Antagonismos entre sexualidade e religião no futebol: breve reflexão sobre a colonialidade na Copa do Catar

Autores

Palavras-chave:

Gênero, sexualidade, futebol, religião, colonialidade, Catar

Resumo

A Copa do Mundo da FIFA de Futebol de homens realizada no Catar trouxe à baila temáticas relativas a gênero e sexualidade no embate com religião. A reflexão deste artigo se desdobra em três movimentos: conflitos entre religião e sexualidade, que envolvem dinâmicas globais e locais de gênero; movimentos de apropriação e mercantilização de identidades e expressões de gênero, no que tange à sexualidade; e mobilização de símbolos a partir das dinâmicas capitalistas, que operam discursos midiáticos em relação à sexualidade e à religião. Portanto, destacamos tais dimensões como forma de perceber as hierarquias e as dinâmicas sociais mobilizadas pelo futebol como fenômeno esportivo intercontinental e por megaeventos como a Copa do Mundo, a fim de analisar as dimensões de gênero e sexualidade no mediascape global.

Referências

BACCHETTA, Paola. Circulações anzaldúanas na ilha da tartaruga e na França: alguns elementos para uma historiografia densa e uma contextualidade-histórica densa. In: MARIM, Caroline; CASTRO, Susana (Orgs.). Estudos em decolonialidade de gênero. Rio de Janeiro: Ape’Ku, 2021.

BACCHETTA, Paola; JIVRAJ, Suhraiya; BAKSHI, Sandeep. Decolonial sexualities: Paola Bacchetta in conversation with Suhraiya Jivraj and Sandeep Bakshi. Interventions, 22:4, 574-585, 2020. Disponível em https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/1369801X.2020.1749710?needAccess=true. Acesso em 16 jan. 2023.

BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Tradução Fernanda Siqueira Minguens; revisão técnica Carla Rodrigues. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Tradução de Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha; revisão de tradução de Marina Vargas; revisão técnica de Carla Rodrigues. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

BUTLER, Judith. Marcos de Guerra: las vidas lloradas. Trad. Bernardo Moreno Carrillo. Madrid: Espasa Libros, 2010. Disponível em https://dspace.sistemas.mpba.mp.br/bitstream/123456789/757/1/Marcos%20de%20guerra_las%20vidas%20lloradas%20-%202010.pdf. Acesso em 10 dez. 2022.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CARVALHO, Mario Felipe de Lima. Nossa esperança é ciborgue? Subalternidade, reconhecimento e ‘tretas’ na internet. Revista Estudos Feministas, v. 25, n. 1, p. 347-364, 2017. Disponível em https://www.scielo.br/j/ref/a/HvwRmFVCQvRTFK3LfMnV3Vw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 15 jan. 2023.

CONNELL, Raewyn. Gênero em termos reais. Tradução Marília Moschkovich. São Paulo: Inversos, 2016.

CONNELL, Raewyn. Questões de Gênero e Justiça Social. Século XXI: Revista de Ciências Sociais, v.4, n. 2, p.11-48, jan./jun. 2014. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/seculoxxi/article/view/17033/10322. Acesso em 11 nov. 2022.

CONNELL, Raewyn. Gender and Power: Society, the Person and Sexual Politics. Cambridge: Polity, 1987.

DAMO, Arlei S. Do dom à profissão. A formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: HUCITEC, 2007.

DEBORD, Guy. La sociedad del espectáculo. 2a ed. Buenos Aires: La Marca Editora, 2008.

DI PIETRO, P.J. Ni humanos, ni animales, ni monstruos: la decolonización del cuerpo transgénero. Eidos. n. SPE34, 254-291. 2020. Disponível em http://www.scielo.org.co/pdf/eidos/nspe34/2011-7477-eidos-spe34-254.pdf. Acesso em 01 jan. 2023.

FACCHINI, Regina; DANILIAUSKAS, Marcelo; PILON, Ana C. Políticas sexuais e produção de conhecimento no Brasil: situando estudos sobre sexualidade e suas conexões. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v. 44, n. 1, p. 161-193, 2013. Disponível em https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/9115/1/2013_art_rfacchinimdaniliauskasacpilon.pdf. Acesso em 12 out. 2022.

