O crime organizado entre a criminologia e a sociologia: limites interpretativos, possibilidades heurísticas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2020.169687

Palavras-chave:

Crime organizado, Criminologia, Estado, Ilegalismo

Resumo

O artigo problematiza o tratamento teórico e metodológico que o assim chamado crime organizado vem recebendo nas ciências sociais no Brasil. Estabelece uma reflexão articulada com a forma pela qual a criminologia abordou essa questão ao longo de sua história. Aponta algumas características da produção acadêmica nacional sobre o fenômeno, associado principalmente ao tráfico de drogas e aos grupos organizados que se formaram nas prisões. Apresenta uma agenda de pesquisa sobre o crime organizado que indica as potencialidades heurísticas de uma abordagem sociológica que tenha como elemento central o Estado em toda a sua complexidade política, institucional, jurídica, e a transitividade entre o legal e o ilegal como fator diferencial de sua dinâmica, ao propor a noção de “ilegalismo” como um enquadramento analítico para o fenômeno.

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Biografia do Autor

  • Fernando Salla, Universidade de São Paulo

    Pesquisador associado do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP).

  • Alessandra Teixeira, Universidade Federal do ABC

    Professora adjunta da Universidade Federal do ABC. Doutora em sociologia pela USP.

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Publicado

2020-12-11

Edição

Seção

Dossiê - Sociologia e Criminologia: sobreposições, tensões e conflitos

Como Citar

Salla, F., & Teixeira, A. (2020). O crime organizado entre a criminologia e a sociologia: limites interpretativos, possibilidades heurísticas. Tempo Social, 32(3), 147-171. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2020.169687