Esquecer o passado, pacificar a nação: os sentidos de anistia na Folha de S. Paulo e no Jornal do Brasil (1978-1979)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2318-8855.v11i1p303-330Palavras-chave:
anistia, ditadura-militar, imprensaResumo
Este artigo pretende analisar, de forma comparativa, o conjunto de argumentos e representações que constituem sentidos de anistia nos editoriais e artigos de opinião da Folha de S. Paulo e do Jornal do Brasil, de fev. 1978 a dez. 1979. A análise da documentação partiu de preceitos teórico-metodológicos do campo historiográfico que compreendem a imprensa como um agente ativo na história: que constrói o seu discurso ideológico enquanto se faz como instituição social de representação da opinião pública. Nos editoriais, a FSP defende uma anistia ampla, geral e irrestrita - não a mesma dos CBAs - e o JB, uma restrita e limitada. Embora ambos tenham uma posição politicamente pragmática, a FSP defende um projeto mais amplo. Enquanto a FSP critica tanto o projeto da oposição quanto o do governo, o JB tem um alinhamento quase automático ao segundo. Os artigos de opinião aproximam-se e distanciam-se dos sentidos defendidos por cada linha editorial, mas todos defendem o pragmatismo político moderado em mediação com a ditadura. Em geral, a anistia é vista como medida de esquecimento necessária para a estabilidade institucional, a pacificação e a reconciliação nacional. Os jornais procuraram universalizar seu discurso liberal com o objetivo de se adequar à abertura política e às tensões entre governo e oposições.
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