EDITORIAL

 

 

Editora Chefe
Profª. Drª. Margarita Antonia Villar Luis

Segundo dados de relatório da Organização Panamericana da Saúde, os transtornos depressivos e de ansiedade, no final da década de noventa, correspondiam a 20% e 30%, respectivamente, das consultas no nível de atenção primária no mundo. Evidenciando a relevância dessa questão, a SMAD neste número aborda essa expressão do sofrimento humano, mostrando a forma como o indivíduo deprimido interpreta essa vivência e também, a importância do profissional escutar sua narrativa, indo além de uma abordagem que busca identificar um quadro patológico com sinais e sintomas específicos. Nesse sentido um dos artigos enfatiza a necessidade do enfermeiro estar apto a reconhecer as manifestações da depressão, a fim de estabelecer uma assistência sistematizada, prevendo os cuidados necessários aos clientes que se encontram nessa condição.

O artigo sobre uso de benzodiazepinicos por mulheres idosas guarda uma relação com esses transtornos, visível através de algumas das concepções que as mesmas elaboram para justificar o consumo do medicamento. Estas se referem às situações sugestivas ou plenamente evidentes, de que já existiu ou ainda está presente esse sofrimento. O artigo delineia ainda, as práticas favorecedoras da prescrição e consequentemente, do consumo dos benzodiazepinicos e a condução das usuárias para um perfil de dependência.

O mesmo relatório da organização citada também menciona as condições de incapacidades adquiridas, devido à dependência de álcool e outras drogas, pois estas alcançaram, dentro da saúde mental do mundo, uma carga de aproximadamente 17%. Sendo essa uma das razões pelas quais está havendo o incentivo à prevenção do uso, principalmente entre os jovens, considerados um grupo de risco.

O artigo sobre o uso de álcool nessa população, realizado no México, identifica uma característica marcante dessa cultura, ao abordar o agrupamento juvenil em bandos. Trata-se de uma estratégia de enfrentamento das adversidades sociais e um contexto onde se desenvolvem muitas de suas possibilidades de lazer. O uso de álcool é uma delas, por isso os jovens pertencentes a esses grupos estão mais vulneráveis à experimentação e à manutenção desse hábito. No artigo este aspecto foi confirmado, pois a influência dos amigos aparece como um forte fator de risco.

O mesmo tema aparece entre estudantes universitárias de enfermagem, indicando que o uso do álcool entre familiares e colegas próximos é bastante freqüente. O presente estudo mostra que a época de início do consumo foi dos 13 aos 20 anos e que o lazer é ainda o motivo mais alegado para beber. Já a prática do tabagismo entre as estudantes de enfermagem mostra índices baixos e o início do consumo dá-se pela curiosidade e pelo próprio desejo de fumar.

Ainda no tema substâncias psicoativas há de se destacar o efeito do alcoolismo parental nos filhos, assunto pouco estudado internacionalmente e muito menos no Brasil. O alerta das autoras chega em boa hora, pois o I levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotropicas no Brasil, realizado por pesquisadores do Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotropicas (CEBRID) em 2001, mostrou uma prevalência de 68,7% de uso na vida de álcool na população total e uma estimativa de dependentes de álcool em torno de 11,2%. Sendo, pois uma droga muito presente no contexto familiar, que pode acarretar repercussões sérias para seus membros, como bem evidenciam os autores do presente artigo.

O artigo que trata da experiência de acompanhamento terapêutico de portador de doença mental, evidência o peso da esquizofrenia para o próprio indivíduo, ainda mais quando não conta com o apoio familiar e institucional. Mostra ainda que a alternativa de abrigar o esquizofrênico em “casa de repouso” pode ser tão limitante e cronificadora para essa pessoa como era o antigo asilo. Nesse trabalho os autores expõem as possibilidades individuais para reabilitação em confronto com a apatia e cristalização do comportamento institucional.

Como o leitor pode constatar a revista continua mantendo um equilíbrio “saudável” entre artigos referentes às questões do âmbito da saúde mental e de temas mais especializados pertencentes ao domínio das substâncias psicoativas. Da mesma forma esperamos continuar mantendo a interdisciplinaridade, incluindo artigos dos vários trabalhadores da saúde e saúde mental.

Boa leitura!

Prof ª. Drª. Margarita Antonia Villar Luis

Editor Chefe