Perder o apetite. A recusa do outro como busca de si mesmo. Exemplos saharianos, japoneses e franceses

Autores

  • Cristina Figueiredo Université de Paris

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v28i1p115-133

Palavras-chave:

isolamento social, anorexia, adolescência, corpo, masculino/feminino

Resumo

Esta reflexão antropológica baseia-se em pesquisas realizadas com jovens de 13 a 25 anos de idade, que permanecem isolados no seu quarto. Sua imobilidade, que não se justifica por nenhuma deficiência física ou psicológica, questiona o lugar do corpo no momento da passagem para a vida adulta. Estes jovens expressam uma ausência de apetite do outro, que vai de mãos dadas com a abstinência sexual forçada pelo seu isolamento. A hipótese é que eles experimentam uma relação com seu corpo, sua identidade sexual - e sua sexualidade - assim como com a alimentação, comparável às adolescentes que sofrem de anorexia nervosa, mas ao contrário. Estes comportamentos questionam as relações de gênero e a distribuição de papéis dentro da família. Com base em entrevistas e observações, tanto em casa como nos centros de cuidados, este artigo mostra que estes corpos adolescentes, tornados invisíveis por confinamento ou magreza extrema, são paradoxalmente uma expressão ostensiva de despossessão de si. Um novo apetite é possível quando surge o desejo de diferenciação e permite-se novos encontros.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Cristina Figueiredo, Université de Paris

    Antropóloga. Professora Doutora em Ciências da Educação, Faculdade de Humanidades e Ciências Sociais, Laboratório EDA, Universidade Paris Cité, França.

Referências

Bloch, M. (2010). Commensalité et empoisonnement. La pensée de midi, 1 (30), 81-89. Doi: https://doi.org/10.3917/lpm.030.0081

Bonnin, Ph. (2000). Dispositifs et rituels du seuil. Une topologie sociale: détour japonais. Communications, 70, 65-92. Doi: https://doi.org/10.3406/comm.2000.2064

Bonte, P. (1994). Manière de dire ou manière de faire. Peut-on parler d’un mariage arabe ? In P. Bonte (Org.), Epouser au plus proche.Inceste, prohibitions et stratégies matrimoniales autour de la Méditerranée (pp. 371-398). Paris: EHESS.

Claudot-Hawad, H. & Camps, G. (1996). Ehen (pl. Ihanan). In Salem Ch. (Org.), Encyclopédie berbère, 17 (pp. 2591-2595). Aix-en Provence: Peeters Publishers. Doi: https://doi.org/10.4000/encyclopedieberbere.2131

Diasio, N. (2014). Alimentation, corps et transmission familiale à l'adolescence , Recherches familiales, 11 (1), 31-41. Doi : https://doi.org/10.3917/rf.011.0031

Diasio, N. (2017). Domesticating instability and learning new body care: an ethnographic analysis of cleanness practice on the shold of adolescence (France and Italy). Italian journal of sociology of education, 9 (3), 122-155. Doi : http://ijse.padovauniversitypress.it/2017/3/6

Fansten, M., Figueiredo, C., Pionné-Dax, N. & Vellut, N. (Orgs.). (2014). Hikikomori. Ces adolescents en retrait. Paris: Armand Colin. Doi : https://doi.org/10.3917/arco.fanst.2014.01

Fassin, D. & Memmi, D. (Orgs.). (2004). Le gouvernement des corps. Paris: EHESS.

Figueiredo, C. (2013). Histoires de renoncement? Le cas des jeunes retirants sociaux touaregs au Mali. Enfance et psy, 58 (1), 130-139. Doi : https://doi.org/10.3917/ep.058.0130

Figueiredo, C. (2019a). Le corps adolescent face à la souffrance psychique: enjeux individuels, sociaux et politiques de l’hospitalisation en pédopsychiatrie. Enfances, famille, générations, (23). Doi : https://doi.org/10.7202/1067813ar

Figueiredo, C. (2019b). Une nouvelle forme de renoncement. Le corps en retrait des jeunes hikikomori (retirants sociaux) en France et au Japon. Ateliers d’anthropologie, 46. Doi: https://doi.org/10.4000/ateliers.11419.

Gilligan, C. (1982). In a Different Voice: Psychological Theory and Women’s Development. Cambridge: Harvard University Press.

Godelier, M. (2007). Au fondement des sociétés humaines. Paris: Albin Michel.

Héritier, F. (2003). Une anthropologie symbolique du corps. Journal des africanistes, 73 (2), 9-26. Doi: https://doi.org/10.3406/ahess.2002.280024

Héritier, F. (1995). Les deux sœurs et leur mère. Anthropologie de l’inceste, Paris: Odile Jacob.

Héritier, F. (1996). Masculin/féminin. Paris: Odile Jacob.

Melville, H. (1996) Bartleby le scribe. Paris : Gallimard.

Ostermann G. & Combe C. (2012). L'anorexie: la violence paradoxale d’un corps en trop. In A. Joyce (Org.), Violences chaudes, violences froides (pp. 85-102). Toulouse: ERES. Doi: https://doi.org/10.3917/eres.joyce.2012.01.0085

Racamier, P. C. (2010). L’inceste et l’incestuel. Paris: Dunod.

Saito, T. (2013). Hikikomori. Adolescence Without End. Minneapolis: University of Minnesota Press. (Trabalho original publicado em 1998).

Tajan, N. (2017). Génération hikikomori. Paris: L’Harmattan.

Tinat, K. (2019). Las bocas útiles. México: El Colegio de México.

Van Gennep, A. (1909), Les rites de passage.Paris : Ed. Nourry.

Vellut, N., Martin, C., Figueiredo, C. & Fansten, M. (Orgs). (2021). Hikikomori. Une expérience de confinement. Paris: Presses de l’EHESP. Doi : https://doi.org/10.3917/ehesp.vellu.2021.01

Publicado

2023-04-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Perder o apetite. A recusa do outro como busca de si mesmo. Exemplos saharianos, japoneses e franceses. (2023). Estilos Da Clinica, 28(1), 115-133. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v28i1p115-133