Estado e PCC em meio às tramas do poder arbitrário nas prisões

Autores

  • Camila Caldeira Nunes Dias Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0103-20702011000200009

Palavras-chave:

Prisão, PCC, Arbitrariedade, Poder

Resumo

O objetivo do texto é discutir a normatização do cotidiano prisional, em que práticas punitivas ilegais conformam uma minuciosa penalidade extralegal que fundamenta as relações sociais nas prisões. Nas últimas décadas, em São Paulo, esses estabelecimentos assistem à expansão de uma organização de presos (o PCC) que se constitui como instância reguladora de conflitos, cujo domínio está baseado num discurso de união dos presos diante de um inimigo comum, o Estado. Em resposta, este último utiliza mecanismos punitivos administrativos e extralegais que ferem princípios constitucionais e reforçam o sentimento de injustiça, base sobre a qual o poder do PCC se assenta. As práticas arbitrárias do Estado e do PCC são constitutivas de uma rede de poder que enreda a todos aqueles que são submetidos à pena de prisão.

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Publicado

2011-11-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Dias, C. C. N. (2011). Estado e PCC em meio às tramas do poder arbitrário nas prisões . Tempo Social, 23(2), 213-233. https://doi.org/10.1590/S0103-20702011000200009