Incorporando relações

aproximações antropológicas sobre comida e risco

Autores

  • Lis Furlani Blanco Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i1p101-123

Palavras-chave:

Comida, Risco, Política, Materialidade, Farinata

Resumo

O objetivo deste artigo é tratar das relações entre “comida” e “risco” a partir do pressuposto de que a comida carrega com ela, para além de simbolismo, materialidades que são incorporadas, literalmente, através do ato de ingestão. Este texto, além da ambição de contribuir com uma revisão teórica sobre a temática da alimentação na Antropologia, pretende propor uma abordagem metodológica sobre comida que vá mais além de sua definição como linguagem, ou como mediador social, compreendendo-a enquanto objeto promulgador de realidade. A maneira como definimos comida definiria não só a materialidade daqueles que a incorporam, mas as próprias relações que estes estabelecem com o mundo, e o “risco” seria o recorte pelo qual podemos entender como um objeto é definido como comida em um contexto que é muitas vezes concebido como a antítese da cultura: o contexto da pobreza extrema. Para tanto, articularei a discussão mais atual sobre o projeto da “farinata”, do ex-prefeito João Doria Júnior, em relação a cenas etnográficas resultantes de minha pesquisa de campo, em 2013, na cidade de São Paulo.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Lis Furlani Blanco, Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

    Bacharel e licenciada (2011) em Ciências Sociais e mestra (2015) em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas. Foi pesquisadora visitante no Odela, UB, Espanha. Doutoranda em Antropologia Social pela Unicamp e bolsista Fapesp, desenvolve pesquisas acerca de temas da Antropologia da Alimentação e Antropologia Política. Atualmente é pesquisadora visitante na Universidade da Califórnia, Berkeley.

