Entre a herança e a presença: o patrimônio cultural de referência negra no Rio de Janeiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1982-02672020v28d2e50

Palavras-chave:

Pedra do Sal, Monumento a Zumbi, Rio de Janeiro, Políticas de memória e patrimônio, Valor histórico, Herança negra

Resumo

Este artigo analisa ações dirigidas ao reconhecimento da herança negra por meio de políticas de memória e patrimônio durante o primeiro governo do estado do Rio de Janeiro eleito democraticamente nos anos 1980, especialmente o tombamento da Pedra do Sal e a instalação do Monumento a Zumbi. Para compreender essas ações, é feita, inicialmente, uma leitura sobre os modos como as políticas de patrimônio em nível federal foram transformadas no contexto da redemocratização do país e estiveram em diálogo com as políticas implementadas no nível estadual do Rio de Janeiro. Este texto busca perceber os
paradigmas que fundamentam tais narrativas, ao mesmo tempo que transita da macropolítica
ao campo das lutas de memória, como universos entrelaçados. Na segunda parte, analisam-se eventos relacionados à patrimonialização  a herança negra na cidade, nos anos 2000, a
saber, o reconhecimento da Pedra do Sal como quilombo, em 2005, e os títulos de Patrimônio
Mundial atribuídos à cidade pela Unesco, em 2012 e 2017. Busca-se, assim, capturar as representações da cidade patrimonializada e verificar os valores que prevalecem em cada situação, identificando a presença de dois paradigmas que tensionam o campo do patrimônio, aqui chamados de paradigma moderno e paradigma do patrimônio como direito. A noção de valor histórico acionada nas situações analisadas será um dos fios condutores por meio dos quais são estabelecidas conexões analíticas entre os paradigmas de patrimônio, os regimes de historicidade e as percepções de tempo passado e tempo presente.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Márcia Regina Romeiro Chuva, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

    Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com pós-doutorado na Universidade de Coimbra.É pesquisadora do CNPq, professora associada do Departamento de História e do Programa de Pós- -Graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e do Mestrado Profissional em Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

Referências

FONTE MANUSCRITA

ATA da 117ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realizada no dia 18 de novembro de 1985. Arquivo Central do Iphan, Serra da Barriga, Alagoas, processo 1069-T-1982. Rio de Janeiro: Iphan, 1985.

FONTES IMPRESSAS

APROVADO projeto para Monumento a Zumbi dos Palmares. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro,p. 16, 30 out. 1983.

BRIZOLA inaugura Monumento a Zumbi. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 8, 10 nov. 1986.

CYNTRÃO, Rita. Saúde não quer perder sua memória.Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, p. 7, 23 dez. 1984. Seção Comando dos Bairros.

CYNTRÃO, Rita. Saúde ficou doente com longos nos de abandono. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, p. 5, 2 set. 1985. Seção Comando dos Bairros.

DARCY mostra a negro projeto de monumento. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, p. 14, 11 abr. 1986a. Caderno de Negócios.

JOSÉ Miguel quer erguer monumento a Zumbi no Rio. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, p. 14, 17 abr. 1983

LUTHER King: José Miguel representa PDT em Atlanta. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, p. 3, 18 jan. 1986.

PERFEITO, Vera. Morro da Pedra do Sal, um doce pedaço do Rio. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 5, 11 jan. 1985. Caderno Jovem.

SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Saúde: os mistérios e a agonia de um velho bairro carioca. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 7, 14 out. 1984.

LIVROS, ARTIGOS E TESES

BOURDIEU, Pierre. Efeitos de lugar. In: BOURDIEU, Pierre (coord.). Miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 159-214.

BRASIL. Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 7, 11 nov. 2011.

CALABRE, Lia. Políticas culturais no Brasil: dos anos 1930 ao século XXI. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.

CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

CHUVA, Márcia. Os arquitetos da memória: sociogênese das práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2009.

