Editorial

Autores

  • O Editor

Resumo

É com orgulho que o NEACP apresenta este décimo primeiro número da Sankofa. Trata-se do IV ano da revista, que continua firme em seu propósito de divulgar, desde uma perspectiva interdisciplinar, a produção acadêmica de qualidade sobre história da África e das diásporas africanas. Este número se inicia com a contribuição de Irinéia M. Franco dos Santos intitulada “A caverna do diabo: o ensaio romântico de Valeriano de Souza e as religiões afro-brasileiras, no séc. XIX”. A partir da análise da obra referida, publicada no jornal O Orbe, em 1884, o artigo apresenta uma reflexão sobre o processo de constituição histórica das religiões afro-brasileiras em Alagoas, no século XIX. Também se problematiza o processo de constituição de uma identidade cultural local, permeada por concepções racistas e de demonização do “Outro”, que tendeu a se intensificar em fins do XIX e no Pós-Abolição. Ademais, o artigo busca estabelecer hipóteses de interpretação sobre a formação dos xangôs em Alagoas. O segundo artigo publicado é de autoria de João Ferreira Dias: “A magia dos negros, revisão histórica e problematização conceitual de ‘religião’ no caso Yorùbá”. Neste ensaio, o autor faz uma crítica conceitual da noção de religião entre os Yorùbás. Para isto, analisa a bibliografia pertinente, citando não apenas os livros mais generalistas sobre as religiões, como os mais específicos que tratam do caso em foco. Sua tese é que o longo discurso histórico em torno de um modelo conceitual de religião é resultado de um “eurocentrismo metodológico”, que se expressaria, nomeadamente, na concessão dicotômica entre “religião” e “magia”. Por fim, o autor reflete sobre o que significaria, então, o termo teologia num contexto africano, conferindo um enquadramento teórico alternativo à observação das religiões africanas. Vale destacar, nesta discussão, sua ênfase no “sistema de Ífá” e no “neo-tradicionalismo” yorùbá, do século XX. Em seguida, trazemos o artigo de Patrício Batsîkama, cujo título é “Leitura antropológica sobre a angolidade”. Aqui, o autor busca ampliar a teorização sobre a “angolanidade”, que usualmente destaca a corrente freyriana do luso-tropicalismo. Para isto, ele faz uma releitura do assunto, baseando-se em farta bibliografia. Desta análise, o autor cria uma tipologia que engloba quatro “angolanidades”: a) “angolanidade apriorística”; b) “angolanidade rizomática”; c) “angolanitude”; d) “angolanidade aposterioristica”. Ademais, o autor busca exemplificar sua teorização, a partir da história recente de Angola. O quarto artigo publicado é o de Danilo Luiz Marques: “Escravidão, quotidiano e gênero na emergente capital alagoana (1849-1888)”. Seguindo a tradição da história social contemporânea, o autor trata da escravidão em Maceió ao longo da segunda metade do século XIX. Para tanto, baseando-se em fontes primárias, ele aborda o quotidiano como local de resistência de escravos e africanos livres perante a hegemonia senhorial. Vale ressaltar, sua ênfase na presença de mulheres negras neste contexto, a partir de sua forte presença na ordem doméstica e no pequeno comércio. Já o artigo de Jacimara Souza Santana, “O branco não tem panela para nos cozer”: eco popular dos movimentos pan-fricano e nacionalista no sul de Moçambique, traz uma imensa contribuição para os estudos da diáspora africana ao colocar em foco as expressões populares do pan-africanismo e do nacionalismo no sul de Moçambique que tiveram um impacto fundamental na luta contra o colonialismo. Santana vai além do discurso de intelectuais para revelar elementos de uma cultura popular que inspirou o sonho de independência dos moçambicanos. Trazemos também a resenha de Flavio Thales Ribeiro Francisco: “Hierarquia racial na era do pós-racialismo norte-americano”. Trata-se de uma análise pormenorizada do livro recente de Michelle Alexander. The New Jim Crow: mass incarceration in the age of colorblindness, 2012. Como observa Flavio T. R. Francisco, o trabalho de M. Alexander mostra que as transformações ocorridas no período posterior ao Movimento pelos Direitos Civis, na década de 1960, não resultaram em uma era pós-racial, mas na reestruturação das hierarquias raciais em um novo contexto. Trata-se de um estudo oportuno que ajuda a esclarecer os eventos recentemente ocorridos nos E.U.A., quando a questão racial voltou aos holofotes da grande imprensa após George Zimmerman, branco de origem latina, ter sido inocentado por “legítima defesa” do assassinato de Trayvon Martin, garoto negro na Flórida. Enfim, fechamos essa edição com a resenha de Elena Peres, “Determinação e persistência na luta dos afro-americanos pelos direitos civis nos Estados Unidos na década de 1960”, com uma análise do livro Ruby Bridges, de autoria da escritora Madeline Donaldson. O obra trata justamente da biografia de Bridges, uma das primeiras crianças negras a ingressarem nas escolas que passaram pelo processo de desegregação no sul dos Estados Unidos. Madeline Donaldson constrói uma narrativa que contempla a trajetória da garota até a vida adulta e introduz o leitor ao universo do ativismo afro-americano no ápice do Movimento pelos Direitos Civis. Saudações e boa leitura!

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Downloads

Publicado

2013-08-06

Edição

Seção

Editorial