Sobre técnicas e tecnologia: Uma perspectiva feminista dos estudos de artefatos líticos

Autores

  • Danusa Vieira Universidade Federal de Pelotas

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2021.163775

Palavras-chave:

Tecnologia, Crítica feminista, Tecnologia lítica, Teoria arqueológica, Metodologia feminista

Resumo

Reflexões teóricas substanciais foram feitas sobre a tecnologia enquanto meio de ação no mundo físico, social e culturalmente constituído, incluindo considerações que relevam do aspecto material, e não apenas simbólico, da produção social das técnicas, dentre elas, invenções que são consideradas cruciais para a evolução da humanidade. Artefatos de pedra lascada se encontram nessa categoria fundamental, tendo se constituído enquanto produção técnica intencional especificamente humana. Usualmente na disciplina arqueológica, artefatos líticos tendem a ser analisados de uma maneira clínica, segundo critérios que os permitem serem encaixados em esquemas tipológicos. Tal metodologia está intrinsecamente relacionada ao conceito moderno de tecnologia que se caracteriza por sua separação em relação à esfera das relações sociais e da cultura. Ainda que nos últimos anos tenha se construído uma crítica à divisão cartesiana entre sujeito/objeto e as limitações que tal abordagem apresenta para a construção do conhecimento científico, as normas de validade para estudos tecnológicos pressupõem ao menos algum aspecto tecno-tipológico incorporado à análise. A partir de uma perspectiva feminista dos estudos tecnológicos, reinserindo o campo das técnicas no conjunto das práticas sociais, pretendemos levantar questões de como seria possível analisar artefatos líticos a partir de outras concepções de tecnologia.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Arthur, KathrynWeedman. (2018). The Lives of Stone Tools: Crafting the Status, Skill, and Identity of Flintknappers. University of Arizona Press, Tucson.

Arthur, Kathryn Weedman. (2010). Feminine Knowledge and Skill Reconsidered: Women and Flaked Stone Tools. American Anthropologist, 112(2): 228–243.

Binford, Lewis. (1962). Archaeology as Anthropology.American Antiquity, Vol. 28, No. 2.: 217-225.

Blackmore, Chelsea. (2011). How to Queer the Past Without Sex: Queer Theory, Feminisms and the Archaeology of Identity.Archaeologies: Journal of the World Archaeological Congress, vol. 7 n. 1: 75-96.

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. (2019). v.14, n. 2.

Bradley, Brenda J. (2008). Reconstructing phylogenies and phenotypes: a molecular view of human evolution. Journal of Anatomy, 212(4): 337–353.

Cobb, Hannah. (2006). (Dead) Bodies the matter? Examining Prehistory from a Queer Perspective.UK Postgraduate Conference in Gender Studies.Univ. of Leeds.Disponível em: https://gender-studies.leeds.ac.uk/wp-content/uploads/sites/53/2013/02/epaper8-hannah-cobb.pdf. Acesso em: 31 de julho de 2020.

Conkey, Margaret; Spector, Janet.(1984). Archaeology and the Study of Gender. In: Schiffer, Michael, (Ed.),Advances in Archaeological Method and Theory, vol.7: 1-38.

Dahlberg, Frances, (Ed.).(1981). Woman the Gatherer.Yale University Press, New Haven.

Davis, Angela. (2016).Mulheres, raça e classe. Boitempo, São Paulo.

Dias, Adriana S. (2003).Sistemas de assentamento e estilo tecnológico: uma proposta interpretativa para a ocupação pré-colonial do alto vale do rio dos Sinos, Rio Grande do Sul. (Tese de doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Doell, Ruth;Longino, Helen. (1983). Body, Bias, and Behavior: A Comparative Analysis of Reasoning in Two Areas of Biological Science. Signs, Vol. 9, No. 2: 206-227.

Estioko-Griffin, Agnes; Griffin, P. Bion.(1981). Woman the hunter: the Agta. In:Dahlberg, Frances, (Ed.), Woman the gatherer.Yale University Press, New Haven, 121-152.

Endicott, Karen. (1999). Gender relations in hunter-gatherer societies. In: Lee, Richard; Daly, Richard, (Ed.),The Cambridge Encyclopedia of Hunters and Gatherers. Cambridge University Press, Cambridge/New York,411-418.

Federici, Silvia. (2017).Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Editora Elefante, São Paulo.

Finlay, Nyree. (2006).Manifestingmicroliths: insights and strategies from

experimental replication. In: Apel, Jan;Knutsson,Kjel, (Ed.),Skilled Production and Social Reproduction: Aspects of Traditional StoneTool Technologies. Proceedings of a Symposium in Uppsala, August 20–24, 2003. SocietasArchaeologicaUpsaliensis, SAU, Stone Studies 2, University of Uppsala,299-314.

Finlay,Nyree. (2013). Gender and Lithic Studies in Prehistoric Archaeology. In: Bolger, Diane, (Ed.), A companion to gender prehistory. Wiley-Blackwell,Malden,142-160.

Gaspar, Maria Dulce;Heilborn, Maria Luiza;Escorcio, Eliana. (2011). A sociedade

sambaquieira vista através de sexo e gênero. R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 21: 17-30.

Gero, Joan. (1991). Genderlithics: Women’s Roles in Stone Tool Production. In: Conkey, Margareth;Gero, Joan, (Eds.). Engendering Archaeology: women and prehistory.BlackwellPublishing, Oxford, 163-193.