CHUVA, Márcia. Pesquisa: a pesquisa no Iphan: conhecimento, legitimidade e ação política. In: REZENDE, Maria Beatriz; GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (orgs.). Dicionário Iphan de patrimônio cultural. Rio de Janeiro: Copedoc/Iphan, 2014. p. 1-28. Disponível em: <https://bit.ly/2TRXZIK>. Acesso em: 3 nov. 2020.

CHUVA, Márcia. Parque do Flamengo: projetar a cidade, desenhando patrimônio. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 25, n. 3, p. 139-166, 2017a.

CHUVA, Márcia. Possíveis narrativas sobre duas décadas de patrimônio: de 1982-2002. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 35, p. 79-103, 2017b.

CONDURU, Roberto. Das casas às roças: comunidades de candomblé no Rio de Janeiro desde o fim do século XIX. Topoi, Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, p. 178-203, 2010.

DIAS, Welbia Carla. Boletim Sphan/FNPM: um espaço de comunicação do patrimônio cultural. 2012. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 2012.

FARIA, Maria Lucia Borges de. Preservação do patrimônio cultural urbano no “Porto Maravilha”, Rio de Janeiro: disputas e deslocamentos de sentido nas políticas, práticas e instrumentos. 2016. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016.

FERRAZ, Eucanaã. O tombamento de um marco da africanidade carioca: a Pedra do Sal. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 25, p. 335-339, 1997.

FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo. Rio de Janeiro: UFRJ; Brasília, DF: Iphan, 1997.

FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio cultural. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 56-76.

FUNARI, Pedro Paulo A. Os desafios da destruição e conservação do Patrimônio Cultural no Brasil. Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Porto, v. 41, n. 1-2, p. 23-32, 2001.

GREENBLATT, Stephen. O novo historicismo: ressonância e encantamento. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 244-261, 1991.

GRINBERG, Keila. O mundo não é dos espertos: história pública, passados sensíveis, injustiças históricas. História da Historiografia, Mariana, v. 12, n. 31, p. 145-176, 2019.

HARTOG, François. Tempo e patrimônio. Varia História, Belo Horizonte, v. 22, n. 36, p. 261-273, 2006.

HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010: aglomerados subnormais: informações territoriais. Rio de Janeiro: IBGE, 2013.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Sítio Arqueológico Cais do Valongo: proposta de inscrição na Lista do Patrimônio Mundial. Brasília, DF: Iphan, 2016. Disponível em: <https://bit.ly/3oPF93f>. Acesso em: 29 maio 2020.

INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL. Processo de Tombamento E-18/300.048/84: Pedra do Sal, 1984. Rio de Janeiro: Inepac, 1984.

OLIVEIRA, Raul Lanari. O patrimônio por escrito. A política editorial do Serviço do Patrimõnio Histórico e Artístico nacional (1937-1945). Belo Horizonte: Livramento, 2018.

LARA, Silvia Hunold. Zumbi dos Palmares e de todos nós. Centro de Pesquisa em História Social da Cultura, Campinas, 14 maio 2020. Disponível em: https://bit.ly/3oWEb4Y. Acesso em: 3 nov. 2020.

LAVINAS, Laís. Um animal político na cultura brasileira: Aloísio Magalhães e o campo do patrimônio cultural no Brasil (anos 1966-1982). 2014. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

LODI, Cristina Vereza (coord.). Dossiê da candidatura da cidade do Rio de Janeiro a paisagem cultural brasileira. Brasília, DF: Iphan, 2011. Disponível em: <https://bit.ly/3l8rqCp>. Acesso em: 29 maio 2020.

MARINS, Paulo César Garcez. Novos patrimônios, um novo Brasil? Um balanço das políticas patrimoniais federais após a década de 1980. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 57, p. 9-28, 2016.

MATTOS, Hebe; ABREU, Martha. Relatório histórico-antropológico sobre o Quilombo da Pedra do Sal: em torno do samba, do santo e do porto. In: INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. Relatório técnico de identificação e delimitação da comunidade remanescente do Quilombo de Pedra do Sal. Rio de Janeiro: Incra, 2010. p. 12-92.

