A questão da universalidade das categorias jurídicas ocidentais a partir da abordagem antropológica: nota sobre a discussão entre Max Gluckman e Paul Bohannan

Autores

  • Orlando Villas Bôas Filho Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito

Palavras-chave:

Antropologia jurídica, Etnografia jurídica, Comparação antropológica, Etnocentrismo, Epistemologia.

Resumo

Este artigo pretende examinar a controvérsia entre Max Gluckman e Paul Bohannan, especialmente no que tange à questão de como proceder a uma análise comparativa da regulação jurídica de culturas homeomorfas. Para tanto, reconstrói alguns aspectos fundamentais que caracterizaram as perspectivas de Bohannan e de Gluckman. Por fim, para sublinhar a relevância da controvérsia entre esses dois autores, recupera alguns de seus reflexos na discussão antropológica acerca do direito.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Orlando Villas Bôas Filho, Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito

    Professor Doutor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Referências

ADONON, Akuavi; PLANÇON, Caroline; EBERHARD, Christoph. Les cultures juridiques. In: RUDE-ANTOINE, Edwige; CHRÉTIEN-VERNICOS, Geneviève (Coord.). Anthropologies et droits: état des savoirs et orientations contemporaines. Paris: Dalloz, 2009. p. 205-243.

ARNAUD, André-Jean; FARIÑAS DULCE, María José. Introduction à l’analyse sociologique des systèmes juridiques. Bruxelles: Bruylant, 1998.

ASSIER-ANDRIEU, Louis. O direito nas sociedades humanas. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

______. Le juridique des anthropologues. Droit et Société, Paris, n. 5, p. 89-108, 1987.

BALANDIER, Georges. Anthropologie politique. 5. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 2007.

BOAS, Franz. As limitações do método comparativo da antropologia, 1896. In: BOAS, Franz. Antropologia cultural. Textos selecionados, apresentação e tradução, Celso Castro. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 25-39.

BOHANNAN, Paul. A categoria injô na sociedade Tiv. In: DAVIS, Shelton H. (Org.). Antropologia do direito: estudo comparativo de categorias de dívida e contrato. Tradução de Vera Maria Cândido Pereira. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. p. 57-69.

______. Ethnography and comparison in legal anthropology. In: NADER, Laura (Ed.). Law in culture and society. Berkeley, California: University of California Press, 1997. p. 401-418.

______. Social anthropology. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1963.

BOURDIEU, Pierre; CHAMBOREDON, Jean-Claude; PASSERON, Jean-Claude. Le métier de

sociologue. 5. ed. Berlin: Mouton de Gruyter, 2005.

CLASTRES, Pierre. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

______. La société contre l’État. Recherches d’anthropologie politique. Paris: Les Éditions de Minuit, 2011.

COMAROFF, John L.; ROBERTS, Simon. Rules and processes: the cultural logic of dispute in an African context. Chicago: University of Chicago Press, 1986.

DAVIS, Shelton H. Introdução. In: ______ (Org.). Antropologia do direito: estudo comparativo de categorias de dívida e contrato. Tradução de Vera Maria Cândido Pereira. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. p. 9-24.

______. Victims of the miracle: development and the Indians of Brazil. New York: Cambridge University Press, 1977.

EBERHARD, Christoph. Le droit au miroir des cultures. Pour une autre mondialisation. 2.ed. revue et augmentée. Paris: LGDJ, 2010.

______. Les droits de l’homme face à la complexité: une approche anthropologique et dynamique. Droit et Société, Paris, n. 51/52, p. 455-486, 2002.

______. Para uma teoria jurídica intercultural: o desafio dialógico. Revista Direito e Democracia, Canoas, v. 3, n. 2, p. 489-530, jul.-dez. 2002.

GEERTZ, Clifford. The interpretation of cultures. New York: Basic Books, 1973.

______. Local knowledge: further essays in interpretive anthropology. New York: Basic Books, 1983.

GLUCKMAN, Max. The judicial process among the Barotse of Northern Rhodesia (Zambia). 2. ed. Manchester: Manchester University Press, 1973.

______. Obrigação e dívida. In: DAVIS, Shelton H. (Org.). Antropologia do direito: estudo comparativo de categorias de dívida e contrato. Tradução de Vera Maria Cândido Pereira. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. p. 25-56.

HART, Herbert L. A. The concept of law. 2. ed. Oxford: Clarendon Press, 1994.

HEMMING, John. Die if you must. Brazilian Indians in the Twentieth Century. London: Macmillan, 2003.

HOEBEL, Edward Adamson. The law of primitive man: a study in comparative legal dynamics. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2006.

JOURDAIN, Anne; NAULIN, Sidonie. La théorie de Pierre Bourdieu et ses usages sociologiques. Paris: Armand Colin, 2011.