FERREIRA, Cláudio Vital de Lima. AIDS e exclusão social. Um estudo clínico com pacientes com o HIV. São Paulo: Lemos Editorial, 2003.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Tradução Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edição Graal, 1988.

GARCIA, Rafael Marques; PEREIRA, Erik Giuseppe B. Uma análise axiológica dos projetos de lei sobre pessoas trans e esporte no Brasil. Educación Física y Ciencia, v. 22, n. 4, p. 154-154, 2020.Disponível em http://www.scielo.org.ar/pdf/efyc/v22n4/2314-2561-efyc-22-4-e154.pdf. Acesso em 06 jan. 2023.

DOI : 10.24215/23142561e154

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC,1989.

GUEDES, Simoni. O Futebol Brasileiro: instituição zero. Dissertação (Mestrado) em Antropologia). Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 1977.

GROSSI, Miriam P. Gênero, sexualidade e reprodução: a constituição dos estudos sobre gênero, sexualidade e reprodução no Brasil. In: MARTINS, Carlos B.; DUARTE, Luiz Fernando D. Horizontes das Ciências Sociais no Brasil: antropologia. São Paulo: ANPOCS, 2010. p. 293-340.

HALBERSTAM, Jack. ¿Qué hay en un nombre?.In: Trans*: Una guía rápida y peculiar de la variabilidad de género. Traducción de Javier Sáez. Editorial EGALES, S.L., 2018. p. 17-41.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 4ª ed. Rio de Janeiro, 2000.

HARPER, Joanna. Transgender Athletes and International Sports Policy. Law and Contemporary Problems, v. 85, n. 1, p. 151-165, 2022.Disponível em https://heinonline.org/HOL/LandingPage?handle=hein.journals/lcp85&div=11&id=&page=. Acessoem 17 jan. 2023.

HOAD, Neville. Arrested Development or the Queerness of Savages: resisting evolutionary narratives of difference. PostcolonialStudies. n. 3, v. 2: 133-158. 2000. Disponível em https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/13688790050115277?casa_token=Z3IUJqR1LqwAAAAA:CmJBRkGv_c_x4zRrFqt3okzMH1WxwhT5Y1siw4J_5zGy2LcbyhaN3onwBhlx8U6nx51D29NKPJtjBQ. Acesso em 20 jan. 2023.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. Tradução de Luiz Repa; São Paulo: Editora 34, 2003.

JORDAN-YOUNG, Rebecca; KARKASIS, Katrina. Testosterone. An unauthorized biography. Cambridge: Harvard University Press, 2019.

MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

MIGNOLO, Walter. La idea de América Latina: la herida colonial y la opción decolonial. Barcelona: Gedisa Editorial, 2007.

ODARA, Thiffany. Pedagogia da desobediência: travestilizando a educação. Salvador: Editora Devires, 2020.

OLIVEIRA, MeggRayara Gomes. Nem ao centro nem à margem! Corpos que escapam às normas de raça e de gênero. Salvador: Editora Devires, 2020.

RAO, Rahul. Global homocapitalism. Radical Philosophy, v. 194, p. 38-49, 2015. Disponível emhttps://www.radicalphilosophy.com/article/global-homocapitalism. Acesso em 07 fev. 2023.

RIAL, Carmen. Guerra de imagens, imagens da guerra. Cadernos Pagu. (47), 2016: e164713. p. 1-27. Disponível em https://www.scielo.br/j/cpa/a/GVPdNdSRs78gWv3VDqJQ5WG/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 10 nov. 2022.

RIAL, Carmen. Por que todos os ‘rebeldes’ falam português? A circulação de jogadores brasileiros/sul-americanos no exterior, ontem e hoje. In: A produção das Mobilidades-Redes, Espacialidades e Trajectos. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais-ICS, 2009. p. 203-224.

RIAL, Carmen. Mídia e sexualidade: breve panorama dos estudos de mídia. In: Movimentos sociais, educação e sexualidades. In: GROSSI, Miriam et al. (Orgs.) Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

RUBIN, Gayle. O tráfico de mulheres: notas sobre a “economia política” do sexo. In: Políticas do Sexo. Trad. Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Ubu Editora, 2017.

