Quando seu trabalho de campo é o trabalho de campo dos outros: Outreach e etnografia

Authors

Keywords:

Outreach, etnografia, trabalho de campo, prevenção, método etnográfico

Abstract

O outreach é um conjunto de abordagens que busca oferecer serviços ou assistência a populações que, de outra forma, não teriam acesso a eles. Alguns autores afirmam que, ao realizar trabalho de campo, priorizar o estabelecimento de relações e o contato direto com o público, procurando compreender seus estilos de vida e se valendo de sua experiência para elaborar intervenções, essa abordagem teria diversos pontos em comum com o método etnográfico utilizado pelos antropólogos. Ancorado na pesquisa realizada com instituições de prevenção que empregam o outreach em Paris (FR) e em São Paulo (BR), este artigo propõe relatar brevemente a história dessa abordagem, descrever algumas de suas técnicas e metodologias, e repensar suas proximidades e distâncias com o fazer etnográfico.

Author Biography

  • Tiago Hyra Rodrigues, Universidade Federal de Santa Catarina

    Doutor em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina. Docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Vila Velha, ES, Brasil; Pesquisador de pós-doutorado vinculado ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, São Paulo, SP, Brasil.

References

ASAD, Talal. Anthropology and the colonial encounter. New York, Humanity Press, 1973.

BASTIDE, Roger. Anthropologie Appliquée. Paris, Payot, 1971.

BENEDICT, Ruth. O crisântemo e a espada: padrões da cultura japonesa. Petrópolis, Vozes, [1946 (2019)]

BOROFSKY, Robert; DE LAURI, Antonio. Public anthropology in changing times. Public Anthropologist, v.1, p.3-19, 2019.

BURAWOY, Michael. For public sociology. American Sociological Review, v.70, p.4-28, 2005

CALIL, Thiago; CASTRO, Glauber. Insumos e outros territórios: relato de uma abertura de campo no centro de São Paulo. IN: PUPO, J. et al (orgs). Cuidado na rua: ações de redução de danos em contexto do uso de drogas no centro da cidade de São Paulo. São Paulo, Centro de Convivência É de Lei, 2018.

CALIL, Thiago. Condições do lugar: relações entre saúde e ambiente para pessoas que usam crack no bairro da Luz, especificamente na região denominada cracolândia. Dissertação (Mestrado) em Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 2015.

____________. Cenas públicas de uso de drogas e a produção do risco em cidades latino-americanas: consumo do espaço e efeitos sociais. Tese (doutorado) em Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 2021

CAVALCANTI, Lia. De la nécessité de réinventer la prévention. Peddro, p.110-115, 2001.

CEFAÏ, Daniel. Provações Corporais: uma etnografia fenomenológica entre moradores de rua de Paris. Lua Nova, São Paulo, 79, p.71-110, 2010.

____________. Outreach work in Paris: A moral ethnography of social work and nursing with homeless people. Human Studies, vol. 37/4, 2014.

____________. Arenas públicas. Por uma etnografia da vida associativa. Niterói-Rio de Janeiro, EdUFF, p. 9-36, 2011,

___________. ¿Qué es la etnografía?. Persona y sociedad, XXVII (1), pp. 101-119, 2013.

CLIFFORD, James. The predicament of culture: 20th century ethnography, literature and art. Cambridge, Harvard University Press, 1988.

CLIFFORD, James; MARCUS, George (eds). Writing Culture. The Poetics and Politics of Ethnography. Berkeley: University of California Press, 1986.

COPPEL, Anne. L’outreach: l’art difficile de toucher les populations exclues. Peddro, número especial, Unesco, 2001.

___________. L’ethnographie à la rencontre des toxicomanes. In: COPPEL, A. Peut-on civiliser les drogues? Paris, La Découverte, 2002a.

___________. Chicago ou la naissance de l’outreach. In: COPPEL, A. Peut-on civiliser les drogues? Paris, La Découverte, 2002b.

COSTA, Roberta. Mil fitas na Cracolândia: Amanhã é domingo e a Craco Resiste. Dissertação (Mestrado) em Filosofia, Universidade de São Paulo, 2017.

COULON, Alain. A Escola de Chicago. Campinas, Papirus, 1995.

DASES Paris. La prévention spécialisée à Paris. Département de Paris, Bureau des activités de prévention pour la jeunesse, 2011.

DEWSON, Sara. Maximising the Role of Outreach in Client Engagement. Research Report 326, Department for Work and Pensions, 2006.

DOMANICO, Andrea. Craqueiros e cracados: bem-vindo ao mundo dos nóias. Tese (Doutorado), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2006.

DURHAM, Eunice. A pesquisa antropológica com populações urbanas: problemas e perspectivas. IN: CARDOSO, R. (org) A aventura antropológica: teoria e pesquisa. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.

EMCDDA- European Monitoring Center for Drugs and Drug Addiction. Outreach work among drug users in Europe. Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities, 1999.

ERICKSON, F. Métodos cualitativos de investigación. In: WITTROCK, M. La investigación de la ensenanza, II. Barcelona- Buenos Aires: Paidos, p.195-299, 1989.

EVANS-PRITCHARD, E.E. Antropologia Aplicada. Cadernos de Campo, 31 (1), [1945(2022)].

