A lenda do Eldorado: transformações do mito doradista na cartografia da América do Sul
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2318-8855.v11i1p49-81Palavras-chave:
cartografia da América do Sul, Eldorado, maravilhosoResumo
Articulando um complexo repertório maravilhoso que emprestava elementos das mirabilia medievais, o imaginário europeu sobre o Novo Mundo e relatos indígenas, a lenda do Eldorado foi um importante fator de mobilização para a conquista, exploração e colonização da América do Sul desde meados do século XVI. A cidade dourada figurou nos mapas europeus da Amazônia e da Guiana até meados do século XIX como fruto da influência do maravilhoso na mentalidade europeia, transformando-se ao longo da modernidade conforme novas formas de pensamento surgiam. Tendo em vista as considerações de John Brian Harley e Matthew Edney sobre a história da cartografia crítica e o conceito de “cartografia especulativa” trabalhado por Felipe Fernández-Armesto, pretendemos analisar um conjunto de mapas europeus da América do Sul produzidos entre os séculos XVI e XIX e que figuram o Eldorado para identificar possíveis mudanças, permanências e remodelações do mito neste período. Defendemos a tese de que o desenvolvimento do empirismo e do cientificismo não resultou no apagamento do Eldorado no imaginário, mas gerou novas explicações para a lenda que foram retratadas nos mapas, perpetuando as especulações sobre regiões da Amazônia pouco conhecidas pelos europeus.
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