“Enquanto eu dormia, cavaram uma cova no fundo do meu peito”: mineração, deslocamento compulsório e pichações nas ruínas de cinco bairros fantasmas (Maceió-AL)

Autores/as

Palabras clave:

pichação, ruínas, mineração, Maceió, Braskem

Resumen

O presente artigo propõe uma reflexão sobre pichações presentes nas ruínas de bairros em afundamento na cidade de Maceió, Alagoas. O desastre socioambiental, que atinge cinco bairros da capital, é resultado da exploração de sal-gema pela petroquímica Braskem S/A e culminou no deslocamento compulsório (Haesbaert, 2004) de cerca de 60 mil pessoas. Com base em investigações etnográficas independentes, pesquisa documental e em diálogo com dois projetos fotográficos locais, compilamos um conjunto de pichações e grafites feitos por moradores e ex-moradores dos bairros condenados. Discutimos as intervenções relacionadas às materialidades do arruinamento, atentando-nos para as maneiras com que memórias, frustrações, denúncias e reivindicações são expressas nos escritos e desenhos pichados em muros depredados. Logo, buscamos examinar como os atores sociais se articulam em resposta à violência perpetrada e encontram maneiras de reocupar os signos da destruição, reconfigurando subjetividades e inaugurando novos modos de ação histórica (Das, 2020).

Referencias

ALDERMAN, Derek; WARD, Heather. Writing on the Plywood: Toward an Analysis of Hurricane Graffiti. Coastal Management, v. 36, p. 1–18, 2008.

ANGELO, Maurício. Crime socioambiental transformado em lucro imobiliário: o caso da Braskem em Maceió. Observatório da Mineração, 2021. Disponível em: <https://observatoriodamineracao.com.br/crime-socioambiental-transformado-em-lucro-imobiliario-o-caso-da-braskem-em-maceio/>. Acesso em: 9 mai. 2022.

ARCHAMBAULT, Julie Soleil. “Concrete violence, indifference and future-making in Mozambique”. Critique of Anthropology 41, no 1, p. 43–64, 2021. https://doi.org/10.1177/0308275X20941573. DOI: 10.1177/0308275X20941573.

BRASIL. Ministério Público Federal. Termo de Acordo Para Apoio na Desocupação das Áreas de Risco (Processo n. 0806577-74.2019.4.05.8000). Maceió: MPF/MP-AL/Braskem, 2020.

CAMPOS, Ricardo. Entre as luzes e as sombras da cidade: visibilidade e invisibilidade no graffiti. Etnográfica, v. 13, n. 1, p. 145-170, 2009.

DOI: 10.4000/etnografica.1292.

CARASTATHIS, Anna; TSILIMPOUNIDI, Myrto. Against the wall. City, v. 25, n. 3–4, p. 419–435, 2021. DOI: 10.1080/13604813.2021.1941659.

DAS, Veena. Critical Events: An Anthropological Perspective on Contemporary India. Delhi: Oxford University Press, 1995.

DAS, Veena. Vida e palavras: a violência e sua descida ao ordinário. Tradução Bruno Gambarotto. São Paulo: Editora Unifesp, 2020. 312p.

DAWDY, Shannon Lee. “Clockpunk Anthropology and the Ruins of Modernity”. Current Anthropology 51, no 6, p. 761–93, 2010. https://doi.org/10.1086/657626. DOI: 10.1086/657626.

DI FILIPPO, Marile. Los movimientos sociales y sus prácticas estético-artísticas en el nuevo milenio. Un análisis del repertorio de protesta debido al asesinato de Pocho Lepratti en el 2001 argentino”. En VALLS, Pierre (comp.) Fe de Erratas: Arte y Política, Ediciones Colaterales, México, 2016.

FRAGOSO, Elias (org). Rasgando a cortina de silêncio: o lado B da exploração do sal-gema de Alagoas. Ed. Instituto Alagoas, Maceió - AL, 2022, 172p.

GAŃKO, Anna. “Empty City Spaces. Practices of Unseen”. Journal of Education, Culture and Society 10, no 2, p. 245–51, 2019. https://doi.org/10.15503/jecs20192.245.251. DOI: 10.15503/jecs20192.245.251.

HAGEN, Carol A.; ENDER, Morten G.; TIEMANN, Kathleen A.; et al. Graffiti on the great plains: A social reaction to the Red River Valley flood of 1997. Applied Behavioral Science Review, v. 7, n. 2, p. 145–158, 1999.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

HAWORTH, Billy Tusker; LEPP, Eric; ARTHUR, Catherine; et al. “Your wall cannot divide us”: Graffiti in Cyprus and insights into conflict-affected landscapes. SAUC - Street Art and Urban Creativity, v. 8, n. 2, p. 35–49, 2022.

LIMA, Fabio Rogerio Batista [UNESP; SANTOS, Placida Leopoldina Ventura Amorim da Costa [UNESP; ZAFALON, Zaira Regina. Documentary representation for access and visibility to graffiti. Em Questão, p. 20, 2022.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984. p.17-37.

MARINHO, Juliana. Afundamento do solo em Maceió leva cerca de 60 mil moradores a deixarem casas | Brasil: Diário de Pernambuco. Disponível em: <https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2022/06/afundamento-do-solo-em-maceio-leva-cerca-de-60-mil-moradores-a-deixare.html>. Acesso em: 30 mar. 2023.