MATTOS, Hebe; GRINBERG, Keila; ABREU, Martha. Que diferença faz a perspectiva da história pública nos estudos sobre escravidão? In: MAUAD, Ana; SANTHIAGO, Ricardo; BORGES, Viviane (orgs.). Que história pública queremos? São Paulo: Letra e Voz, 2018. p. 229-237.

MOREIRA, Clarissa da Costa. A cidade contemporânea, entre a tabula rasa e a preservação: cenários para o Porto do Rio de Janeiro. São Paulo: Unesp, 2004.

MOTTA, Lia. Patrimônio urbano e memória social: práticas discursivas e seletivas de preservação cultural: 1975 a 1990. 2000. Dissertação (Mestrado em Memória Social e Documento) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.

NASCIMENTO, Flávia Brito do. Patrimônio cultural e escrita da história: a hipótese do documento na prática do Iphan nos anos 1980. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 24, n. 3, p. 121-147, 2016.

NASCIMENTO, Flávia Brito do; MARINS, Paulo Garcez (orgs.). Dossiê: o PCH, Programa de Cidades Históricas: um balanço após 40 anos. Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 24, n. 1, 2016.

PAI RODNEY. Consciência negra é coisa de preto? Carta Capital, São Paulo, 17 nov. 2017. Disponível em: https://bit.ly/389kSzu. Acesso em: 3 nov. 2020.

PAIVA, Marcelo Cardoso de. O Brasil segundo o Iphan: a preservação do patrimônio cultural brasileiro durante a gestão de Gilberto Gil no MinC (2003-2008). 2019. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

RIBEIRO, Adelia Miglievich; MATIAS, Glauber Rabelo. A universidade necessária em Darcy Ribeiro: notas sobre um pensamento utópico. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, v. 42, n. 3, p. 199-205, 2006.

REALI, Miguel. Tombamento e preservação do patrimônio artístico e cultural Parecer. RDA – Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 261, p. 255-266, set./dez. 2012.

REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Rio de Janeiro: Iphan, n. 19, 1984a.

REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Rio de Janeiro: Iphan, n. 20, 1984b.

REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Rio de Janeiro: Iphan, n. 21, 1986.

REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Rio de Janeiro: Iphan, n. 22, 1987.

RIBEIRO, Darcy. A universidade necessária. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Unicamp, 2007.

SANT’ANNA, Márcia. Da cidade-monumento à cidade-documento: a trajetória da norma de preservação de áreas urbanas no Brasil (1937-1990). Salvador: Oiti Editora, 2014.

SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. A modernização autoritária: do golpe militar à redemocratização 1964/1984. In: LINHARES, Maria Yedda (org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

SOARES, Mariza de Carvalho. Nos atalhos da memória: Monumento a Zumbi. In: KNAUSS, Paulo (org.). Cidade vaidosa: imagens urbanas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 7 Letras, 1999. p. 117-135.

THOMPSON, Analucia; LEAL, Cláudia F. Baeta; SORGINE, Juliana; TEIXEIRA, Luciano dos Santos. História e civilização material na Revista do Patrimônio. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 34, p. 167-197, 2012.

VELHO, Gilberto. Antropologia e patrimônio cultural. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 20, p. 37-39, 1984.

VELHO, Gilberto. A grande cidade brasileira: sobre heterogeneidade e diversidade culturais. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 21, p. 49-50, 1986.

VELHO, Gilberto. Patrimônio, negociação e conflito. Mana, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 237-248, 2006.

Downloads

Publicado

2020-11-30

Edição

Seção

ECM/Dossiê: Democracia, Patrimônio e Direitos: a década de 1980 em perspectiva

Dados de financiamento

  • Horizon 2020
    Números do Financiamento Programa Pesquisa e Inovação, acordo n.7770248.

Como Citar

Entre a herança e a presença: o patrimônio cultural de referência negra no Rio de Janeiro. (2020). Anais Do Museu Paulista: História E Cultura Material, 28, 1-30. https://doi.org/10.1590/1982-02672020v28d2e50