Estratégias para editores a fim de alcançar as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030

Resumo

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável adotada por todos os Estados-Membros das Nações Unidas em 2015 representa potencialmente paz e prosperidade para as pessoas e para o planeta, no presente e no futuro. Seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que incluem 169 metas, são amplos e ambiciosos, além de interdependentes, abrangendo temas de desenvolvimento social e econômico, igualdade de gênero, água e saneamento, energia, urbanização, meio ambiente e justiça social, entre outros⁽(¹)⁾.

Em setembro de 2023, líderes mundiais se reunirão em Nova York para tentar encontrar um plano de emergência, uma vez que previsões apontam que a meio caminho do prazo para atingi-los, nenhum dos objetivos e apenas 12% das metas serão alcançados⁽(²)⁾. A falha em atingir as metas dos ODS não é por falta de tentativas. Pesquisadores em todo o mundo têm alinhado seu trabalho aos ODS, juntamente com esforços globais como convenções das Nações Unidas sobre mudanças climáticas e perda de biodiversidade. Infelizmente, a geopolítica mundial fraturada vem limitando a cooperação internacional, assim como a coordenação por meio de tópicos e disciplinas.

Ademais, há relações potencialmente conflitantes entre os ODS, pois ações que poderiam favorecer um dos objetivos, por vezes têm efeitos negativos em outros. Por exemplo, ações para desenvolver fontes alternativas de energia (ODS 7) para reduzir as mudanças climáticas (ODS 13) podem ter um efeito negativo na biodiversidade local (ODSs 14 e 15) por meio da construção e operação de usinas solares e eólicas. Por mais que o financiamento de fontes fósseis para geração de energia possa gerar empregos e promover o crescimento econômico (ODS 8), estas fontes têm um impacto negativo na saúde e no bem-estar (ODS 3).

A cada quatro anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) encomenda um Relatório de Desenvolvimento Sustentável Global a assessores científicos independentes, que serve para apontar onde os ODS estão falhando e o que pode ser feito para resgatá-los. Esses documentos reiteram a necessidade de mudanças transformacionais para recolocar o planeta em um caminho sustentável.

O Informe de 2019 organizou a implementação dos 17 ODS em seis “transformações” e estabeleceu premissas básicas para alcançá-las. Os seis eixos são (1) Educação, gênero e iniquidades; (2) Saúde, bem-estar e demografia; (3) Descarbonização da energia e indústria sustentável; (4) Alimentação sustentável, água, terra e oceanos; (5) Cidades e comunidades sustentáveis; e (6) Transformação digital e desenvolvimento sustentável⁽(³)⁾. Cada transformação descreve uma grande mudança na organização das atividades sociais, políticas e econômicas que transforma o uso de recursos, o papel das instituições, tecnologias e relações sociais para alcançar os principais resultados dos ODS. “O informe (de 2019) mostra claramente que tais transformações são possíveis e que há conhecimento suficiente para começar. No entanto, precisamos superar a lacuna entre o que sabemos e o que está sendo feito. Acreditamos fortemente que as evidências científicas devem contribuir para desencadear os debates sociais e políticos sobre as difíceis escolhas que precisam ser feitas e para a formulação de políticas efetivas para operar as necessárias transformações.”⁽(⁴)⁾ (tradução livre do original em inglês).

O informe (em preparação) de 2023 aponta que o caminho para a sustentabilidade deve obrigatoriamente incluir a eliminação de práticas insustentáveis, mesmo considerando o custo social e econômico resultante. Por exemplo, desenvolver fontes de energia limpa não é suficiente se os combustíveis fósseis não forem progressivamente descontinuados. As transformações necessárias requerem elevados recursos financeiros, exigindo investimentos públicos e privados da ordem de US$ 2,5 trilhões até 2030. No entanto, não são necessários apenas recursos financeiros para que os esforços sejam bem-sucedidos. Novas formas de governança devem ser adotadas, com a criação de novas instituições e reforma das antigas, priorizando a sustentabilidade. Ademais, as pessoas envolvidas devem estar dotadas com os recursos e habilidades adequadas para operar as mudanças, e isso será especialmente importante nos países de baixa e média renda.

