A poética da fome na arte Guarani.
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2000.109388Palavras-chave:
Etnoestética - Mbyá Guarani - Cosmologia - Etnicidade.Resumo
Desenhos produzidos por crianças Guarani Mbyá na virada do milênio sugerem que a Terra-sem-Males pode ser uma realidade mundana. O solo infértil e cheio de pragas da Terra Indígena Itaóca no litoral sul de São Paulo é transformado por jovens artistas em farto território, repleto de planta ções e caça. A proximidade do lixão de Mongaguá, fazendas de banana e Cemitério da Igualdade, onde os Guarani buscam restos de alimento, trabalham como escravos e enterram seus mortos prematuramente, é mantida fora das ilustrações. Crianças doentes e enfraquecidas do grupo indígena mais numeroso do Brasil (30.000) materializam-se nas ilustrações em xondaro Guarani - guerreiros cujos corpos captaram a essência do paraíso mítico, a imortalidade. A qualidade estética das representações da vida social Guarani advém das dimensões de um mundo errante que as crianças tentam recriar e expressar por meio da arte. Enquanto adultos e idosos acreditam que fome e escassez são condições necessárias para a passagem à Terra-sem-Males, a geração mais nova propõe mudanças concretas à ordem social, incluindo a aceitação do conforto da agricultura sedentária. Se a palavra sagrada, vital à pessoa Guarani, não transmitiu até hoje à insensível sociedade brasileira os efeitos dramáticos da pobreza e violência, os jovens esperam que sinais visuais de um mundo poético e idealizado possam educar o público sobre suas presentes aspirações.Downloads
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Publicado
2000-12-22
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Seção
Artigos
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Copyright (c) 2000 Mona Birgit Suhrbier, Mariana Leal Ferreira

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Como Citar
SUHRBIER, Mona Birgit; FERREIRA, Mariana Leal. A poética da fome na arte Guarani. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Brasil, n. 10, p. 211–229, 2000. DOI: 10.11606/issn.2448-1750.revmae.2000.109388. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revmae/article/view/109388.. Acesso em: 16 mar. 2025.