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Artigo discute os conceitos de adolescência em diferentes culturas

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP, São Paulo, Brasil

Como se define a adolescência? O artigo da revista Estilos da Clínica discute os diferentes conceitos que definem a palavra, pois seu sentido depende da cultura à qual estivermos nos referindo. Nas palavras dos autores, “a adolescência é uma construção cultural, isto é, de que uma noção de adolescência sempre é tributária do contexto que a define”.

A pergunta inicial precisa, para ser respondida, que se parta da premissa de compreender-se o conceito de adolescência “como um momento de passagem da condição infantil à adulta”, condicionado aos contextos culturais que implicam na relação interdependente entre sujeito e cultura. Os autores relatam reflexões sobre os aspectos históricos e as elaborações de estudiosos do tema, pautadas nas produções culturais para entendimento do conceito de adolescência.

Com o intuito de compreender-se o conceito referido, estabelece-se como critérios de análise a adolescência e seus rituais de iniciação, contexto histórico, discussões sobre a chamada “juventude temida”, a subcultura adolescente e as angústias juvenis. Os autores chamam a atenção para o olhar que normalmente dirigimos para a adolescência, “uma ideia em permanente mutação”, que não se observa em todas a culturas.

Desse modo, não podemos “falar” de adolescência, mas das “várias adolescências que vão sendo construídas por determinadas culturas”. Nesse momento nasce a proposta de investigação, no percurso da história, de estudar-se as raízes do tema e como ele aparece nas sociedades, desde o século 16, em que “o sujeito ocidental passou a deparar-se com a existência de outras culturas”, passando pelo dito boom da adolescência nos EUA da década de 1950.

Muitos autores citados no artigo apontam a relação entre a adolescência e os rituais de iniciação em diversas culturas que mostram o crescimento e seus ritos de passagem, bastante diferentes em suas peculiaridades e características, como entre os Akambas, na África  Oriental britânica, em que “as jovens devem evitar seu pai entre a época da puberdade e seu casamento”.

A adolescência, para a psicanálise, é “essa força seria inerente a todos aqueles que são algo especial, a tudo o que é inquietante e a todas as condições excepcionais – entre elas, a puberdade”. Para algumas culturas, os ritos de passagem, como, no caso em pauta, as mudanças que ocorrem quando se deixa de ser criança, ou seja, quando ela cresce, sinalizam que é o momento de transmitir-se valores tradicionais familiares e, em outras culturas, também é uma época de conceder-se certa independência e responsabilidade ao jovem.

Com o aparecimento da sociedade industrial, a criminalidade e o despertar da sexualidade nos jovens geraram preocupação, segundo médicos e pedagogos, com esse “momento de transição como algo perigoso e pleno de tentações”, portanto passíveis de controle e vigilância.

Os autores destacam que a psicologia considera a transgressão “como uma característica própria dessa fase da vida”, observando-se que a cultura do século 20 pontuou a articulação entre juventude e mudança social na Itália fascista da década de 1920, e, ao longo da década de 1960, os jovens deflagaram a contracultura e lideraram movimentos e lutas por direitos civis.

A adolescência se consolidou como categoria social no século 20, cujos protagonistas, os jovens, ao longo da história, estiveram nas guerras mundiais, participaram de grupos de contestação política, reivindicações sociais e de gênero, momento em que a chamada “subcultura adolescente“retratou uma juventude disposta a criar novos parâmetros que não os já absorvidos pelos adultos.

Para os autores, é importante salientar o pensamento do psicanalista Rodolpho Ruffino:  “a adolescência consiste em uma  experiência tipicamente moderna, decorrente da ausência da mediação simbólica promovida  pelos ritos de passagem”, mostrando  a juventude como categoria social e a adolescência como “operação psíquica”, “ duas faces de uma moeda, cujo valor apenas a  Modernidade seria capaz de reconhecer”.

Concluindo, o artigo traça uma trajetória sobre resultados de produções culturais “que transmitem algo da experiência do adolescer”, trazendo o conceito de adolescência definida e incorporada por diferentes culturas, portanto ressaltando a inexistência de uma adolescência universal ou natural.

Artigo

MORAES, B. R. de; WEINMANN, A. de O. Notas sobre a história da adolescência: transformações e repetições. Estilos da Clínica, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 280-296, 2020. ISSN: 1981-1624. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v25i2p280-296. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/estic/article/view/160346. Acesso em: 18 nov. 2020.

Contatos

Bruna Rabello de Moraes – Psicóloga e mestre pelo Programa Psicanálise:  Clínica e Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. e-mail: brunardem@hotmail.com 

Amadeu de Oliveira Weinmann – Psicanalista e professor associado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.  e-mail: weinmann.amadeu@gmail.com  

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