As posições de Newton, Locke e Berkeley sobre a natureza da gravitação

Autores

  • Silvio Seno Chibeni Universidade Estadual de Campinas; Instituto de Filosofia e Ciências Humanas; Departamento de Filosofia

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-31662013000400005

Resumo

Ao defender, nos Princípios matemáticos de filosofia natural, a existência de uma força de gravitação universal, Newton desencadeou uma onda de dúvidas e objeções filosóficas. Suas próprias declarações sobre a natureza da gravitação não são facilmente interpretáveis como formando um conjunto consistente de opiniões. Por um lado, logo após fornecer as três definições de "quantidades de forças centrípetas" (Defs. 6-8), Newton observa que está tratando tais forças "matematicamente", sem se pronunciar sobre sua realidade física. Mas, por outro lado, no Escólio Geral inserido no final da segunda edição do livro, Newton diz que foi capaz de "explicar" vários fenômenos de movimento por meio da força de gravidade - que ele mostrou ser um tipo de força centrípeta -, embora não tivesse ainda conseguido explicar a causa dessa força. Uma interpretação plausível dessas últimas afirmações é que Newton acreditava que pôde inferir, a partir dos fenômenos, a existência da força de gravidade, enquanto agente causal real de certos movimentos, mas que ainda não havia tido sucesso em descobrir a causa dessa causa. O objetivo principal do presente artigo não é aprofundar a análise histórica das declarações de Newton, mas examinar como essa questão se insere no debate mais geral sobre o estatuto epistemológico das hipóteses científicas que transcendem a experiência imediata. Segundo a posição defendida, entre muitos outros, por John Locke, tais hipóteses devem ser interpretadas como tentativas legítimas de descrever aspectos inobserváveis da realidade. Em contraste com isso, no caso específico das hipóteses sobre forças - de gravitação ou quaisquer outras -, George Berkeley argumentou vigorosamente a favor de sua interpretação como meros artifícios teóricos úteis às "demonstrações matemáticas" na ciência da mecânica. Ao longo da análise das vantagens e desvantagens filosóficas dessas posições opostas, indica-se aqui que, embora a interpretação realista pareça fazer mais justiça ao desenvolvimento real da física após os Princípios matemáticos, a interpretação instrumentalista de Berkeley tem o mérito filosófico inegável de representar uma adesão mais firme ao empirismo, que é, de um modo ou de outro, valorizado por ambas as partes envolvidas na disputa sobre a natureza da gravitação.

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Publicado

2013-12-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

As posições de Newton, Locke e Berkeley sobre a natureza da gravitação . (2013). Scientiae Studia, 11(4), 811-839. https://doi.org/10.1590/S1678-31662013000400005