Identificação de demandas psicológicas em pacientes atendidos por interconsulta: divergências na percepção de médicos e psicólogos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.rmrp.2023.188788

Palavras-chave:

Equipe multiprofissional , Comunicação interdisciplinar, Assistência à saúde mental , Hospitalização , Encaminhamento e consulta

Resumo

O adoecimento e a necessidade de internação hospitalar podem implicar em prejuízo psicológico ao paciente. Neste sentido, o trabalho em equipes multiprofissionais configura-se como uma importante ferramenta para oferecer atenção integral à saúde. A interconsulta psicológica se caracteriza por um atendimento breve e focado, solicitado pela equipe responsável pelo cuidado do paciente, no qual o psicólogo propõe condutas em conjunto com a equipe de saúde. O objetivo deste estudo foi comparar as demandas psicológicas identificadas pelo médico no pedido de interconsulta, com as demandas avaliadas pelo psicólogo no primeiro atendimento a pacientes hospitalizados em um hospital universitário de nível terciário. Os dados foram obtidos no prontuário médico, categorizados pelos pesquisadores segundo o método quantitativo-interpretativo e analisados em termos de frequência e porcentagem pelo teste de McNemar e grau de concordância entre os avaliadores pelo Coeficiente de Concordância de Kappa. Cento e quatro pedidos de interconsulta realizados entre março de 2017 e março de 2018 foram avaliados, com predominância de pacientes do sexo feminino (59,8), com mais de 50 anos (63%) e profissionalmente inativos (61,9%). A maioria das solicitações teve origem na clínica médica (80,8%) e em paciente com quadro crônico (52,9%). Os resultados encontrados foram descritos em 11 categorias. Notou-se que houve maior concordância entre os cuidadores no reconhecimento de sintomas emocionais como justificativa de intervenção psicológica, o que encontrou correspondência com a literatura científica disponível. Observaram-se discordâncias na percepção de demandas entre os profissionais, especialmente sobre sofrimento emocional relacionado a dificuldades na compreensão do diagnóstico e/ou tratamento, pouco suporte familiar/social, problemas de adaptação à internação hospitalar e problemas emocionais não relacionados à doença. Conclui-se que a perspectiva multiprofissional é uma estratégia importante para promover atenção integral ao paciente,
tendo a interconsulta como possibilidade efetiva, e que a abordagem do paciente apresenta diferentes perspectivas, vinculadas aos saberes de cada componente da equipe. Destaca-se a necessidade de investir na formação para a identificação e manejo de problemas de ordem emocional, comunicação e bom relacionamento médico-paciente, e observação de aspectos da história individual que possam contribuir para o bom desfecho do tratamento. Também, mostra-se importante que a formação acadêmica instrumentalize os profissionais para o trabalho em equipe multiprofissional, o que requer habilidades de comunicação, sensibilidade e compreensão sobre a complementaridade dos saberes.

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Biografia do Autor

  • Gabriel Ramalho de Jesus, Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, (SP), Brasil

    Graduação em Medicina

  • Renata Tamie Nakao, Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, (SP), Brasil

    Mestrado em Ciências (Psicologia)

  • Mateus Augusto Rodrigues, Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, (SP), Brasil

    Graduação em Medicina

  • Flavia Andressa Farnocchi Marucci-Dalpicolo, Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, (SP), Brasil

    Doutorado em Saúde Mental

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Publicado

2023-11-27

Edição

Seção

Artigo Original

Como Citar

1.
Jesus GR de, Nakao RT, Rodrigues MA, Marucci-Dalpicolo FAF. Identificação de demandas psicológicas em pacientes atendidos por interconsulta: divergências na percepção de médicos e psicólogos. Medicina (Ribeirão Preto) [Internet]. 27º de novembro de 2023 [citado 5º de maio de 2024];56(3):e-188788. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/188788