Os esforços para atingir as metas dos ODS já operaram transformações em nível mundial na forma como a ciência é feita, que se torna cada vez mais equitativa e inclusiva, abertamente compartilhada, confiável e socialmente robusta, ou seja, responsiva ao contexto e às necessidades sociais. O conhecimento precisa ser cada vez mais acessível, não apenas à comunidade científica, mas também à sociedade. Um estudo independente da ONU publicado em 2021 mostra que a ciência dos países de baixa e média renda já está muito mais alinhada com os ODS e que estes países publicaram um volume muito maior de pesquisas relacionadas aos ODS do que os países de alta renda⁽(⁵)⁾.

A publicação científica desempenha um papel crucial na consecução dos ODS, facilitando a divulgação de resultados de pesquisas, promovendo práticas baseadas em evidências e promovendo colaborações entre instituições e países. Em particular, os ODS relacionados à saúde e ao bem-estar podem se beneficiar por meio de:

1. Amplo compartilhamento de resultados de pesquisa e conhecimento. A divulgação dos resultados de pesquisa a toda a sociedade desempenha um papel vital no avanço da compreensão das questões de saúde, promovendo práticas baseadas em evidências e informando a formulação de políticas públicas.

2. Melhorar o acesso à informação por meio da publicação em acesso aberto facilita a implementação de intervenções baseadas em evidências e promove o autocuidado.

3. Enfrentamento de desafios globais de saúde. Ao priorizar a publicação de pesquisas que abordam desafios de saúde como doenças infecciosas, saúde materno-infantil, doenças não transmissíveis e saúde ambiental, os editores científicos contribuem diretamente para alcançar os ODS relacionados à saúde.

4. Encorajar a colaboração interdisciplinar entre pesquisadores pode levar a soluções inovadoras para questões complexas de saúde e promover abordagens abrangentes para alcançar os ODS relacionados à saúde.

5. Monitorar o progresso e avaliação das intervenções. A publicação científica permite que pesquisadores publiquem estudos que avaliem a eficácia das intervenções, analisem o progresso para alcançar metas específicas de saúde e identifiquem lacunas nas abordagens adotadas. Este conhecimento permite adaptar estratégias e alocar recursos de forma eficaz.

6. Disseminação de boas práticas. Periódicos científicos publicam pesquisas sobre boas práticas, intervenções bem-sucedidas e lições aprendidas em diferentes regiões e contextos, que podem ser replicadas em outras regiões, acelerando o progresso em direção aos ODS relacionadas à saúde.

7. Envolvimento de stakeholders e comunidades. As publicações incentivam o diálogo envolvendo stakeholders, formuladores de políticas e profissionais de saúde por meio de comentários, avaliação por pares (aberta) e mensagens, permitindo que diferentes vozes contribuam para o discurso e garantindo que as intervenções sejam contextualmente apropriadas e atendam às necessidades das comunidades a que se destinam.

8. Adotar práticas de ciência aberta como publicação em acesso aberto, postar resultados como preprints, disponibilização de dados subjacentes de pesquisa em repositórios de acesso aberto e realizar avaliação por pares aberta amplia a descoberta dos resultados de pesquisa à sociedade como um todo e não apenas aos pesquisadores e profissionais de saúde, ao mesmo tempo que aumentam a confiabilidade e reprodutibilidade da pesquisa.

9. De maneira geral, a publicação científica desempenha um papel vital na promoção do intercâmbio de conhecimentos, na tomada de decisões com base em evidências e na colaboração, premissas cruciais para alcançar os ODS relacionados à saúde.

Para que o mundo possa acelerar a consecução dos ODS até 2030 é preciso que toda a sociedade esteja ciente de seu papel. Está em nossas mãos como cidadãos, pesquisadores, editores científicos, professores e profissionais de saúde contribuir para atingi-los em sua maior parte.