Território, doenças negligenciadas e ação de agentes comunitários e de combate a endemias

Autores

  • Gabriela Soledad Márdero García Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Fortaleza, CE, Brasil https://orcid.org/0000-0002-0884-4721
  • Eliana Amorim de Souza Universidade Federal da Bahia. Instituto Multidisciplinar em Saúde. Núcleo Epidemiologia e Saúde Coletiva. Vitória da Conquista, BA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9653-3164
  • Vigna Maria de Araújo Universidade Federal da Bahia. Instituto Multidisciplinar em Saúde. Núcleo Epidemiologia e Saúde Coletiva. Vitória da Conquista, BA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-0088-1843
  • Mariana Sousa Santos Macedo Universidade Federal da Bahia. Instituto Multidisciplinar em Saúde. Núcleo Epidemiologia e Saúde Coletiva. Vitória da Conquista, BA, Brasil https://orcid.org/0000-0003-3366-3911
  • Rosélly Mascarenhas Amaral de Andrade Universidade Federal da Bahia. Instituto Multidisciplinar em Saúde. Núcleo Epidemiologia e Saúde Coletiva. Vitória da Conquista, BA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-4441-2029
  • Paulo Rogers da Silva Ferreira Universidade Federal da Bahia. Instituto Multidisciplinar em Saúde. Núcleo Epidemiologia e Saúde Coletiva. Vitória da Conquista, BA, Brasil https://orcid.org/0000-0003-3686-2449
  • Maria Cristina Soares Guimarães Fundação Oswaldo Cruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Laboratório de Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2717-381X
  • José Alexandre Menezes da Silva Netherlands Hanseniasis Relief do Brasil. Fortaleza, CE, Brasil https://orcid.org/0000-0003-4603-978X
  • Alberto Novaes Ramos Júnior Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Fortaleza, CE, Brasil https://orcid.org/0000-0001-7982-1757

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003730

Palavras-chave:

Agentes Comunitários de Saúde, Doença de Chagas, prevenção & controle, Hanseníase prevenção & controle, Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde, Atenção Primária à Saúde

Resumo

OBJETIVO Caracterizar conhecimentos, práticas e experiência profissional de agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de controle de endemias (ACE) sobre hanseníase e doença de Chagas (DC), durante participação em oficina de formação integrada no projeto IntegraDTNs-Bahia. MÉTODOS Estudo de caso descritivo e exploratório, envolvendo comunitários de saúde e agentes de controle de endemias, participantes de oficina de formação sobre o papel compartilhado desses profissionais no processo de vigilância e atenção à saúde. Projeto desenvolvido nos municípios de Anagé, Tremedal e Vitória da Conquista, no Sudoeste do Estado da Bahia, 2019–2020. Aplicou-se instrumento específico prévio com questões relativas a conhecimentos e práticas de vigilância e atenção para hanseníase e doença de Chagas. Análise descritiva dos dados, além de consolidação da análise léxica. RESULTADOS Do total de 135 participantes (107 ACS e 28 ACE), 80,7% deles atuam há pelo menos 12 anos, sem participação prévia em processos de formação conjunta. Apenas 17,9% dos agentes de controle de endemias relataram ter participado de capacitações sobre hanseníase e nenhum informou desenvolver ações específicas de controle da doença. Para a doença de Chagas, 36,4% dos agentes comunitários de saúde participaram de capacitações há mais de uma década, enquanto para 60,7% dos agentes de controle de endemias a última capacitação foi realizada nos últimos cinco anos. O desenvolvimento de ações educativas para a doença de Chagas foi mais frequente para agentes de controle de endemias (64,3%). Quando perguntados sobre formas de reconhecimento das doenças, a palavra “manchas na pele” foi a mais relatada (38 vezes) para hanseníase e, para a doença de Chagas, a palavra “não sei” (17 vezes). CONCLUSÃO Os processos de atuação de agentes comunitários de saúde e agentes de controle de endemias em realidades endêmicas para hanseníase e doença de Chagas no interior da Bahia revelaram-se desintegrados nos territórios. Para essas doenças, reforça-se o distanciamento entre ações de vigilância e de atenção à saúde, inclusive nos processos de capacitação. Reitera-se a importância de ações inovadoras de educação permanentes e integradas para promover de fato mudanças nas práticas.

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Publicado

2022-04-22

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

García, G. S. M. ., Souza, E. A. de ., Araújo, V. M. de ., Macedo, M. S. S., Andrade, R. M. A. de ., Ferreira, P. R. da S., Guimarães, M. C. S. ., Silva, J. A. M. da ., & Ramos Júnior, A. N. . (2022). Território, doenças negligenciadas e ação de agentes comunitários e de combate a endemias. Revista De Saúde Pública, 56, 27. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003730

Dados de financiamento