O social entre o céu e o inferno: a antropologia filosófica de Pierre Bourdieu

Autores

  • Gabriel Peters Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0103-20702012000100012

Palavras-chave:

Pierre Bourdieu, Antropologia filosófica, Capital simbólico, Campo, Reconhecimento, Sentido da existência

Resumo

Diversos autores têm chamado a atenção para o fato de que quaisquer estudos sociocientíficos de modalidades específicas de ação e experiência humana em sociedade dependem de alguma espécie de "antropologia filosófica", isto é, de um conjunto de pressupostos gerais acerca "do que é ser um agente humano" (Taylor), sem os quais o próprio diagnóstico da variabilidade histórica e cultural das práticas de atores concretos tornar-se-ia impossível. Bourdieu mostrou-se sensível a esta tese e, sobretudo na fase mais tardia de sua carreira, dedicou-se a explicitar o modo como suas investigações histórico-sociológicas pressupunham e, ao mesmo tempo, contribuíam para a formulação de "uma ideia de 'homem'". O artigo retraça o percurso bourdieusiano em direção a essa antropologia filosófica, partindo de sua sociologia genética do poder simbólico, pensada aqui como uma forma de teoria crítica (latu sensu), para desembocar em um retrato da condição humana em que o reconhecimento ("capital simbólico") aparece como meta existencial fundamental pela qual os indivíduos buscam dar sentido às suas vidas e como fonte da infindável competição simbólica que mantém em movimento a vida social. A visão agonística do universo societário que alimenta seus estudos sociológicos retorna em sua antropologia filosófica sob a forma de uma síntese singular entre a ideia durkheimiana de que "a sociedade é Deus" e a tese sartriana de que "o inferno são os outros".

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Alexander, Jeffrey. (1995), Fin de Siècle social theory: relativism, reduction and the problem of reason. London, Verso.

Aron, Raymond. (2000), As etapas do pensamento sociológico. São Paulo, Martins Fontes.

Assis, Machado de. (2007a), “O espelho: esboço de uma nova teoria da alma humana”. In: gledson, John (org.). 50 contos de Machado de Assis. São Paulo, Companhia das Letras, pp. 154-162.

. (2007b), “O segredo do bonzo”. In: gledson, John (org.). 50 contos de Machado de Assis. São Paulo, Companhia das Letras, pp. 119-125.

Benjamin, Walter. (1987), “Sobre o conceito de história”. In: . Obras escolhidas I: Magia e técnica, arte e política. São Paulo, Brasiliense, pp. 222-232.

Bernstein, Richard. (2002), Radical evil: a philosophical interrogation. Cambridge, Polity Press.

Bourdieu, Pierre. (1977), Outline of a Theory of Practice. Cambridge, Cambridge University Press.

. (1983), Questões de sociologia. Rio de Janeiro, Marco Zero.

. (1984), Distinction: a Social Critique of the Judgement of Taste. London, Routledge.

. (1988), Lições da aula. São Paulo, Ática.

. (1990a), Coisas ditas. São Paulo, Brasiliense.

. (1990b), The Logic of Practice. Stanford, Stanford University Press.

. (1990c), In Other Words. Stanford, Stanford University Press.

. (1996), Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas, Papirus.

. (1999a), A dominação masculina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

. (1999b), Las formas del capital. Lima, Piedra Azul.

. (1999c), “Scattered remarks”. European Journal of Social Theory, 2 (3): 334-340.

. (2000), O campo econômico: a dimensão simbólica da dominação. Campinas, Papirus.

. (2001a), O poder simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

. (2001b), A economia das trocas simbólicas. Introdução, organização e seleção de Sergio Miceli. São Paulo, Perspectiva.

. (2001c), Meditações pascalianas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

. (2002), Interventions, 1961-2002: Science sociale at action politique. Marseille, Agone.

. (coord.). (2003), A miséria do mundo. 5. ed. Petrópolis, Vozes.

Bourdieu, Pierre & Loyola, Maria Andréa. (2002), Pierre Bourdieu entrevistado por Maria Andréa Loyola. Rio de Janeiro, Editora da uerj.

Bourdieu, Pierre & Wacquant, Loic. (1992), An invitation to reflexive sociology. Chicago, University of Chicago Press.

Brubaker, Rogers. (1985), “Rethinking classical theory: the sociological vision of Pierre Bourdieu”. Theory and Society, 14: 745-775, nov.

Calhoun, Craig. (1993), “Habitus, field and capital: the question of historical specificity”. In: calhoun, Craig et al. (orgs.). Bourdieu: critical perspectives. Chicago, Polity Press, pp. 61-88.

Castoriadis, Cornelius. (1982), A instituição imaginária da sociedade. São Paulo, Paz e Terra.

Crossley, Nick. (2001), “The phenomenological habitus and its construction”. Theory and Society, 30 (1): 81-120, fev.

Dimaggio, Paul. (1979), “Review essay: on Pierre Bourdieu”. American Journal of Sociology, 84 (6): 1460-1474, maio.

Dreyfus, Hubert & Rabinow, Paul. (1993), “Can there be a science of existential structure and social meaning?”. In: calhoun, Craig et al. (orgs.). Bourdieu: critical perspectives. Chicago, Polity Press, pp. 35-44.

