSTA, Marisa Vorraber; SILVEIRA, Rosa Hessel. Sobre a
emergência e a expansão dos Estudos Culturais em Educação no Brasil. Educação, Porto Alegre, v. 38, n. 1, pp. 32-48, 2015.

Downloads

Publicado

2019-03-28

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Morrer e beber manicuera: relações de sociabilidade no dia de finados. (2019). Revista Ingesta, 1(1), 232-249. https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i1p232-249