As condições de possibilidade das ocupações de terra

Autores

  • Lygia Sigaud Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Antropologia do Museu Nacional

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0103-20702005000100011

Palavras-chave:

Ocupações de terra, Movimentos sociais, Questão agrária, Nordeste, África do Sul

Resumo

Ocupar terras e nelas montar acampamentos é, em nossos dias, a forma apropriada para reivindicar a reforma agrária no Brasil e dela se valem as organizações do mundo rural, como o MST e o movimento sindical. O Estado tem conferido legitimidade à pretensão dos movimentos ao desapropriar as terras ocupadas e redistribuí-las. Esse fato recente na história nacional é examinado a partir de pesquisa realizada em Pernambuco, estado com o maior número de ocupações. O foco é a zona das plantações canavieiras, onde há grande concentração de acampamentos. O artigo inscreve as ocupações na história recente da região, mostra o que contribuiu para que se multiplicassem e analisa suas implicações. Ao final é feita uma digressão sobre a África do Sul, onde as ocupações, tidas pelos movimentos sociais como o procedimento adequado para obter do governo a distribuição de terras, não possuem a mesma magnitude. A comparação permite identificar as condições sociais que no caso brasileiro têm favorecido a institucionalização das ocupações e no caso sul-africano as têm obstaculizado.

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Biografia do Autor

  • Lygia Sigaud, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Antropologia do Museu Nacional

    é professora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ, pesquisadora do CNPq e bolsista da Faperj. Publicou livros e artigos sobre o mundo das grandes plantações canavieiras do Nordeste e editou com Benoît de L’Estoile e Federico Neiburg Antropologia, impérios e Estados nacionais.

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Publicado

2005-06-01

Edição

Seção

Análises

Como Citar

Sigaud, L. (2005). As condições de possibilidade das ocupações de terra . Tempo Social, 17(1), 255-280. https://doi.org/10.1590/S0103-20702005000100011