Dumont, Louis. (1993), O individualismo. São Paulo, Rocco.

. (1997), Homo hierarchicus. São Paulo, Edusp.

. (2000), Homo aequalis. São Paulo, Edusc.

Durkheim, Émile. (1989), As formas elementares da vida religiosa. São Paulo, Paulinas.

Durkheim, Émile & mauss, Marcel. (2000), “Algumas formas primitivas de classificação”. In: rodigues, José Albertino (org.). Durkheim: sociologia. São Paulo, Ática, pp. 183-203 (col. Grandes Cientistas Sociais).

Elias, Norbert. (2000), Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

Epicteto. (2006), A arte de viver. Rio de Janeiro, Sextante.

Geertz, Clifford. (1989), A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, ltc.

Giddens, Anthony. (1982), Profiles and critiques in social theory. Berkeley/Los Angeles, University of California Press.

Habermas, Jürgen. (2000), “Prefácio ao leitor brasileiro”. In: freitag, Barbara & rouanet, Sérgio Paulo (orgs.). Habermas. São Paulo, Ática, pp. 68-73 (col. Grandes Cientistas Sociais).

Hall, Stuart. (2000), “Quem precisa da identidade?”. In: silva, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença. Petrópolis, Vozes.

Harding, Sandra. (1996), “Standpoint epistemology (a feminist version): how social disadvantage creates epistemic advantage”. In: Turner, Stephen. Social theory and sociology: the classics and beyond. Cambridge, Blackwell, pp. 146-160.

Honneth, Axel. (1992), “Integrity and disrespect: principles of a conception of morality based on the theory of recognition”. Political Theory, 20 (2): 187-201, maio.

. (1995), “The fragmented world of symbolic forms: reflections on Pierre Bourdieu’s sociology of culture”. In: . The fragmented world of the social. New York, New York University Press, pp. 184-204.

. (2003), Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo, Editora 34.

Honneth, Axel & Joas, Hans. (1988), Social action and human nature. Cambridge, Cambridge University Press.

Kolakowski, Leszek. (1982), Religion. New York, Oxford University Press.

Merleau-ponty, Maurice. (1999), Fenomenologia da percepção. São Paulo, Martins Fontes.

Merton, Robert. (1968), Social theory and social structure. New York, Free Press.

Miceli, Sergio. (2001), “Introdução: a força do sentido”. In: bourdieu, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Perspectiva, pp. i-lxi.

Mills, Charles Wright. (1975), A imaginação sociológica. Rio de Janeiro, Zahar.

Montaigne, Michel de. (1987a), Ensaios. Brasília, Editora da unb, vol. 2.

. (1987b), Ensaios. Brasília, Editora da unb, vol. 3.

Neiman, Susan. (2002), Evil in modern thought: an alternative history of philosophy. Princeton, Princeton University Press.

Parker, John. (2000), Structuration. Philadelphia, Open University Press.

Peters, Gabriel (2009), “Configurações e reconfigurações na teoria do habitus”. Trabalho apresentado no xiv Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia, gt 29: Teoria Sociológica.

. (2011), “Explicação, compreensão e determinismo na sociologia de Pierre Bourdieu”. Trabalho apresentado no xv Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia, gt 30: Teoria Sociológica. Curitiba (pr), 26-29 jul.

Pinto, Louis. (2000), Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. São Paulo, Editora da Fundação Getulio Vargas.

Sartre, Jean-Paul. (1977), Entre quatro paredes. São Paulo, Abril Cultural.

Schopenhauer. Arthur. (2006), Aforismos para a sabedoria de vida. São Paulo, Martins Fontes.

Swartz, David. (1997), Culture and power: the sociology of Pierre Bourdieu. Chicago, University of Chicago Press.

Taylor, Charles. (1988), “Foreword”. In: Honneth, Axel & Joas, Hans. Social action and human nature. Cambridge, Cambridge University Press, pp. vii-ix.

. (1997), As fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo, Loyola.

Vandenberghe, Frédéric. (2009), A philosophical history of German sociology. London, Routledge.

. (2010), Teoria social realista: um diálogo franco-britânico. Belo Horizonte, Editora da ufmg.

Wacquant, Loic. (1992), “Toward a social praxeology: the structure and logic of Bourdieu’s sociology”. In: Bourdieu, Pierre & Wacquant, Loic. An invitation to reflexive sociology. Chicago, University of Chicago Press, pp. 1-59.

. (2004a), “Pointers on Pierre Bourdieu and democratic politics”. Constellations, 11 (1): 3-15, mar.

. (2004b), “Critical thought as solvent of doxa”. Constellations, 11 (1): 97-101, mar.

. (2004c), “Habitus”. In: zafirovski, Milan (ed.). International enciclopedia of economic sociology. London, Routledge, pp. 315-319.

Weber, Max. (1982), Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.

. (2000), Economia e sociedade. Brasília, Editora da unb, vol. 1.

Downloads

Publicado

2012-01-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Peters, G. (2012). O social entre o céu e o inferno: a antropologia filosófica de Pierre Bourdieu. Tempo Social, 24(1), 229-262. https://doi.org/10.1590/S0103-20702012000100012