RUBIN, Gayle S. Thinking sex: Notes for a radical theory of the politics of sexuality. In: Culture, Society and Sexuality A Reader. Routledge, 2002. p. 143-178.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Orientecomoinvenção do Ocidente. Tradução Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

SOARES, Antônio Jorge Gonçalves; VAZ, Alexandre Fernandez. Esporte, globalização e negócios: o Brasil dos dias de hoje. In: DEL PRIORI, Mary; MELO, Victor Andrade de. (Org.). História do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: UNESP, 2009. p. 481-504.

TOLEDO, Luiz Henrique. Balanços bibliográficos e ciclos randômicos: o caso dos futebóis na Antropologia brasileira. BIB-Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 94, 2021. Disponível em https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/188/181. Acesso em 10 jan. 2023.

VERGÈS, Françoise. Um feminismo Decolonial. São Paulo: UBU, 2021.

Sites Consultados:

Bandeiras LGBTQIA+ proibidas na Copa: as desculpas das autoridades do Catar. Revista Fórum, 5/04/2022. Disponível em https://revistaforum.com.br/esporte/2022/4/5/bandeiras-lgbtqia-proibidas-na-copa-as-desculpas-das-autoridades-do-catar-112587.html. Acesso em 25 nov. 2022.

Catar tem leis LGBTfóbicas e comunidade é passível de punição física. Agência de Notícias da AIDS. 19/08/2022. Disponível em https://agenciaaids.com.br/noticia/catar-tem-leis-lgbtfobicas-e-comunidade-e-passivel-de-punicao-fisica-destaca-ig-queer/. Acesso em 20 nov. 2022.

Entenda como a Fifa escolheu o Catar como sede da Copa do Mundo de 2022. CNN Brasil. 02/11/2022. Disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/esporte/entenda-como-a-fifa-escolheu-o-catar-como-sede-da-copa-do-mundo-de-2022/. Acesso em 10 jan. 2023.

Fifa lança suas próprias braçadeiras de capitão para a Copa. Folha de São Paulo (online). 19/11/2022. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2022/11/fifa-lanca-suas-proprias-bracadeiras-de-capitao-para-copa.shtml. Acesso em 19 nov. 2022.

GIMENEZ, Vinicius. Braçadeira contra discriminação na Copa do Mundo: o que representa, quais jogadores usam e porque a Fifa pode punir seleções. Goal.com. 22/11/2022. Disponível em https://www.goal.com/br/listas/bracadeira-contra-discriminacao-one-love-significado-jogadores-fifa-punicao-cartao/blt7b062114c53c6446#csc1c8dc3399c86345. Acesso em 23 nov. 2022.

Jogadores brasileiros que sofreram racismo na Europa. UOL ONLINE. 22/09/2022. Disponível em https://cultura.uol.com.br/esporte/noticias/2022/09/22/4216_jogadores-brasileiros-que-sofreram-racismo-na-europa.html. Acesso em 14 jan. 2023.

NASCIMENTO, Rafael. Copa do Mundo no Catar representa perigo para atletas e turistas LGBT+. IG Queer. 15/11/2022. Disponível em https://queer.ig.com.br/2022-11-15/copa-do-mundo-no-catar-representa-perigo-para-atletas-e-turistas-lgbt-.html. Acesso em 17 nov. 2022.

Quem é o italiano que invadiu o campo durante a partida entre Portugal e Uruguai? GZH online. 28/11/2022. Disponível em https://gauchazh.clicrbs.com.br/esportes/copa-do-mundo/noticia/2022/11/quem-e-o-italiano-que-invadiu-o-campo-durante-a-partida-entre-portugal-e-uruguai-clb1jnfxi000g014u9hv2rze3.html. Acesso em 29 nov. 2022.

SANZ, Raphael. Fifa proíbe braçadeira em apoio à comunidade LGBTQIA+ na Copa do Mundo do Catar 2022. Revista Fórum, 22/11/2022. Disponível em https://revistaforum.com.br/esporte/copadomundo/2022/11/20/fifa-proibe-braadeira-em-apoio-comunidade-lgbtqia-na-copa-do-mundo-do-catar-2022-127564.html. Acesso em 29 nov. 2022.

Downloads

Publicado

2023-07-25

Como Citar

Silva, K., & Camargo, W. X. de. (2023). Antagonismos entre sexualidade e religião no futebol: breve reflexão sobre a colonialidade na Copa do Catar. Ponto Urbe, 1(31), 1-22. https://www.revistas.usp.br/pontourbe/article/view/216928