Referências

APARICI, Eva Zafra; GARCÍA, Araceli Muñoz; LARREA-KILLINGER, Cristina. ¿Sabemos lo que comemos?: Percepciones sobre el riesgo alimentario en cataluña, España. Salud colectiva, Universidad Nacional de Lanús, Buenos Aires, v. 12, n. 4, pp. 505-518, 2016.
APPADURAI, Arjun. Introdução: Mercadorias e a política de valor. In: APPADURAI, Arjun (Org.). A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Eduff, 2008.
ARCHETTI, Eduardo. Guinea Pigs: food, symbol and conflict of knowledge in Ecuador. Nova York: Berg Publishers, 1997.
BLANCO, Lis Furlani. Vida Podre: a trajetória de uma classificação. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2015.
BLANCO, Lis Furlani. A comida como direito: alguns apontamentos sobre o direito humano a alimentação adequada a partir da trajetória do programa Fome Zero. Alabastro (Revista Eletrônica dos Discentes da Escola de Sociologia e Política da FESPSP), São Paulo, ano 5, v. 1, n. 9, pp. 13-30, 2017a.
BLANCO, Lis Furlani. Que feira é essa? A construção da comida como objeto a partir da experiência da Xepa. Fome de Saber – Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares, Rio de Janeiro, 5 jul. 2017b. Disponível em: <http://obha.fiocruz.br/index.php/category/fome-de-saber/feiras-populares>. Acesso em 11 jan. 2019.
BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Trad. Mariza Corrêa. Campinas: Papirus, 1996.
BRILLAT-SAVARIN, Jean-Anthelme. A fisiologia do gosto. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
BROWN, Lester, Who will feed China? World Watch, Washington, v. 7, n. 5, pp. 10-19, set./out. 1994.
BUTLER, Judith. Bodies that Matter: On the discursive limits of sex. Nova York/Londres: Routledge, 1993.
ÇAGLAR, Ayse S. McKebap: Döner kebap and the social positioning struggle of German Turks. In: LENTZ, Carola (Org.). Changing food habits. Amsterdã: Harwood Academic Publishers, 1999.
CASTRO, Eduardo Viveiros de. “Transformação” na antropologia, transformação da “antropologia”. Mana, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, abr. 2012.
CAZES-VALETTE, Geneviève. La Vache Folle. Cultures, Nourritures. Internationale de l’Imaginaire, Arles, n. 7, pp. 205-233, 1997.
COE, Sophie. America’s first cuisines. Austin: University of Texas Press, 1994.
CONTRERAS, Jesús. A modernidade alimentar: entre a superabundância e a insegurança. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, pp. 19-45, jan./jun. 2011.
CONTRERAS, Jesús; GRACIA, Mabel. Alimentação, sociedade e cultura. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.
COUNIHAN, Carole; KAPLAN, Steven L. (Orgs.). Food and gender. Amsterdã: Harwood Academic Publishers, 1998.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 1730: devir-intenso, devir-animal, devir- imperceptível. In: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix (Orgs.). Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia (v. 4). São Paulo: Editora 34, 1997, pp. 11-113.
DOHERTY, Jacob. Infrastructures of disposability: waste, belonging, and the politics of a clean Kampala. Stanford University: Department of Anthropology, 2016.
DÓRIA, Carlos Alberto. A “gastronomização” da reflexão cultural. Ilustríssima/Folha de S. Paulo, São Paulo, 7 dez. 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/12/1557749-a-gastronomizacao-da- reflexao-cultural.shtml>. Acesso em 11 jan. 2019.
DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo: Perspectiva, 1976.
DOUGLAS, Mary. Risk and Blame: essays in cultural theory. Londres: Routledge, 1992.
DOUGLAS, Mary. Food in the social order. Londres: Routledge, 2003.
DUMONT, Louis Homo hierarchicus: o sistema das castas e suas implicações. São Paulo: Edusp, 1997.
DURKHEIM, Émile; MAUSS, Marcel. Algumas formas primitivas de classificação: contribuição para o estudo das representações coletivas. In: MAUSS, Marcel. Ensaios de sociologia. São Paulo: Editora Perspectiva, 1981.
FIRTH, Raymond. We, the tikopia. Londres: G. Allen & Unwin, 1936.
FIRTH, Raymond. Malay fishermen. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1966 [1946].
FIRTH, Rosemary. House keeping among malay peasants. School of Economics Monographs in Social Anthropology. Londres: Athlone Press, 1966 [1943].
FISCHLER, Claude. El (h)omnivoro. Barcelona: Anagrama, 1995.
FONSECA, Alexandre Brasil; SOUZA, Thaís Salema Nogueira de; FROZI, Daniela Sanches; PEREIRA, Rosangela Alves. Modernidade alimentar e consumo de alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 9, pp. 3853-3862, set. 2011.
FRANGELLA, Simone. Corpos urbanos errantes: uma etnografia da corporalidade de moradores de rua em São Paulo. São Paulo: Anablume/Fapesp, 2009.
FREITAS, Maria do Carmo S. Agonia da fome. Rio de Janeiro/Salvador: Editora Fiocruz/Edufba, 2003.
GARCÍA, Kátia. Alimentación, nutrición y pobreza: el caso de um grupo de trabajadores de la basura de la ciudad de México. Monografia de Conclusão de Curso (Licenciatura em Nutrição Humana) – Divisão de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Autônoma Metropolitana. Cidade do México, 2009.