Goodall, Jane. (1986). The Chimpanzees of Gombe. Harvard University Press, Cambridge.

Haraway, Donna. (1995). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, 5: 7-41.

Harding, Sandra. (1987). Is there a feminist method? In: Harding, Sandra, (Ed.),Feminism and methodology.Indiana University Press,Bloomington, 1-14.

Harding, Sandra. (1995). "Strong Objectivity": A Response to the New Objectivity Question.Synthese, vol. 104, no. 3: 331-349.

Ingold, Tim. (1997). Eight themes in the anthropology of technology. Social Analysis: The International Journal of Social and Cultural Practice, vol. 41, no. 1: 106-138.

Ingold, Tim. (1999).On the social relations of the hunter-gatherer band. In: Lee, Richard; Daly, Richard, (Ed.), The Cambridge Encyclopedia of Hunters and Gatherers. Cambridge University Press, Cambridge/New York, 399-410.

Ingold, Tim. (2000).The Perception of the Environment: Essays on livelihood, dwelling and skill. Routledge, London.

Inizan, Marie-Louise; Reduron-Ballinger, Michèle; Roche, Hélène; Tixier, Jacques.(2017). Tecnologia da Pedra Lascada. Tradução, revisão e complemento com definições e exemplos brasileiros. Tradução: Maria Jacqueline Rodet e Juliana Machado Resende. Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, Belo Horizonte.

Koide, Kelly; Ferreira, Mariana; Marini, Marisol. (2014). Arqueologia e a crítica feminista da ciência: entrevista com Alison Wylie. Scientiae Studia, 12(3): 549-590.

Lee, Richard; DeVore, Irvan, (Ed.). (1968). Man The Hunter. Aldine, Chicago.

Laming-Emperaire, Anette. (2017). Guia para o estudo das indústrias líticas da América do Sul.Manuais de Arqueologia 2, CEPA, Curitiba.

Laughlin, William. (1968). Hunting: An Integrating Biobehavior System and Its Evolutionary Importance. In:Lee, Richard; DeVore, Irvan, (Ed.), Man The Hunter. Aldine, Chicago, 304-320.

Lemmonier, Pierre.(1993). Introduction. In: LEMONNIER, Pierre, (Ed.), Technological Choices. Routledge, London.

Leroi-Gourhan, André. (1971). Evolution et techniques, vol. 1: L'Homme et la matière. Albin Michel, Paris.

Longino, Helen. (1987). Can There Be A Feminist Science? Hypatia, Vol. 2, No. 3, 1: 51-64.

Martin, M. Kay;Voorhies, Barbara.(1975). Female of the Species. Columbia University Press, New York.

Mauss, Marcel. (2003). As técnicas do corpo. In: Mauss, Marcel. Sociologia e antropologia. Cosac &Naify, São Paulo, 399-422.

Moreno de Sousa, João Carlos. (2018). Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Prous, André. (1986/1990). Os artefatos líticos, elementos descritivos classificatórios. Arquivos do Museu de História Natural, v 11:1-55.

Ribeiro, Loredana. (2017). Crítica feminista, arqueologia e descolonialidade. Revista de Arqueologia, v. 30, n. 1: 210-234.

Sahlins, Marshall. (1960).The origin of society. Scientific American, 203(3): 76–87.

Sahlins, Marshall. (2007). A sociedade afluente original. In: Sahlins, M. Cultura na prática. Editora UFRJ, Rio de Janeiro, 105-152.

Schimidt, Sarah K. (2018). Garimpeiras locais contra as Minas Gerais: o que elas me ensinaram sobre Capitalismo e Ciência. (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

Silva, Fabíola. (2000). As Tecnologias e seus Significados: Um Estudo da Cerâmica dos Asuriní do Xingu e da Cestaria dos Kayapó-Xikrin sob uma Perspectiva Etnoarqueológica. (Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo.

Washburn, Sherwood; Lancaster, Chet. The evolution of hunting. In: Lee, Richard; DeVore, Irvan, (Ed.),Man The Hunter. Aldine, Chicago, 293-303.

White, Leslie. (1959). The Evolution of Culture: The Development of Civilization to the Fall of Rome. McGraw-Hill, New York.

Wylie, Alison. (1997). The Engendering of Archaeology Refiguring Feminist Science Studies.Osiris, 2nd Series, Vol. 12: 80-99.

Wylie, Alison. (2007). Doing Archaeology as a Feminist: Introduction. Journal of Archaeological Method and Theory, Vol. 14, No. 3: 209-216.

Wylie, Alison. (2017). Os que conhecem, conhecem bem: teoria do ponto de vista e arqueologia de gênero. Scientiae Studia, São Paulo, v. 15, n. 1: 13-38.

Zihlman, Adrienne. (1981). Woman as Shapers of the Human Adaptation. In: Dahlberg, Frances, (Ed.), Woman the Gatherer. Yale University Press, New Haven, 75-120.

Zihlman, Adrienne. (2012). Engendering Human Evolution. In: Bolger, Diane, (Ed.), A companion to gender prehistory. Wiley-Blackwell, Malden, 23-44.

Downloads

Publicado

2021-08-12

Edição

Seção

Dossiê

Como Citar

Sobre técnicas e tecnologia: Uma perspectiva feminista dos estudos de artefatos líticos. (2021). Revista Do Museu De Arqueologia E Etnologia, 36, 92-106. https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2021.163775