Corpos em rebelião e o sofrimento-resistência: adolescentes em conflito com a lei

Autores

  • Maria Cristina G. Vicentin Universidade de São Paulo. Instituto de Psicologia

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0103-20702011000100005

Palavras-chave:

Adolescente autor de ato infracional, Sofrimento, Patologização

Resumo

Neste texto apresentamos duas modalidades de sofrimento experimentadas por adolescentes autores de ato infracional no cumprimento de medida de internação, especialmente quando colocados numa espécie de zona intermediária entre a vida e a morte. Em uma, o sofrimento torna-se ato político numa espécie de rebelião de si. Trata-se de um sofrimento-resistência em que se passa do lugar de vítima ao de testemunha. Na outra, a patologização dos adolescentes fará da experiência de sofrimento e dos corpos em luta atos cada vez mais isolados, individuais e sem potência. Trabalhamos em seguida as duas experiências de sofrimento em sua dimensão ético-política, considerando a presença na realidade brasileira de um cruzamento extremo entre mecanismos de soberania (sociedade autoritária) e de biopoder: fazer viver (os cidadãos) e fazer morrer (os inimigos), um em nome do outro. Sugerimos, por fim, a necessidade de (re)politizar a violência exercida e padecida pelos jovens como forma de desnaturalizar a violência juvenil.

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Publicado

2011-01-01

Edição

Seção

Dossiê - Subjetividade e Cultura: O sofrimento no social

Como Citar

Vicentin, M. C. G. (2011). Corpos em rebelião e o sofrimento-resistência: adolescentes em conflito com a lei . Tempo Social, 23(1), 97-113. https://doi.org/10.1590/S0103-20702011000100005