A noção de rastreabilidade e as cerâmicas norte-africanas romanas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2019.164267

Palavras-chave:

Cerâmica romana africana, Produção, Consumo, Pesquisas, Noção de rastreabilidade

Resumo

As pesquisas sobre a indústria cerâmica africana romana tiveram uma trajetória muito particular se comparadas às de outras produções cerâmicas mediterrânicas. Uma série de fatores adversos foram superados para que fossem alcançados resultados consistentes relativos aos modos de sua produção e circulação no continente africano e na bacia do Mediterrâneo. Abordagens que incluíram novas metodologias de forma progressiva enfrentaram a fraca variabilidade litológica e sedimentológica da região e, consequentemente, materiais bastante genéricos e pouco distinguíveis uns dos outros. Essas particularidades geológicas tornam extremamente difícil a associação estreita entre o tratamento arqueológico (tipológico) e arqueométrico (petrográfico), próprios das pesquisas mais recentes. No decorrer das últimas duas décadas, aproximadamente, os projetos empreendidos caracterizaram-se por trabalhos cooperativos sistemáticos, com equipes multidisciplinares locais (tunisianos, líbios, argelinos) e estrangeiras (franceses, italianos, ingleses), que realizaram prospecções de sítios de produção cerâmica, além de intensivos estudos arqueométricos, com análises geoquímicas e petrográficas. A documentação arqueológica mais recente encontra-se suficientemente rica de informações sobre a vitalidade de produção e a tecnologia da cerâmica norte-africana romana, sustentadas por um crescimento econômico e pela mobilidade das oficinas. Essas últimas pesquisas estão alinhadas com a moderna noção de rastreabilidade, muito em voga no campo do consumo. Aplicada à documentação cerâmica, esta noção implica em uma rotulagem eficaz (ou seja, uma tipologia eficiente), a indicação de uma data de fabricação (presumida) e um controle da origem geográfica, que são a única maneira útil de permitir uma boa interpretação da distribuição das mercadorias africanas. Este texto visa analisar a trajetória das pesquisas e o desenvolvimento do conhecimento sobre a produção e consumo da cerâmica africana em vista dos estudos mais recentes.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Maria Isabel D’Agostino Fleming, Universidade de São Paulo. Museu de Arqueologia e Etnologia. Laboratório de Roma Provincial

    Possui graduação em História pela Universidade de São Paulo (1973), mestrado (1978) e doutorado (1987) em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. Membro estrangeiro da École Française de Rome 1983-1985. Atualmente é Professor Assistente Doutor Sênior do Museu de Arqueologia e Etnologia. Tem experiência na área de Arqueologia, com ênfase em Arqueologia mediterrânica, atuando principalmente nos seguintes temas: arqueologia romana e proto-história da Península Itálica, arqueologia romana provincial da Península Ibérica, tecnologia cerâmica, metalurgia do bronze, metalurgia e lamparinas greco-romanas. Coordenadora do Grupo de Pesquisa (CNPq) "Formas de contato e processos de transformação no Mediterrâneo Antigo: Roma e suas províncias". Coordenadora do Laboratório de Arqueologia Romana Provincial-LARP do MAE-USP (apoio FAPESP). Editora responsável da Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia de 1991 a 2013.

Referências

Aguarod O. C. 1991. Cerámica romana importada de cocina en la Tarraconense. Institución Fernando el Católico, Saragosse.

Ahmed, M. A. M. 2010. Rural Settlement and economic Activity: Olive Oil and Amphorae Production on the Tarhuna Plateau during the Roman Period, Thèse de doctorat de l’Université de Leicester.

Ben Jerbania, I. 2013 – I. Observations sur les amphores de tradition punique d’après une nouvelle découverte près de Tunis. AntAfr, 49: 179–192.

Bonifay, M. 2007. Ceramic Production in Af¬rica During Late Antiquity: Continuity and Change. In: Lavan, L. & Zanini, E. (Eds.) Technology in Transition A.D. 300-650. Brill, Leiden: 143-158.

Bonifay, M. Tchernia, A. 2012. Les Réseaux de la Céramique Africaine (Ier-Ve siècles). In : Keay, S. (Ed.) Rome, Portus and the Mediterranean. Archaeological Monographs of The British School at Rome. London: 315-333.

Capelli, C.; Bonifay, M. 2014 Archéométrie et archéo¬logie des céramiques africaines: une approche pluridisciplinaire, 2. Nouvelles données sur la céramique culinaire et les amphores. LRCW 4. Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and Amphorae in the Mediterranean. Archaeology and Ar¬chaeometry. BAR–IS 2616 (I), Oxford: 235–253.

