VIGILÂNCIA SANITÁRIA E ESTRUTURA SOCIAL

Autores

  • J. M. Gomes

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v8i2p139-166

Resumo

Procuramos saber o destino de 171 indivíduos, "contactos" de doentes de lepra, cujas fichas, datando dos anos de 1924 a 1927, guardávamos para pesquisas. Pela sintomatologia que apresentavam, êstes pacientes eram considerados "casos suspeitos": 124 tinham o muco nasal positivo para bacilos ácido-resistentes; em 28, o suco ganglionar também fôra positivo; quase todos, hipertrofia dos gânglios linfáticos e outros sintomas clínicos, e em alguns, a sôro-reação de Gomes fôra positiva (G). Em 1954 levamos essas fichas ao D.P.L., a fim de nos informarmos, nos respectivos arquivos familiares, qual fôra o destino de cada um. O resultado foi o seguinte: Ficaram doentes . . . . 12. Continuaram "contactos sãos" .... 69. Não foram encontrados . . . . 90. Dois fatos interessantes podem-se extrair dêstes números: (a) a taxa pequena de pacientes que passaram à categoria de doentes, quando os indícios eram pesados, e os elementos de defesa, como leprocômios, tratamento, etc., não existiam, uma vez que só em 1927 foi aberto o primeiro hospital especializado. Mais ainda: as causas desencadeantes de um estado infeccioso, como a sub-alimentação, o estado sanitário precário, pouco variaram. (b) As relações existentes entre a fase histórica da Sociedade e as possibilidades da técnica sanitária de vigilância e exames periódicos dos "contactos", dos quais 52,63% não foram encontrados. Traçamos, por alto, o quadro do estado social da cidade de São Paulo, de onde provinham os casos em observação, vendo na penetração súbita da fase industrial, criada pela primeira Grande Guerra, sem a existência simultânea de leis trabalhistas; sem amparo assistencial aos operários, a razão principal da dispersão dos "contactos", que mudavam de residência ao sabor de suas vantagens, sem nada comunicar ao D.P.L. Depois de 1930, com a criação do Ministério do Trabalho e dos Institutos assistenciais de grupos profissionais, já foram possíveis pontos de referência, porque, em vista dos benefícios que os Institutos oferecem ao trabalhador, o intercâmbio entre um e outro é constante. Dêste modo, os exames periódicos podem ser realizados com facilidade, mas, achamos preferível que o sejam pelo próprio corpo clínico dos Institutos, após melhor articulação com o Departamento da Lepra.

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Publicado

1954-12-01

Edição

Seção

Não Definida

Como Citar

VIGILÂNCIA SANITÁRIA E ESTRUTURA SOCIAL. (1954). Arquivos Da Faculdade De Higiene E Saúde Pública Da Universidade De São Paulo, 8(2), 139-166. https://doi.org/10.11606/issn.2358-792X.v8i2p139-166