GEERTZ, Clifford. Transição para A humanidade. In: GEERTZ, Clifford; ENGELS, Friedrich; BAUMAN, Zygmunt; LEONTIEV, Aleixei; MARCARIAM, Eduardo. O papel da cultura nas ciências sociais. Porto Alegre: Editorial Villa Martha, 1980, pp. 21-36.
GELL, Alfred. Art and agency: an anthropological theory. Oxford: Clarendon, 1998.
GOODY, Jack, Cooking, cuisine and class. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.
GRACIA-ARNAIZ, Mabel. Maneras de comer hoy: comprender la modernidad alimentaria desde y mas allá de las normas. Revista Internacional de Sociología, Córdoba, n. 40. pp. 159-182, jan./abr. 2005.
HENARE, Amiria; HOLBRAAD, Martin; WASTELL, Sari (Ed.). Thinking through things: theorising artefacts ethnographically. Londres: Routledge, 2007.
HUBERT, Annie. Introduction. In: HUBERT, Annie. Corps de femme sous influence: questionner les normes. Paris: Les Cahiers de l’Ocha, 2004.
KOPYTOFF, Igor. A biografia cultural das coisas. In: Appadurai, Arjun. A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Eduff, 2008.
LAHLOU, Saadi. Penser manger: alimentation et représentations sociales. Paris: PUF, 1998.
LATOUR, Bruno. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Bauru: Edusc, 2002.
LENTZ, Carola (Org.). Changing food habits. Amsterdã: Harwood Academic Publishers, 1999.
LÉVI-STRAUSS, Claude. The Culinary Triangle. In: VAN ESTERIK, Penny; COUNIHAN, Carole (Ed.). Food and culture. Londres: Routledge, 1997.
MACHADO, Carmen Janaína; MENASCHE, Renata. “Pobre não tem hábito alimentar, pobre tem fome”: reflexões sobre consumo e políticas públicas. In: COLLAÇO, Janine Helfst; BARBOSA, Filipe Augusto Couto; ROIM, Talita Prado Barbosa (Orgs.). Cidades e consumo alimentar. Goiânia: Editora da Imprensa Universitária Digital, 2017.
MACIEL, Maria Eunice; GOMBERG, Estélio (Org.). Temas em alimentação e cultura. São Cristóvão: Editora UFS, 2007.
MALINOSWKI, Bronislaw. Argonauts of the Western Pacific. Nova York: Dutton, 1922.
MALINOSWKI, Bronislaw. Coral gardens and their magic. Bloomington: Indiana University Press, 1965 [1935].
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
MENASCHE, Renata. Risco à mesa: alimentos transgênicos, no meu prato não? Campos – Revista de Antropologia, v. 5, n. 1, pp. 111-129, 2004.
MERLEAU-PONTY, Maurice. De Mauss a Claude Lévi-Strauss. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980, pp. 193-206.
MILLÁN, Amado. “Malo para comer, bueno para pensar”: crisis en la cadena socioalimentaria. In: GRACIA-ARNAIZ, Mabel (Coord.). Somos lo que comemos: estudios de alimentación y cultura en España. Barcelona: Ariel, 2002.
MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
MINTZ, Sidney. Comida e antropologia: uma breve revisão. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 16, n. 47, pp. 31-41, out. 2001.
MOL, Annemarie. The Body Multiple: Ontology in Medical Practice. Durham: Duke University Press, 2002.
MOL, Annemarie. Política ontológica: algumas ideias e várias perguntas. In: NUNES, João Arriscado; ROQUE, Ricardo (Ed.). Objectos impuros: experiências em estudos sociais da ciência. Porto: Edições Afrontamento, 2008.
OHNUKI-TIERNEY, Emiko. Rice as self: Japanese identities through time. Princeton: Princeton University Press, 1993.
POLLAN, Michael. Cozinhar: uma história natural da transformação. Trad. Cláudio Figueiredo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
POULAIN, Jean-Pierre. Sociologies de l’alimentation. Les Mangeurs l’espace social alimentaire. Paris: Presses Universitaires de France, 2003.
POULAIN, Jean-Pierre. Sociologias da alimentação: os comedores e o espaço social alimentar. Florianópolis: EdUFSC, 2004.
PRINS, Baukje; MEIJER, Irene Costera. Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, pp. 155-167, 2002.
RIBEIRO, Magda dos Santos. Por uma biografia das coisas: a vida social da marca Havaianas e a invenção da brasilidade. Etnográfica, Lisboa, v. 17, n. 2, pp. 341-367, 2013.
RICHARDS, Audrey. Land, labour and diet in Northern Rodhesia. Oxford: Oxford University Press, 1951 [1939].
RICHARDS, Audrey. Hunger and work in a savage tribe: a functional study of nutrition among the Southern Bantu. Londres: Routledge, 2005 [1932].
RUI, Taniele. Corpos abjetos: etnografia em cenários de uso e comércio de crack. Tese (Doutorado em Antropologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2012.
SALAMAN, Redcliffe. The history and social influence of the potato. Cambridge: Cambridge University Press, 1970 [1949].
SANTOS, Ligia Amparo. O corpo, o comer e a comida. Salvador: Edufba, 2008.
STOLLER, Paul. The taste of ethnographic things. Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 1990.
VAN ESTERIK, Penny; COUNIHAN, Carole (Ed.). Food and culture. Londres: Routledge, 1997.
WISSLER, Clark. The American Indian. Nova York: D. C. McMurtrie, 1927.
WRANGHAM, Richard. Catching fire: how cooking made us human. Nova York: Basic Books, 2009.

Downloads

Publicado

2019-03-28

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Incorporando relações: aproximações antropológicas sobre comida e risco. (2019). Revista Ingesta, 1(1), 101-123. https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i1p101-123