Capelli, C.; Bonifay, M. 2016 Archeologia e archeometria delle anfore dell’Africa romana. Nuovi dati e problemi aperti. In: Ferrandes, A. F.; Pardini, G. (Eds.) Le regole del gioco. Tracce Archeologi Racconti. Studi in onore di Clementina Panella. Roma: 535-557.

Capelli, C.; Leitch, V. 2011. A Roman amphora production site near Lepcis Magna: petrographic analyses of the fabrics. LibSt, 42: 69–72.

Cau Ontiveros, M. A.; Reynolds, P.; Bonifay, M. 2011. An initiative for the revision of late Ro¬man fine wares in the Mediterranean (c. AD 200–700): The Barcelona ICREA/ESF Work-shop. LRFW 1. Late Roman Fine Wares. Solving Problems of Typology and Chronology. A review of the Evidence, Debate and New Contexts (Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 1), Oxford: 1–14.

Clay. T. 1992. Carthage et son commerce dans l’Antiquité tardive. In: Afrique du Nord Antique et Médievale, Spectacles, Vie Portuaire, Religions, Actes du Ve Colloque international sur l’Histoire et l’Archéologie de l’Afrique du Nord (Avignon, 9-13 avril 1990). Paris: 349-359.

Desanges, J.; Duval, N.; Lepelley, C.; Saint–Amans, S. 2010. Carte des routes et des cités de l’est de l’Africa à la fin de l’Antiquité (Bibliothèque de l’Antiquité tardive 17), Turnhout.

Estrabon. 2004. Geographie. Tome XV. Livre XVII, deuxième partie. L’Afrique de l’Atlantique au Golfe de Soloum. Les Belles Lettres, Paris.

Felici, F.; Pentiricci, M. 2002. Per una definizione delle dinamiche economiche e commerciali del territorio di Leptis Magna. AfrRom 14, Lo spazio marittimo del Mediterraneo occidentale: geografia storica ed economia, Roma: 1875–1900.

Ferrandes, A. F.; Pardini, G. (Eds.) 2016. Le regole del gioco. Tracce Archeologi Racconti. Studi in onore di Clementina Panella. Edizioni Quasar di Severino Tognon, Roma.

Ikäheimo, J. P. 2003. Late Roman African Cookware of the Palatine East Excavations, Rome. A holistic approach. BAR International Series 1143. Archaeopress. Publishers of British Archaeological Peports, Oxford.

Mackensen, M. 1993. Die spätantiken sigillata – und Lampentöpfereien von El Mahrine (Nordtu¬nesien). (Münchner Beiträge zur Vor – und Frühgeschichte, 50), Munich.

Nacef, J. 2015a. Production de la céramique antique in la région de Salakta et Ksour Essef, Tunisie (Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 8), Oxford.

Nacef, J. 2015b. Un atelier de potier à la périphérie de la ville de Thapsus aux premiers siècles de l’Empire. AntAfr, 51: 2015:17–43.

Panella, C. 1993. Merci e scambi nel Mediterraneo tardoantico. In: Storia di Roma III, 2. Einaudi, Turim: 614-697.

Peacock, D. P. S.; Bejaoui, F.; Ben Lazreg, N. 1989. Roman amphora production in the Sahel region of Tunisia. In: Amphores romaines et histoire économique. Dix ans de recherche, Actes du colloque (Sienne, 22–24 mai 1986), (Collection de l’Ecole française de Rome 114), Rome: 179–222.

Peacock, D. P. S.; Bejaoui, F.; Ben Lazreg, N. 1990. Roman pottery production in central Tunisia. JRA, 3: 59–84.

Pline, L’Ancien. 2017. Histoire Naturelle. Vol. 5. Forgotten Books, Paris.

Pomponius Mela. 2017. Tome I. Len. Paris.

Salluste. 2002. La Guerre de Jugurtha. Classiques en Poche. Les Belles Lettres, Paris.

Ximenes, S.; Moerman, M. 1991. Le matériel archéologique de l’épave Laurons II (Martigues, Bouches-du-Rhône). Cahiers d’Archéologie Subaquatique, X: 209-222.

Downloads

Publicado

2019-11-21

Como Citar

A noção de rastreabilidade e as cerâmicas norte-africanas romanas. (2019). Revista Do Museu De Arqueologia E Etnologia, 32, 218-226. https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2019.164267