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Resumo

O segundo número da SANKOFA – Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana é lançado tendo como referência os 120 Anos de Abolição, comemorados neste ano de 2008. Celebra-se, aí, a luta dos brasileiros, em especial, do povo negro brasileiro, contra a desumanização de si e do mundo. Buscando dar a sua contribuição a esta luta, a SANKOFA visa, mais uma vez, congregar e publicizar conhecimentos que unam demandas políticas e produção acadêmica, tendo por referência as experiências negras na África e na Diáspora. Para isto, apresenta uma revista democrática e interdisciplinar, contemplando a diversidade de saberes e abordagens. Inspirados por este ideal, a SANKOFA, a partir deste número, anuncia a criação da seção Ensaios & Debates, que irá reunir textos que discutirão, de forma resumida, temas relevantes no debate público contemporâneo. Para iniciar esta seção, apresenta-se o ensaio de Marina Gusmão de Mendonça, que expõem sua argumentação em favor do sistema de cotas raciais nas Universidades Públicas. Na seção de artigos, a SANKOFA continua a destacar o conhecimento das experiências negras na África e na Diáspora Africana. Focando a África, este número se inicia com o artigo de Frederico Souza de Queiroz Assis, sobre o processo de formação do Estado-Nação no Sudão, entre 1930 e 1956. Trata-se de uma análise informada, em que o autor estuda, a partir da bibliografia especializada e atual, as raízes do conflito entre o Norte e o Sul do referido país africano. Como tal, é um estudo de caso importante para compreender alguns dos dilemas históricos do período pós-colonial em África. Também tratando de África e do estudo da cultura afro-negra, temos o instigante artigo de Irinéia M. Franco dos Santos, que aborda o tema das “Mães Ancestrais” e do poder feminino nas religiões africanas. Por sua capacidade de síntese, em um assunto tão complexo, é um ensaio que tornar-se-á bibliografia para futuras pesquisas e desenvolvimento de práticas educacionais. A ponte entre África e América Afro-latina encontra, neste número, duas análises de interesse público e acadêmico. A primeira é de conexão francesa, no artigo de Arilson S. de Oliveira sobre a identidade nagocêntrica na obra de Roger Bastide, este desbravador de fronteiras. Aí, se coloca uma análise desta visão de Brasil Africano, que Bastide ajudou a tornar clássica por aqui, seja nas ciências sociais, seja nas próprias comunidades de terreiro. A outra, mais sinistra, é tratada na excelente analisada documental de Luciana da Cruz Brito. Em seu artigo, a autora mostra o lugar específico que os africanos ocupavam na legislação baiana do século XIX, construído como uma forma de subalternização que visava separá-los dos negros da terra, escravos ou forros. Também focando a documentação primária, Flávio Thales Ribeiro Francisco dá uma contribuição inovadora para a análise da Imprensa Negra no Brasil, a partir da leitura crítica do jornal O Clarim da Alvorada. Nesta, destaca-se o pioneirismo dos negros paulistas na crítica ao racismo cordial brasileiro, como pode-se observar dos escritos do célebre José Correia Leite, de 1928; algo que, salvo melhor juízo, é agregado de forma inédita pelo autor. Por esta razão fundamental, trata-se de uma contribuição fundamental a bibliografia sobre a temática no Brasil, mostrando como o racismo especificamente brasileiro, que depois será glorificado pela ideologia da “democracia racial”, a partir dos anos 1930, já era alvo de crítica dos negros brasileiros na década de 1920! Termina-se este número com uma entrevista do professor Mamadou Diawara, especial para SANKOFA. Nesta, o antropólogo malinês, radicado na Alemanha, discorre sobre questões centrais acerca da relação entre memória, identidade e conhecimento científico, tendo por foco a experiência negra no Mali e na diáspora. Ademais, apresenta o projeto do qual é diretor, o Point Sud – Centro de Pesquisa sobre o Saber Local – que atua em Bamako, no Mali, visando construir um exemplo concreto que alia excelência acadêmica e conhecimento prático, para a melhoria da vida dos povos. Com este conjunto de artigos e textos, a SANKOFA, em seu segundo número, segue contribuindo para um conhecimento acadêmico responsável e qualificado, que vise o esclarecimento público sobre a temática negra, na África e na Diáspora Africana. Por fim, queremos agradecer publicamente a todos os que contribuíram para a realização de nosso 1o. Curso de Formação, intitulado Debates sobre África, Colonialidade e Construção de Identidades, organizado pelo Núcleo de África, Colonialidade e Cultura Política (NEACP), entre os meses de Outubro e Novembro, no Departamento de História, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo (DH-FFLCH-USP). Agradecemos especialmente ao Professor Wilson do Nascimento Barbosa, que encerrou o evento com a maestria e a coragem que lhe caracterizam. Em breve, esperamos que este seja o espírito de uma nova geração, comprometida com a transformação concreta da realidade social no Brasil e no mundo.

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Publicado

2008-12-06

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