A violência da (in)compreensão: notas sobre Foucault, psicanálise e a interpretação da loucura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2022.145263

Palavras-chave:

Loucura, Esquizofrenia, Hermenêutica, Michel Foucault, Apolo e Dionísio

Resumo

A partir de um diálogo com Michel Foucault, o artigo aborda os aspectos analíticos e morais do problema da “compreensibilidade” da loucura. Os aspectos analíticos envolvem saber se a loucura é compreensível ou, pelo menos, quão compreensível ela pode ser tornada a um ponto de vista exterior. Os aspectos morais dizem respeito às atitudes normativas que é legítimo assumir em face de vivências, falas e práticas “loucas”, sobretudo quando estas se mostram opacas, ao menos a um primeiro olhar, diante de esquemas “normais” de  interpretação. Entrecruzando a discussão está uma crítica – de alcance mais geral, porém também aplicável a Foucault – à tendência de certa filosofia, ciência social e psicanálise a negligenciar modalidades “apolíneas” de loucura em prol de suas formas “dionisíacas”, sejam as últimas patologizadas como “regressões” ou celebradas como subversões de dispositivos psíquicos de poder.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Gabriel Peters, Universidade Federal de Pernambuco

    Professor do Departamento de Sociologia da UFPE e autor de dois livros: Percursos na teoria das práticas sociais: Anthony Giddens e Pierre Bourdieu e A ordem social como problema psíquico: do existencialismo sociológico à epistemologia insana. Escreve com frequência no Blog do Labemus – Laboratório de Estudos em Teoria e Mudança Social: https://blogdolabemus.com/.

Referências

Amarante, P. & Nunes, M. de O. (2018), “A reforma psiquiátrica no sus e a luta por uma sociedade sem manicômios”. Ciência & Saúde Coletiva, 23 (6): 2067-2074.

Apa. (2013), Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 5th edition. Washington, DC.

Bataille, Georges. (2016), A experiência interior. São Paulo, Autêntica.

Blanchot, M. (2005), O livro por vir. São Paulo, Martins Fontes, Bourdieu, P. (2005), Esboço de autoanálise. São Paulo, Companhia das Letras.

Derrida, J. (1963), “Cogito et histoire de la folie”. Revue de Métaphysique et de Morale, 68: 460-494.

Derrida, J. (1994), “‘Fazer justiça a Freud’: a história da loucura na era da psicanálise”. In: Roudinesco, E. et al. (org.).

Foucault: leituras da história da loucura. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, pp. 53-107.

Dosse, F. (2007), História do estruturalismo (1): o campo do signo. Bauru, Edusc.

Eribon, D. (2011), Michel Foucault. Paris, Flammarion.

Foucault, M. (1975), Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.

Foucault, M. (1977), O nascimento da clínica. Rio de Janeiro, Forense.

Foucault, M. (1978), História da loucura. São Paulo, Perspectiva.

Foucault, M. (1995), “O sujeito e o poder”. In: Dreyfus, H.; Rabinow, P. Michel Foucault: uma trajetória filosófica para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

Foucault, M. (1996), A ordem do discurso. São Paulo, Loyola.

Foucault, M. (1999), Ditos e escritos iii: Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

Foucault, M. (2000), Ditos e escritos ii: arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

Foucault, M. (2002), Ditos e escritos i: Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

Foucault, M. (2003), Death and the labyrinth. Londres; Nova York, Continuum.

Foucault, M. (2008), A arqueologia do saber. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

Foucault, M. (2013), Ditos e escritos vi: Repensar a política. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

Fraser, N. (1981), “Foucault on modern power: Empirical insights and normative confusions”. Praxis International, l (3): 272-88.

Gauchet, M. & Swain, G. (1999), Madness and democracy. Princeton, nj, Princeton University Press.

Graham, G. (2010), The disordered mind. Londres, Routledge.

Gutting, G. (2002), “Foucault’s philosophy of experience”. Boundary 2, 29 (2): 69-85.

Gutting, G. (2005), “Foucault and the history of madness”. In: Gutting, Gary (Org.). The Cambridge Companion to Foucault. Nova York, Cambridge University Press, pp. 49-73.

Habermas, J. (2000), O discurso filosófico da modernidade. São Paulo, Martins Fontes.

Hacking, I. (2002), Historical ontology. Cambridge, Harvard University Press.

Harvey, David. (2001), Condição pós-moderna. São Paulo, Loyola.

Jay, M. (2005), Songs of experience. Berkeley, University of California Press.

Lemke, T. (2011), “Critique and experience in Foucault”. Theory, Culture & Society, 28 (4): 26-48.

Machado, R. (2000), Foucault, a filosofia e a literatura. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

May, T. (2005), “Foucault’s relation to phenomenology”. In: Gutting, Gary (org.). The Cambridge Companion to Foucault. Nova York, Cambridge University Press, pp. 284-311.

Merquior, J. G. (1987), Foucault. Berkeley; Los Angeles, University of California Press.

Miller, J. (1993), The passion of Michel Foucault. Nova York, Simon & Schuster.

Nietzsche, F. (1992), O nascimento da tragédia. São Paulo, Companhia das Letras.

Peters, G. (2015), Percursos na teoria das práticas sociais: Anthony Giddens e Pierre Bourdieu. São Paulo, Annablume.

Peters, G. (2017), A ordem social como problema psíquico: do existencialismo sociológico à epistemologia insana. São Paulo, Annablume.

Perrusi, Artur. (2010), “A lógica asilar acabou? Uma crítica da crítica à assistência psiquiátrica”. In: Fontes, Breno Augusto & Fonte, Eliane Monteiro (orgs). Desinstitucionalização, redes sociais e saúde mental. Recife, UFPE.

Pitta, A. M. F. (2011), “Um balanço da reforma psiquiátrica brasileira: instituições, atores e políticas”. Ciência & Saúde Coletiva, 16 (12): 4579-4589.

Poster, M. (1989), “Why not to read Foucault”. Critical Review: A Journal of Politics and Society, 3 (1): 155-160.

Rajchman, J. (1985), Michel Foucault: the freedom of philosophy. Nova York, Columbia.

Rose, N. (1999), Governing the Soul. Londres, Free Association Books.

Rouanet, S. P. (1987), As razões do iluminismo. São Paulo, Companhia das Letras.

Sass, L. (1992), Madness and modernism. New York, Basic Books.

Sass, L. (1996), “The catastrophes of heaven: modernism, primitivism and the madness of Antonin Artaud”. Modernism/Modernity, 3: 73-92.

Sass, L. (2014), “Recent French thought at the intersection of culture, subjectivity, and psychopathology”. Philosophy, Psychiatry, & Psychology, 21 (4): 279-284.

Serres, M. (1994), “The geometry of the incommunicable madness”. In: Davidson, A. I. (org.). Foucault and his interlocutors. Chicago; Londres, Chicago University Press, pp. 36-56.

Tausk, V. (1992), “On the origin of the ‘influencing machine’ in schizophrenia”. The Journal of Psychotherapy Practice and Research, 1 (2): 185-206.

Downloads

Publicado

2022-04-16

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Peters, G. (2022). A violência da (in)compreensão: notas sobre Foucault, psicanálise e a interpretação da loucura. Tempo Social, 34(1), 5-30. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2022.145263