FLEISCHER, Soraya. Antropólogos “anfíbios”? Alguns comentários sobre a relação entre antropologia e intervenção no Brasil. Anthropológicas, ano 11, v.18(1), p.37-70, 2007.

FONSECA, Claudia. Quando cada caso NÃO É um caso: pesquisa etnográfica e educação. Revista Brasileira de Educação, (São Paulo), 10, p.58-78, 1999.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, LTC, 1989.

_______________. After the fact: two countries, four decades, one anthropologist. Cambridge, Harvard University Press, 1995.

______________. O Saber Local. Petrópolis, Vozes, 1997.

GRUNVALD, Vi; REIS, Felipe. Antropologia pública, engajada e/ou aplicada: dilema de atuação social para além da universidade. Iluminuras, v.22, n.57, p.5-18, 2021

HUGHES, P. H. Behind the Wall of Respect. The University of Chicago Press, Chicago-London, 1977.

INGOLD, Tim. Epilogue: Anthropology is not Ethnography. In: ______. Being Alive. Routledge: London and New York, pp. 229-243, 2011.

____________. Anthropology contra ethnography. HAU: Journal of ethnographic theory, v.7, n. 1, pp.21-26, 2017.

JOUBERT, Michel. Évaluer la prévention des conduites à risques Enjeux théoriques, politiques et professionnels. In: Pilar Giraux-Arcella et al., Villes et toxicomanies, ERES- Questions vives sur la banlieue, p. 377-392, 2005.

JOUBERT, Michel et al. Les conduites à risques: penser et agir la prévention. Conseil général de la Seine-Saint-Denis, 2007.

KIRSCH, Stuart. Engaged Anthropology. Oakland: University of California Press, 2018.

LOPEZ, Graciela. O método etnográfico como um paradigma científico e sua aplicação na pesquisa. Textura, Canoas, n.1, p.45-50, 1999.

MAGNANI, José Guilherme. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 17 (49), p.11-29, 2002.

______________________. Etnografia como prática e experiência. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 15, n. 32, p. 129-156, 2009.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1976.

MARCUS, George; CUSHMAN, Dick. Ethnographies as texts. Annual Review of Anthropology, California, v. 11, p. 25-69, 1982.

MARTINS, Raonna; et al. Prevenção – Redução de Danos: des-aproximações arriscadas. IN: PUPO, J. et al (orgs). Cuidado na rua: ações de redução de danos em contexto do uso de drogas no centro da cidade de São Paulo. São Paulo, Centro de Convivência É de Lei, 2018.

NAKAMURA, Eunice. O método etnográfico em pesquisas na área da Saúde: uma reflexão antropológica. Saúde e Sociedade, São Paulo, v.20, n.1, p.95-103, 2011.

OLIVEIRA, Alan. Miguilim foi pra cidade ser cantor: uma antropologia da música sertaneja. Tese (Doutorado) em Antropologia Social, UFSC, Florianópolis, 2009.

PEIRANO, Mariza. Os antropólogos e suas linhagens. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 16(6), p.43-50, 1991.

___________________. A favor da etnografia. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1995.

___________________. Etnografia, ou a teoria vivida. PontoUrbe [Online], 2, 2008. Disponível em: http://journals.openedition.org/pontourbe/1890

_________________ . Etnografia não é método. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 20, n. 42, p. 377-391, 2014.

PEREIRA, Alexandre. Etnografar e intervir: relato de uma antropologia engajada. Cadernos de Campo (São Paulo), vol.29 (suplemento), p.216-224, 2020.

PUPO, Julia; et al (orgs). Cuidado na rua: ações de redução de danos em contexto do uso de drogas no centro da cidade de São Paulo. São Paulo, Centro de Convivência É de Lei, 2018.

RHODES, Tim. Outreach Work with Drug Users: Principles and Practice. Strasbourg, Council of Europe, 1996.

ROCHA, Gilmar. A etnografia como categoria de pensamento na antropologia moderna. Cadernos de campo, São Paulo, n. 14/15, p. 99-114, 2006.

RODRIGUES, Tiago Hyra. Tirando do crime e dando oportunidade: estratégias educacionais de prevenção das violências em duas ONGs de Florianópolis, SC. Tese de Doutorado em Antropologia Social. UFSC, Florianópolis, 2011.

______________. Preventing drug-trafficking associated risks in France. Apresentação oral: British Sociological Association’s Risk & Society Study Group Conference 2019, Londres, 2019.

______________. Metamorfoses da Prevenção: prevenindo condutas de risco na França. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 37, n.108, 2022.

SILVA, Vagner. O antropólogo e sua magia. São Paulo, Edusp, 2000.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 2005.

URIARTE, Urpi. O que é fazer etnografia para os antropólogos. PontoUrbe [online], 12, 2012. Disponível em: http:// journals.openedition.org/pontourbe/300

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O campo na selva, visto da praia. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, p. 170-190, 1992.

Published

2024-05-16

How to Cite

Rodrigues, T. H. (2024). Quando seu trabalho de campo é o trabalho de campo dos outros: Outreach e etnografia. Ponto Urbe, 2(30), 1-25. https://www.revistas.usp.br/pontourbe/article/view/217060