Responsabilidade por evicção e vícios ocultos no direito romano da compra e venda: stipulatio simplae e exclusão da redibição

Autores

  • André Nunes Conti Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2318-8235.v114p763-789

Palavras-chave:

Direito Romano, Compra e venda, Responsabilidade do vendedor, Evicção, Vícios ocultos, Venditio simplaria

Resumo

O Direito Romano clássico já conhecia a distinção ainda hoje relevante entre as duas principais modalidades de responsabilidade do vendedor: por evicção e por vícios ocultos. Sabe-se que elas tinham fundamentos diversos e seguiam cada uma sua lógica própria. Enquanto a responsabilidade por evicção decorria da celebração de uma stipulatio especificamente para esse fim, a responsabilidade por vícios ocultos estava prevista no Edito dos Edis Curuis para a regulação do mercado, materializando-se nas ações redhibitoria e quanti minoris. Contudo, esses dois planos parecem entrecruzar-se no curioso fragmento D. 21, 1, 48, 8 de Pompônio, o qual, contrariamente ao que ainda sugere a interpretação majoritária, aparentemente contém uma hipótese de interligação entre os dois âmbitos de responsabilidade do vendedor. Segundo ele, caso reduzida a responsabilidade por evicção (i.e. quando celebrada a stipulatio simplae no lugar da habitual duplae, configurando-se desse modo a assim chamada “venditio simplaria”), o silêncio das partes quanto à responsabilidade por vícios ocultos faria presumir sua exclusão. Essa leitura do fragmento encontra arrimo não apenas numa análise gramatical de seu texto (focalizada no interessante vocábulo “simplaria”, palavra que não ocorre em absolutamente nenhum outro texto latino), mas também em diversas fontes jurídicas relacionadas com o tema, das quais se destaca o papiro egípcio P. Cair. Preis. 1, em que a presunção contida no fragmento de Pompônio parece ser usada como argumento de um advogado num caso real.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • André Nunes Conti, Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito

    Estudante na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, com Zertifikatsstudium pela Ludwig-Maximilians-Universität München (LMU), e cursando Licence en Droit pela Université Lyon III.

Referências

ACCURSIUS. Magna Glosa. Lugduni: [s. n.], 1627. v. 1.

ANKUM, Hans. Gaius en Paulus, vertaald door J. E. Spruiten Κ. E. M. Bongenaar. Zeitschrift der Savigny-Stiftung für Rechtsgeschichte: Romanistische Abteilung, Österreich, v. 106, n. 1, p. 626-632, 1989.

BUDÉ, Guillaume. Annotationes Gulielmi Budaei Parisiẽsis, secretarii regii, in quatuor et viginti Pandectarum libros. Pariisis: Imprimebat Michaël Vascosanus, 1543.

D’ORS, Álvaro. El digesto de Justiniano. Pamplona: Aranzadi, 1972. v. 2.

DERNBURG, Heinrich; SOKOLOWSKI, Paul von. System des römischen rechts. Berlin: Müller, 1912.

DONADIO, Nunzia. La tutela del compratore tra actiones aediliciae e actio empti. Milano: Giuffrè, 2004.

DONELLUS, Hugo. Commentariorum iure civili, 13, 3, 5. In: ______. Opera omnia. Florenz: [s. n.], 1861.

ERNST, Wolfgang. Neues zur sachmängelhaftung aufgrund des Ädilenedikts. Zeitschrift der Savigny-Stiftung für Rechtsgeschichte: Romanistische Abteilung, Österreich, v. 116, n. 1, p. 208-221, 1999.

FORCELLINI, Egidio. Totius latinitatis lexicon. Oxford: Oxford University Press, 1835. v. 4.

GEORGES, Karl Ernst. Ausführliches lateinisch-deutsches handwörterbuch. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1998. v. 2.

GILLIAM, James Frank. The sale of a slave through a Greek ‘diploma’. The Journal of Juristic Papyrology, Warsaw, v. 16-17, p. 63-70, 1971.

GLARE, Peter G. W. (ed.). Oxford latin dictionary. Oxford: The Clarendom Press, 1945. v. 2.

GLÜCK, Christian Friedrich von. Ausführliche erläuterung der pandecten nach Hellfeld: ein kommentar. Erlangen: Palm & Enke, 1819. v. 20, s. 1.

HONSELL, Heinrich. Von den ädilizischen rechtsbehelfen zum modernen sachmängelrecht. In: NÖRR, Dieter; SIMON, Dieter. Gedächtnisschrift für Wolfgang Kunkel. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1984.

HONSELL, Heinrich; MAYER-MALY, Theo; SELB, Walter. Römisches recht. Berlin-Heidelberg: Springer, 1987.

