Três lugares para a crise de legitimidade da ciência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2021.187549

Palavras-chave:

Crise da ciência, Utopia libertária, República de Weimar, História da ciência

Resumo

Neste ensaio defende-se a tese de que a “crise de legitimidade” da ciência é um fenômeno para o qual podem existir três lugares: o mundo celestial a que nos conduzem os escritos de autores como José Ortega y Gasset, Karl Jaspers, Johan Huizinga e Edmund Husserl; o mundo dantesco a que nos levam os escritos do filósofo da ciência Paul Feyerabend; e o mundo da realidade terrena a que nos conduzem os escritos de cientistas que reagem a uma situação de aberta hostilidade à ciência. Neste último caso, o termo “crise” não exprime uma desilusão pessoal com a ciência (como nos casos de Ortega y Gasset, Jaspers e Huizinga), nem as idiossincrasias de um sistema filosófico (como no caso de Husserl), nem as consequências funestas de uma bem-intencionada utopia libertária (como no caso de Feyerabend), mas uma redefinição dos caminhos a serem tomados por diferentes disciplinas científicas. Isso aconteceu na Alemanha da República de Weimar, a rigor o único lugar em que já existiu o que pode ser apropriadamente chamado de crise de legitimidade da ciência. 

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Biografia do Autor

  • Renan Springer de Freitas, Universidade Federal de Minas Gerais

    Professor titular de sociologia da UFMG. Seu livro mais recente é Ciladas no caminho do conhecimento sociológico (2020, Ed. UFRJ). Membro do Conselho Editorial do periódico Philosophy of the Social Sciences. 

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Publicado

2021-12-19

Edição

Seção

Dossiê - Legitimação e legitimidades

Como Citar

Freitas, R. S. de. (2021). Três lugares para a crise de legitimidade da ciência. Tempo Social, 33(3), 47-69. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2021.187549