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Para que a nossa memória coletiva não se perca

livros
Fonte: Laboratório de Conservação Preventiva da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin USP

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP, São Paulo, Brasil

As palavras preservação, salvaguarda e conservação estão interligadas e são indissociáveis quando se pensa em patrimônio e acervo cultural, na defesa da memória em registros de bens que marcam a história da cultura brasileira.

Jayme Spinelli Junior, em seu artigo na Revista BBM, componente do “Dossiê Bibliofilia”, traz-nos “orientações, caminhos e atitudes relativas às questões desta natureza, importantes e vitais nesta era de tantas incertezas”.

O autor nos conta sua trajetória como arqueólogo e pesquisador, trilhando caminhos que o levaram para atuar como conservador e restaurador na área de “papel/livros e documentos”. Como profissional da Coordenadoria de Preservação (COP) da Biblioteca Nacional, o autor relata as mudanças em relação à gestão das grandes coleções documentais públicos e privados em todo o mundo.

Essas mudanças são devidas tanto aos ataques ou desastres que destruíram muitos bens culturais, no Brasil e no mundo, quanto à revolução tecnológica que mostra não haver mais tempo para improvisos e erros, pois “o caminho é a prática dos ensinamentos do que se convencionou chamar de conservação preventiva e reparadora”.

Antes de adentrar-se no campo da preservação de bens culturais, o autor nos remete às primeiras ideias sobre o conceito de patrimônio, do período pós-Revolução Francesa, como um conjunto de bens fundamentais que expressam “uma riqueza moral que expressa as riquezas da nação”. 

A pesquisadora Maria Cecília Londres Fonseca insere, nesse contexto, “a noção de cidadania, na medida em que são identificados, no espaço público, bens que não são de exclusiva posse privada, mas propriedades de os cidadãos a serem utilizadas em nome do interesse público”.

O artigo mostra que, se o livro sempre foi visto como testemunha da informação, memória e fixação do conhecimento, “há sinais claros de que nossa memória coletiva está sendo gradualmente destruída”, muito pela razão da crescente falta de qualidade do papel.

Livros que até hoje estão em ótimo estado de conservação, tidos como livros raros, foram compostos por materiais isentos de substâncias químicas nocivas, entre outras razões. Para a efetivação da conservação preventiva e da conservação reparadora, o autor afirma a necessidade de manutenção das condições físicas, durabilidade dos acervos e dos edifícios, chamando a atenção para o conhecimento sobre o uso das novas técnicas surgidas atualmente para preservação e à salvaguarda do patrimônio cultural. 

Na busca da prevenção da conservação de livros ou documentos, é imprescindível manter-se umidade relativa, a temperatura e a luminosidade adequadas, higienização das áreas destinadas à guarda de acervos, precisão do manuseio de obras, entre outros fatores que garantam “a permanência estética e estrutural do material bibliográfico”. 

A conservação reparadora requer procedimentos técnicos visando à recuperação de alguns livros e documentos deteriorados como gravuras, mapas, partituras musicais, principalmente no que concerne a rasgos, perda de páginas, capas ou lombadas das obras. 

A palavra salvaguarda refere-se a um mal a ser evitado, e por isso salvaguardar é assegurar a ausência de riscos e inferir sobre a previsibilidade de um futuro mais promissor”. Salvaguardar é pôr em ação a estratégia de impedir acidentes físicos ou danos de toda espécie que ameacem coleções, edifícios e mesmo a segurança dos usuários.

No intuito de prevenir e impedir riscos de acidentes e desastres nas instituições culturais, os conservadores-restauradores sugerem a criação de um programa de emergências pautado na elaboração da análise quantitativa“da grandeza dos riscos identificados com vistas à priorização de ações e medidas preventivas” e da análise qualitativa, em que as instituições se empenhem na “elaboração e implantação de um plano eficiente de tratamentos dos  riscos”.

Resumidamente, os agentes de riscos citados no artigo são: explosões nos edifícios, armazenamento inadequado de obras e gravuras; roubo e vandalismos; ação do fogodestruindo coleções, objetos e o próprio edifício; inundações que deformam ou destroem obras; pragas; poluentes; luz e radiações ultravioleta e infravermelha causando descoloração e enfraquecimento de livros e documentos; temperaturas oscilantes; e desaparecimento de uma obra dentro de um acervo. 

Diante de um quadro de proporções limitadas de recursos disponíveis para questões culturais hoje em nossa sociedade, torna-se inexorável nossa compreensão quanto à preservação de nossos bens culturais para as sociedades que virão”, afirma a autora, enfatizando a importância de captação de recursos financeiros pelos dirigentes de instituições culturais e a implantação do chamado “plano de riscos”, com a prevenção de acidentes, sobretudo com água e fogo, os perigos mais comuns, disponibilização de kits de materiais para usos de emergência destinados às equipes de: manutenção e administração, conservadores-restauradores, vigilantes e brigada de incêndio civil.

É fundamental a permanência de ações bem planejadas e executadas para salvar patrimônios culturais arduamente elaborados, criados, construídos e, assim, preservados, visando a prioridade da proteção da vida humana.

Artigo

SPINELLI JUNIOR, Jayme. Patrimônio cultural. Rumos Atuais e Futuros da Conservação: Homenagem à Guita Mindlin. Dossiê Bibliofilia. Revista BBM, São Paulo, n. 2, p. 108-119, 2020. ISSN: 2595-5802. DOI:  https://doi.org/10.11606/issn.2595-5802.v0i2p108-119. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistabbm/article/view/175117. Acesso em: 07 out. 2020.

Contato

Jayme Spinelli Junior -Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, atua como conservador-restaurador de bens culturais e coordenador de preservação da Fundação Biblioteca Nacional.  

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