HULOT, Henri. Les cinquante livres du Digeste ou des Pandectes de l’empereur Justinien. Metz: Behmer et Lamort, 1804. v. 3.

IMPALLOMENI, Giambattista. L’editto degli edili curuli. Padova: Cedam, 1955.

JAKAB, Éva. Cavere und haftung für sachmängel: zehn argumente gegen Berthold Kupisch. In: JAKAB, Éva; ERNST, Wolfgang (org.). Kaufen nach römischem recht: antikes erbe in den europäischen Kaufrechtsordnungen. Berlin: Springer, 2009.

JAKAB, Éva. Praedicere und cavere beim Marktkauf: Sachmängel im griechischen und römischen Recht. München: Beck, 1997.

JAKAB, Éva. Prozess um eine entlaufene sklavin (P. Cair. Preis. 1): vertrag in der provinzialen rechtskultur. Zeitschrift der Savigny-Stiftung für Rechtsgeschichte: Romanistische Abteilung, Österreich, v. 135, n. 1, p. 474-526, 2018.

KASER, Max; KNÜTEL, Rolf; LOHSSE, Sebastian. Römisches privatrecht. 21. ed. München: Beck, 2017.

KUPISCH, Berthold. Römische sachmängelhaftung: ein beispiel für die ‘ökonomische analyse des rechts’? Legal History Review (Tijdschrift voor Rechtsgeschiedenis), v. 70, p. 21-54, 2002.

LENEL, Otto. Palingenesia iuris civilis. Leipzig: Tauchnitz, 1889. v. 2.

LEWALD, Hans. Eine synchoresis aus der zeit des Commodus: Papyrus Rainer G. 25 817. In: Festschrift für Arangio-Ruiz, Neapel: Dott. Eugenio Jovene, 1953. v. 3.

MEMMER, Michael. Der „schöne Kauf“ des „guten Sklaven“. Zeitschrift der Savigny-Stiftung für Rechtsgeschichte: Romanistische Abteilung, Österreich, v. 107, n. 1, p. 1-45, 1990.

MEYER, Paul Martin. Neue juristische Papyrus-Urkunden und Literatur. Zeitschrift für Vergleichende Rechtswissenschaft, Stuttgart-Feuerbach, v. 39, p. 220-282, 1921.

MITTEIS, Ludwig. Grundzüge und Chrestomathie der Papyruskunde. Leipzig: B. G. Teubner, 1912.

PARTSCH, Joseph. P. Freib. II. Heidelberg: [s. n.], 1916.

PRINGSHEIM, Fritz. The greek law of sale. Weimar: H. Böhlaus, 1950.

RABEL, Ernst. Grundzüge des römischen privatrechts. 2. ed. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1955.

SALOMONS, Robert Paul. P. Cair. Preis. (2). Bruxelles: Association égyptologique Reine Elisabeth, 2014.

SCHIPANI, Sandro (dir.). Iustiniani Augusti Digesta seu Pandectae: testo e traduzione. Milano: Giuffrè, 2011. v. 4.

SELB, Walter; KAUFHOLD, Hubert. Das syrisch-römisches rechtsbuch. Wien: Österreichischen Akademie der Wissenschaften, 2002. v. 1.

URBANIK, Jakub. P. Cairo Masp. I 67120 recto and the liability for latent defects in the late antique slaves sales: or back to ‘epaphe’. The Journal of Juristic Papyrology, Warsaw, v. 40, p. 219-247, 2010.

VIGNALI, Giovanni. Corpo del diritto: Digesto. Napoli: Pezzuti, 1857. v. 3.

WATSON, Alan. The digest of justinian. Philadelphia: University of Pennsylvania, 1985. v. 2.

WEIß, Egon. Peregrinische manzipationsakte. Zeitschrift der Savigny-Stiftung für Rechtsgeschichte: Romanistische Abteilung, Österreich, v. 37, n. 1, p. 136-176, 1916.

WENGER, Leopold. Die quellen des römischen rechts. Wien: A. Holzhausen, 1953.

WINDSCHEID, Bernhard; KIPP, Theodor. Lehrbuch des Pandektenrechts. Frankfurt am Main: Rütten & Loening, 1906. v. 2.

WOLFF, Hans Julius. Das recht der griechischen papyri Ägyptens in der zeit der Ptolomäer und des prinzipats. München: C.H. Beck, 2002.

Downloads

Publicado

2019-10-26

Edição

Seção

Trabalhos Acadêmicos de Graduação

Como Citar

Responsabilidade por evicção e vícios ocultos no direito romano da compra e venda: stipulatio simplae e exclusão da redibição. (2019). Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, 114, 763-789. https://doi.org/10.11606/issn.2318-8235.v114p763-789