KROTZ, Esteban. Sociedades, conflictos, cultura y derecho desde una perspectiva antropológica. In: ______ (Ed.). Antropología jurídica: perspectivas socioculturales en el estudio del derecho. Rubí (Barcelona): Anthropos Editorial; México: Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa, 2002. p. 13-49.

LE ROY, Étienne. Les appropriations de terres à grande échelle et les politiques foncières au regard de la mondialisation d’un droit en crise. Droit et Société, Paris, n. 89, p. 193-206, 2015.

______. Autonomie du droit, hétéronomie de la juridicité. In: SACCO, Rodolfo (Ed.). Le nuove ambizioni del sapere del giurista: antropologia giuridica e traduttologia giuridica. Roma: Accademia Nazionale dei Lincei, 2009. p. 99-133.

______. Les fondements de la socialisation juridique, entre droit et juridicité. In: Cahiers d’anthropologie du droit 2010. Pratiques citoyennes de droit. Paris: Karthala, 2011. p. 169-192.

LE ROY, Étienne. J. L. Comaroff and S. Roberts. Rules and processes. The cultural logic of dispute in an African context. Chicago and London, University of Chicago Press, 1981 – Book Review. The Journal of Legal Pluralism and Unofficial Law, London, v. 15, n. 21, p. 155-166, 1983.

______. Le jeu des lois. Une anthropologie “dynamique” du Droit. Paris: LGDJ, 1999.

______. Juristique et anthropologie: Un pari sur l’avenir. The Journal of Legal Pluralism and Unofficial Law, London, v. 22, n. 29, p. 5-21, 1990.

______. L’anthropologie juridique anglo-saxonne et l’héritage scientifique de Max Gluckman: un point de vue français. The Journal of Legal Pluralism and Unofficial Law, London, v. 11, n. 17, p. 53-70, 1979.

______. Place de la juridicité dans la médiation. Jurisprudence – Revue Critique, Chambéry, n. 4 (La médiation. Entre renouvellement de l’offre de justice et droit), p. 193-208, 2013.

______. Pour une anthropologie de la juridicité. Cahiers d’Anthropologie du droit 2004. Anthropologie et droit – intersections et confrontations. Paris: Karthala, 2004. p. 241-247.

______. La terre de l’autre. Une anthropologie des régimes d’appropriation foncière. Paris: LGDJ, 2011.

______. Le tripode juridique. Variations anthropologiques sur un thème de flexible droit. L’Année Sociologique, Paris, n. 2, v. 57, p. 341-351, 2007.

LEBARON, Frédéric. Le métier de sociologue. Préalables épistémologiques. In: LEBARON, Frédéric; MAUGER, Gérard (Dir.). Lectures de Bourdieu. Paris: Ellipses, 2012. p. 111-121.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Race et histoire. Paris: Denoël, 1987.

LIMA, Roberto Kant de. Por uma antropologia do direito, no Brasil. In: ______. Ensaios de antropologia e de direito: acesso à justiça e processos institucionais de administração de conflitos e produção da verdade em uma perspectiva comparada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 1-38.

______; VARELLA, Alex. Saber jurídico e direito à diferença no Brasil: questões de teoria e método em uma perspectiva comparativa. In: LIMA, Roberto Kant de. Ensaios de antropologia e de direito: acesso à justiça e processos institucionais de administração de conflitos e produção da verdade em uma perspectiva comparada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 89-126.

LOSANO, Mario G. Os grandes sistemas jurídicos: introdução aos sistemas jurídicos europeus e extra-europeus. Tradução de Marcela Varejão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

LUHMANN, Niklas. Das Recht der Gesellschaft. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1993. (Tradução inglesa: Law as a social system. Oxford: Oxford University Press, 2004; Tradução espanhola: El derecho de la sociedad. México: Universidad Iberoamericana, 2002).

MAINE, Henry James Sumner. Ancient law, its connection with the early history of society, and its relation to modern ideas. Tucson, Arizona: The University of Arizona Press, 1986.

MAINE, Henry James Sumner. Lectures on the early history of institutions. 6. ed. London: John Murray, 1898.

MALINOWSKI, Bronislaw. Crime and custom in savage society. 7. ed. London: Routledge & Kegan Paul, 1961.

MOORE, Sally Falk. Certainties undone: fifty turbulent years of legal anthropology, 1949-1999. The Journal of the Royal Anthropological Institute, London, v. 7, n. 1, p. 95-116, Mar. 2001.

______. Law and anthropology: a reader. Malden/USA: Blackwell, 2005.

______. Law as process. An anthropological approach. Hamburg: LIT, 2000.

NADER, Laura. The anthropological study of law. American Anthropologist, Arlington, v. 67, n. 6, p. 3-32, Dec. 1965.

______. Introduction. In: NADER, Laura (Ed.). Law in culture and society. Berkeley, California: University of California Press, 1997. p. 1-10.

