Tudo a partir de um grão: o real totalitarismo de 1984

Autores

  • Fabio Akcelrud Durão Universidade de Campinas
  • Tauan Fernandes Tinti Universidade Federal da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2447-9020.intelligere.2022.203738

Palavras-chave:

Distopia, 1984, Discurso indireto livre, Romance do século XX

Resumo

Este ensaio parte da premissa de que faz parte da lógica de envelhecimento dos objetos culturais que o modo como eles são lidos ao longo do tempo se sedimente de forma a afetar suas possibilidades de sentido, o que faz com que essas camadas precisem ser enfrentadas por tentativas subsequentes de interpretação. Sendo assim, nossa hipótese é a de que a tendência de leitura prospectiva de 1984 simplifica a relação entre ficção e realidade histórica – simplificação essa que vem a calhar para um objeto de alta circulação cultural, funcionando tanto como causa possível quanto como consequência relativamente inevitável. Desse modo, nossa proposta aqui é a de sugerir uma inversão nos termos usuais do debate ao redor do romance mais famoso de George Orwell, passando por três níveis relacionados entre si. O primeiro diria respeito à substituição do impulso prospectivo pela visada retrospectiva, rumo à historicidade das formas por meio de uma análise do comportamento do discurso indireto livre no romance. Por sua vez, o segundo nível privilegia a complicação em detrimento da simplificação, e de novo em termos formais: sendo inadequada a caracterização do estilo de Orwell nos moldes do discurso indireto livre de corte realista, entender o que surge em seu lugar é um dos propósitos deste ensaio. Por fim, o terceiro nível diz respeito ao problema da verossimilhança no romance, com aquilo que nele parece mais forçado se tornando interessante justamente por desafiar o bom senso dessas convenções realistas.

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Biografia do Autor

  • Fabio Akcelrud Durão, Universidade de Campinas

    Professor Livre-Docente no Departamento de Teoria Literária

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Publicado

2022-10-27

Edição

Seção

Dossiê: George Orwell

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