MARTIN, Daryl. “Introduction: Towards a Political Understanding of New Ruins”. International Journal of Urban and Regional Research 38, no 3 2014, p. 1037–46. https://doi.org/10.1111/1468-2427.12116. DOI: 10.1111/1468-2427.12116.

MARTINS, Mário Henrique da Mata, e RIBEIRO, Maria Auxiliadora Teixeira. “Repertórios linguísticos dos riscos industriais no Pontal da Barra, Maceió”. Athenea Digital. Revista de Pensamiento e Investigación Social 16, no 1, p. 139–58, 2016.

MBEMBE, Achille; ROITMAN, Janet.“Figures of the Subject in Times of Crisis.” Public Culture 7, p. 323–52, 1995. DOI: 10.1215/08992363-7-2-323.

MEDEIROS, Flávia. "Presente!": um olhar etnográfico sobre o lugar social dos mortos em Buenos Aires. Revista Antropolítica, Niterói, UFF, n. 37, p. 319.338, 2. sem. 2014.

MILLINGTON, Nate. “Post-Industrial Imaginaries: Nature, Representation and Ruin in Detroit, Michigan: Nature, Representation and Ruin in Detroit”. International Journal of Urban and Regional Research 37, no 1, p. 279–96, 2013. https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.2012.01206.x. DOI: 10.1111/j.1468-2427.2012.01206.x.

PAVONI, Andrea & ZAIMAKIS, Yiannis & CAMPOS, Ricardo. (2021). Political Graffiti in Critical Times. The aesthetics of street politics. Campos, Ricardo, Andrea Pavoni, e Yiannis Zaimakis, orgs. Berghahn Books, 2021.

PITA, María Victoria. Formas de vivir y formas de morir: el activismo contra la violencia policial. - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Puerto; Buenos Aires: Centro de Estudios Legales y Sociales – CELS, 2010.

PUSCA, Anca. “Industrial and Human Ruins of Postcommunist Europe”. Space and Culture 13, no 3, p. 239–55, 2010. https://doi.org/10.1177/1206331210365255. DOI: 10.1177/1206331210365255.

REYES HERRERA, Sonia E., Juan Carlos Rodríguez Torrent, e Patricio Medina Hernández. “El sufrimiento colectivo de una ciudad minera en declinación. El caso de Lota, Chile”. Horizontes antropológicos 20, no 42, p. 237–64, 2014. https://doi.org/10.1590/s0104-71832014000200010. DOI: 10.1590/s0104-71832014000200010.

RIBEIRO, May Waddington Telles. O encontro das antropologias do meio ambiente e dos desastres no Brasil. BIB-Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais. n. 93, p. 1-25, 2020.

SCHAFERS, Marlene. “Ruined Futures: Managing Instability in Post-Earthquake Van (Turkey)”. Social Anthropology 24, n 2, p. 228–42, 2016. https://doi.org/10.1111/1469-8676.12274. DOI: 10.1111/1469-8676.12274.

SHARAF, Radwa Othman. Graffiti as a Means of Protest and Documentation in the Egyptian Revolution. African Conflict & Peacebuilding Review, v. 5, n. 1, p. 152–161, 2015. DOI: 10.2979/africonfpeacrevi.5.1.152.

SOUZA, David da Costa Aguiar de. Pichação carioca: etnografia e uma proposta de entendimento. Dissertação (mestrado) –UFRJ/PPGSA/Programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia, 2007.

TADDEI, Renzo. Os desastres em uma perspectiva antropológica. Com Ciência: Revista Eletrônica de Jornalismo Científico. 2016.

TEIXEIRA, Raquel. “A lama e suas marcas: neoextrativismo e seus efeitos em um contexto de desastre”. Revista Perfiles Económicos, no 5, 2018. https://doi.org/10.22370/rpe.2018.5.1237. DOI: 10.22370/rpe.2018.5.1237.

TICIANELI, Edberto. “Descoberta de sal-gema em Alagoas foi por acaso”. História de Alagoas (blog), 22 de novembro de 2015. Disponível em: https://www.historiadealagoas.com.br/descoberta-da-sal-gema-em-alagoas-foi-por-acaso.html.

VAINER, C. B. Conceito de "Atingido": Uma Revisão do Debate. In: ROTHMAN, F. D. (Ed.). Vidas Alagadas: Conflitos Socioambientais, Licenciamento e Barragens. Viçosa: Ed. UFV, p. 39-62, 2008.

VICTORIA, Mabel. Graffiti, Place and Society. 2022. Disponível em: <https://napier-repository.worktribe.com/output/2873909/graffiti-place-and-society>. Acesso em: 30 mar. 2023.

VIEIRA, Maria do Carmo. Daqui só saio o pó: conflitos urbanos e mobilização popular: a Salgema e o Pontal da Barra. Maceió: EDUFAL, 1997.

ZIELENIEC, Andrzej. The right to write the city: Lefebvre and graffiti. Environment Urbain/Urban Environment, n. Volume 10, 2016. Disponível em: <https://journals.openedition.org/eue/1421>. Acesso em: 7 mar. 2023.

Publicado

2023-07-25

Número

Sección

Dossiê: Estéticas engajadas e cidade

Cómo citar

Souza, L. ., Petronilho, A. S. ., & Eduardo, C. (2023). “Enquanto eu dormia, cavaram uma cova no fundo do meu peito”: mineração, deslocamento compulsório e pichações nas ruínas de cinco bairros fantasmas (Maceió-AL). Ponto Urbe, 1(31), 1-26. https://www.revistas.usp.br/pontourbe/article/view/216995