______. The life of the law: anthropological projects. Berkeley: University of California Press, 2002.

______; MATTEI, Ugo. Plunder: when the rule of law is illegal. Oxford: Blackwell Publishing, 2008.

NICOLAU, Gilda; PIGNARRE, Geneviève; LAFARGUE, Régis. Ethnologie juridique: autour de trois exercices. Paris: Dalloz, 2007.

OLIVEIRA, Luís Roberto Cardoso de. A dimensão simbólica dos direitos e a análise de conflitos. Revista de Antropologia da USP, São Paulo, v. 53, n. 2, p. 451-473, jul.-dez. 2010.

______. Direito legal e insulto moral: dilemas da cidadania no Brasil, Quebec e EUA. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

______. Moral e ética. In: SOUZA LIMA, Antonio Carlos de (Coord.). Antropologia & Direito: temas antropológicos para estudos jurídicos. Brasília/Rio de Janeiro/Blumenau: Associação Brasileira de Antropologia/Laced/Nova Letra, 2012. p. 94-102.

PEÑA, Guillermo de la. Costumbre, ley y procesos judiciales en la antropología clásica: apuntes introductorios. In: KROTZ, Esteban. (Ed.) Antropología jurídica: perspectivas socioculturales en el estudio del derecho. Rubí (Barcelona): Anthropos Editorial; México: Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa, 2002. p. 51-68.

RADCLIFFE-BROWN, Alfred Reginald. The comparative method in social anthropology. In: KUPER, Adam (Ed.). The social anthropology of Radcliffe-Brown. London: Routledge & Kegan Paul, 1977. p. 53-68.

______. Structure and function in primitive society: essays and addresses. London: Cohen & West, 1952.

ROBERTS, Simon. Against legal pluralism. Some reflections on the contemporary enlargement of the legal domain. The Journal of Legal Pluralism, London, v. 30, n. 42, p. 95-106, 1998.

ROULAND, Norbert. Anthropologie juridique. Paris: Presses Universitaires de France, 1988.

______. L’anthropologie juridique. 2. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1995. (Que Saisje?)

______. Nos confins do direito: antropologia jurídica da modernidade. Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

SACCO, Rodolfo. Antropologia jurídica: contribuição para uma macro-história do direito. Tradução de Carlo Alberto Dastoli. São Paulo: Martins Fontes, 2013.

SAHLINS, Marshall David. Esperando Foucault, ainda. Tradução de Marcela Coelho de Souza e Eduardo Viveiros de Castro. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de Rosana Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SHIRLEY, Robert Weaver. Antropologia jurídica. São Paulo: Saraiva, 1987.

SIERRA, María Teresa; CHENAUT, Victoria. Los debates recientes y actuales en la antropología jurídica: las corrientes anglosajonas. In: KROTZ, Esteban (Ed.). Antropología jurídica: perspectivas socioculturales en el estudio del derecho. Rubí (Barcelona): Anthropos Editorial; México: Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa, 2002. p. 113-170.

TODOROV, Tzvetan. Nous et les autres. La réflexion française sur la diversité humaine. Paris: Éditions du Seuil, 1989.

TREVIÑO, A. Javier. The sociology of law: classical and contemporary perspectives. New Jersey: Transaction Publishers, 2008.

VACHON, Robert. L’Etude du pluralisme juridique: une approche diatopique et dialogale. The Journal of Legal Pluralism and Unofficial Law, London, v. 22, n. 29, p. 163-173, January 1990.

VANDERLINDEN, Jacques. Anthropologie juridique. Paris: Dalloz, 1996.

VILLAS BÔAS FILHO, Orlando. Ancient law: um clássico revisitado 150 anos depois. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 106/107, p. 527-562, jan.-dez. 2011/2012.

______. A constituição do campo de análise e da pesquisa da antropologia jurídica. Prisma Jurídico, São Paulo, v. 6, p. 333-349, 2007.

______. A construção do campo indigenista no Brasil. In: VILLAS BÔAS FILHO, Orlando (Org.). Orlando Villas Bôas e a construção do indigenismo no Brasil. São Paulo: Editora Mackenzie, 2014. p. 153-154.

VILLAS BÔAS FILHO, Orlando. Os direitos indígenas no Brasil contemporâneo. In: BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. História do direito brasileiro: leituras da ordem jurídica nacional. São Paulo: Atlas, 2003. p. 279-293.

______. História, direito e a política indigenista brasileira no século XX. In: VILLAS BÔAS FILHO, Orlando (Org.). Orlando Villas Bôas: expedições, reflexões e registros. São Paulo: Metalivros, 2006. p. 32-101.

______. Juridicidade: uma crítica à monolatria jurídica como obstáculo epistemológico. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 109, p. 281-325, jan.-dez. 2014.

Downloads

Publicado

2016-05-20

Edição

Seção

Trabalhos Acadêmicos

Como Citar

A questão da universalidade das categorias jurídicas ocidentais a partir da abordagem antropológica: nota sobre a discussão entre Max Gluckman e Paul Bohannan. (2016). Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, 110, 277-318. https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/115494