Um passeio por Novi Beograd: utopia, globalização e decadência
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1982-7547.hd.2023.192058Palavras-chave:
Arquitetura moderna, Balcãs, Belgrado, Iugoslávia, Leste EuropeuResumo
Nova Belgrado [original: Novi Beograd/Нови Београд] é um município da cidade de Belgrado construído na planície delimitada pelos rios Sava e Danúbio. Esse espaço, que durante séculos funcionou como uma área fronteiriça entre os impérios Otomano e Austro-húngaro, permaneceu inabitado até o meio do século XX: foi apenas depois da Segunda Guerra Mundial que a região passou a ser ressignificada para os habitantes da República Federativa Socialista Iugoslávia, por meio das iniciativas de edificação de uma nova capital para o seu país em (re)construção. O projeto, elaborado arquitetos iugoslavos, buscava se distanciar das cidades históricas adjacentes, em um gesto de afastamento da velha Belgrado que, para além do seu estado de ruína pósguerra, também estava fortemente associada à monarquia sérvia do Reino da Iugoslávia (1918 – 1943). Assim, a construção desse novo centro administrativo representa simultaneamente a proclamação de uma nova época para o país e a materialização da ruptura com a União Soviética (1948), em uma tentativa de redirecionar para si o imaginário social em torno de Moscou como a capital socialista e se afastar do estilo arquitetônico predominante no Bloco do Leste. Após o violento colapso iugoslavo, as construções que ocupam as ruas de Nova Belgrado adquiriram um caráter diferente do seu propósito inicial: entre privatizações e abandono, complexos industriais inteiros se encontram em estado de decadência, enquanto empresas estrangeiras ocupam os edifícios antes destinados aos órgãos administrativo-estatais, marcando mais uma etapa na transformação dessa região. As fotografias dessa série, feitas em 2020, revelam a ambiguidade da Nova Belgrado atual, na qual a ampla presença de capital estrangeiro coexiste com as ruínas industriais das empresas estatais. Assim, as construções monumentais, que testemunham um estilo arquitetônico possível graças às confluências culturais do não-alinhamento iugoslavo, guardam a memória de uma outra forma de multiculturalismo, substituída pela lógica da globalização neoliberal.
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Referências
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