Tradições, rituais e memórias alimentares: a identidade bicultural de filhos de imigrantes poloneses no Brasil em contexto não diaspórico
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v2i1p137-155Palavras-chave:
migração, biculturalismo, identidade, práticas alimentaresResumo
A cultura do país de origem de pais migrantes traz elementos importantes na construção da identidade de filhos nascidos no país de acolhimento. Este estudo objetivou compreender quais elementos da cultura polonesa e da brasileira foram transmitidos e como influenciaram a construção da identidade de três filhos (segunda geração) de uma família polonesa estabelecida no Brasil, a partir das narrativas da trajetória migratória familiar, da vida e das práticas alimentares pessoais e familiares. A partir da análise de conteúdo, foram identificados três núcleos temáticos, que apontam dois elementos como principais marcadores da identidade polonesa: o idioma e a alimentação. No dia a dia, a comida característica do cotidiano brasileiro foi adotada, porém a comida polonesa é protagonista nas datas especiais, caracterizando tradições étnicas, religiosas e familiares. Ainda que as receitas tenham sido modificadas, os rituais que cercam sua preparação, seu consumo e sua convivialidade se mantêm, e é quando a identidade polonesa se manifesta. Cada filho demonstra graus e formas diferentes de manutenção dessas “tradições” familiares. Outras referências culturais, suas trajetórias pessoais e redes sociais de apoio agregam novas práticas alimentares, embora o sentimento de duplo pertencimento ainda se mantenha na segunda geração. Este estudo permite compreender como a cultura alimentar contribui para a construção identitária e da trajetória alimentar de indivíduos expostos a diferentes culturas.
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