Comida, álcool e outras drogas

a boca como local de exercício de poder

Autores

  • Leticia de Almeida Sant’anna Universidade do Estado do Rio de Janeiro
  • Cristiane Marques Seixas Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição
  • Francisco Romão Ferreira Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p133-134

Palavras-chave:

Alimentação, Comida, Drogas

Resumo

Na história da Humanidade, o uso de substâncias se faz presente desde épocas longínquas, podendo ser considerada como uma categoria polissêmica e que por muitas vezes se apresenta de maneira ambígua. A comida, como as drogas, ganha novos sentidos e significações, e não por acaso alguns autores defendem que vivemos numa “cultura das drogas” da qual não podemos excluir o fumo, as bebidas alcoólicas e as drogas ditas medicinais. A Idade Média foi um período de reafirmação ideológica e cultural por parte da Igreja cristã, acusava práticas contrárias a estes ideais, inclusive no que diz respeito aos usos terapêuticos e recreativos de substâncias, também vivenciou intensa crise, e via nas drogas uma tentativa de se proteger da dolorosa agressão dos seus sonhos, por meio de uma “farmacologia mágica”, que protegesse a sociedade do sofrimento decorrente da crueldade da vida ou lhes desse forças para responder às exigências laborais do capitalismo crescente, perde lugar para um modelo repressor que localiza nas drogas uma modalidade de transgressão social. No século XVII, com o declínio das especiarias e as mudanças sociais oriundas do capitalismo, houve a ascensão de um grupo de alimentos, num primeiro momento considerados “de luxo”: o café, o chá, o chocolate, o açúcar, o tabaco e as bebidas alcoólicas, todos vindos de fora da Europa, e essas mudanças levaram mais tarde a uma expansão social do consumo de açúcar, intensificando seu uso como adoçante, conservante e confeito, retirando-o do lugar de substância “custosa, exótica e estrangeira”, colocando-a em usos cotidianos, consumidos pelas classes mais pobres. É nesse contexto que o álcool, o tabaco, as drogas e a comida vêm a ser “armas” formidáveis de atuação do Estado, que encontra formas sutis de guerrear por meio de um investimento na regulação dos impulsos orais, com objetivos biopolíticos. Nessa guerra sem armas, o Estado atua através do controle (ou da vontade de controle) do corpo e do domínio sobre a vida, que extrapolam o discurso dos elevados custos para os sistemas de saúde causados pelo alto índice de adoecimento da população através de substâncias lançadas boca adentro, tendo o que Corinne Maier, em Politique de la Bouche (2011), denomina de “política interna da boca” – controle por meio da alimentação da população, onde ter uma população forte e saudável tornava-se capital nas competições internacionais. Michel Foucault em Microfísica do Poder (1989) nos permite interrogar o caráter normatizador, disciplinar e de controle que estão além das proibições e regulamentações; e Sigmund Freud em Tres ensayos de teoría sexual (1905-2006) para compreender o desenvolvimento do corpo psíquico, através do desenvolvimento psicossexual e entender as relações que envolvem a comida e de outras substâncias tendo a boca e seus prazeres como horizontes de incidência de controle, fazendo emergir questões do espaço simbólico que as drogas (i)lícitas e a comida ocupam na vida de cada um.

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Biografia do Autor

  • Leticia de Almeida Sant’anna, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Doutoranda em Alimentação, Nutrição e Saúde na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

  • Cristiane Marques Seixas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição

    Professora adjunta do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

  • Francisco Romão Ferreira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Nutrição

    Professor adjunto do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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Publicado

2019-11-30

Como Citar

Comida, álcool e outras drogas: a boca como local de exercício de poder. (2019). Revista Ingesta, 1(2), 133-134. https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p133-134