Arranjos Íntimos

Autores/as

Palabras clave:

bossa nova, domesticidade, Johnny Alf, Elza Soares, Alaíde Costa

Resumen

Interessado nas conexões entre raça, gênero, classe e domesticidade, este artigo revisita o surgimento da bossa nova no Brasil (1958-1962) a partir das trajetórias de Johnny Alf, Alaíde Costa e Elza Soares, artistas que, embora tenham participado de maneira expressiva na formação deste estilo musical, ocuparam posições de relativa penumbra na historiografia. Mais que simplesmente apontar para os mecanismos de exclusão operados pelo racismo, meu objetivo é reconstituir as práticas responsáveis por conferir aos bossanovistas célebres contornos sociológicos homogêneos (uma música feita nos apartamentos de jovens brancos de classe média). Tal homogeneidade, sugiro, não menos uma questão de provincianismo musical, mas um efeito de uma héxis corporal produtora de performatividades específicas de raça, gênero e classe, e que relegou à periferia do movimento pessoas cujas carreiras se fizeram com o repertório da bossa nova, aderindo ao projeto modernizador proposto por ela.

Biografía del autor/a

  • Rafael do Nascimento Cesar, Universidade de Campinas

    Doutor em Antropologia Social pela Universidade de Campinas (UNICAMP).

Referencias

BACHINNI, Luca. 2017. Maestro soberano: ensaios sobre Antonio Carlos Jobim. Belo Horizonte: Editora da UFMG.

CASTRO, Ruy. 1990. Chega de saudade a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras.

_______. 2001. Uma onda que se ergue no mar: novos mergulhos na bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras.

CESAR, Rafael do Nascimento. 2022. Swing dos trópicos: arranjos transnacionais na música popular. Tese de doutorado em Antropologia. IFCH-Unicamp.

CESAR, Rafael do Nascimento; FERREIRA Carolina Branco de Castro; QUEIROZ, Vítor. 2020. “Elza Soares: dos alfinetes à carne negra”. Revista de Educação e Ciências Sociais, n. 5, v. 3, pp. 59-79.

CORRÊA, Mariza. 1996. “Sobre a invenção da mulata”, Cadernos Pagu (6-7), Campinas, p. 35-50.

_______. 2007. “A babá de Freud e outras babás”, Cadernos Pagu (29), Campinas, p. 61-90.

DINIZ, Sheyla. 2010. Para além da Zona Sul carioca: a bossa nova em Minas Gerais. Monografia de Graduação em Ciências Sociais. Universidade Federal de Uberlândia.

EVANS-PRITCHARD, Edward Evan. 2011. Antropologia social. Lisboa: Edições 70.

GARCIA, Walter. 1999. Bim bom: a contradição sem conflitos de João Gilberto. São Paulo: Paz e Terra.

GONZALEZ, Lélia. 2020. “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. In: Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, pp. 75-93.

_______. 2014. Coleção Encontros. Rio de Janeiro: Azougue.

MARIANO, Cesar Camargo. 2011. Solo: memórias. São Paulo: Leya.

MELLO, Zuza Homem de. 2008. Eis aqui os bossa nova. São Paulo: Martins Fontes.

MUSEU DA IMAGEM E DO SOM. 2011. Depoimento de Elza Soares, 26 de jan.

MENEZES, Roniere. 2011. O traço, a letra e bossa: literatura e diplomacia em Cabral, Rosa e Vinicius. Belo Horizonte: Editora da UFMG.

MUSEU DA IMAGEM E DO SOM. 1992. Depoimento de Alaíde Costa, 12 de ago.

NAPOLITANO, Marcos. 2007. A síncope das ideias: a questão da tradição na música popular brasileira. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2007.

NAVES, Santuza Cambraia. 1998. O violão azul: modernismo e música popular. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998.

________. 2000. “Da Bossa Nova à Tropicália: contenção e excesso na música popular”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, V. 15, N. 43, p. 35-44.

________. 2010. Canção popular no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

________. 2015. A canção brasileira. Rio de Janeiro: Zahar.

O’DONNELL, Julia. 2016. “Un buen lugar para encontrar”. Cosmopolitismo, nación y modernidad en Copacabana (años 1950). In: GORELIK, Adrián; PEIXOTO, Fernanda (orgs.), Ciudades sudamericanas como arenas culturales. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, pp. 229-247.

PEREIRA, João Baptista Borges. 2001. Cor, profissão e mobilidade. São Paulo: EDUSP.

PONTES, Heloisa. 2004. “A burla do gênero: Cacilda Becker, a Mary Stuart de Pirassununga”. Tempo Social, v. 16, n. 1, jun., pp. 321-362.

________. 2008. “Cor na ficção”. In: Gustavo Rossi. As cores da revolução: a literatura de Jorge Amado nos anos 30. São Paulo: Annablume; Fapesp; Unicamp.

PONTES, Heloisa; CESAR, Rafael do Nascimento. 2022. “Da orla à sala de jantar: gênero e domesticidade na bossa nova e na tropicália”. In: PONTES, Heloisa; ROSSATI, Camila (orgs.). Casa-mundo. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, Fapesp, pp. 143-169.

RADANO, Ronald. 2000. “Hot Fantasies: American modernism and the Idea of Black Rhythm”. In: RADANO, Ronald; BOHLMAN, Philip. Music and the Racial Imagination. Chicago and London: University of Chicago Press, pp. 459-479.

REILLY, Suzel Ana. 1996. “Tom Jobim and the bossa nova era”. Popular music, vol, 15, n. 1, jan, p. 1-16.

RODRIGUES, João Carlos. 2012. Johnny Alf: duas ou três coisas que você não sabe (Coleção Aplauso Música). São Paulo: Imprensa Oficial.

SANTOS, Martha S. 2016. “‘Slave Mothers’, Partus Sequitur Ventrem, and the Naturalization of Slave Reproduction in Nineteenth-century Brazil”, Tempo, vol. 22, n. 41, set-out., pp. 467-487.

SOVIK, Liv. 2009. Aqui ninguém é branco. Rio de Janeiro: Aeroplano.

STOLER, Ann Laura. 2010. Carnal knowledge and imperial power: race and the intimate in colonial rule. Berkeley, Los Angeles, London: University of California Press.

STRATHERN, Marilyn. 1995. “Necessidade de pais, necessidade de mães”. Estudos Feministas, vol. 95, n. 2, pp. 305-329.

TINHORÃO, José Ramos 1968. Música popular: um tema em debate [2ª edição]. Rio de Janeiro: JCM.

TREECE, David. 2000. “A flor e o canhão: bossa nova e a música de protesto no Brasil (1958/1968). História: questões e debates, n. 32, jan-jun, p. 121-168.

BERTH, Joice. 2020. “A Bossa Nova e o medo branco”, Revista Elle, 22 de ago

COSTA, Alaíde. 1960. “Alaíde protesta e garante: cantor Bossa Nova nunca foi desafinado”, Revista do Rádio, 17 de set.

FORTUNA, Maria. 2020. “Quando a bossa nova estourou, fizeram de conta que eu não existia, diz a cantora Alaíde Costa”, O Globo, 8 de dez. 2020.

LEÃO, Nara. 1963. “A Bossa de Nara”, O Cruzeiro, 3 de ago.

LEMOS, Ubiratan de. 1960. “Que eles pensam deles”, Manchete, 10 de set. 1960.

MANCHETE. 1960. “Elza Soares: a bossa negra”, 6 de jan.

MEDAGLIA, Júlio. 1966. “Balanço da bossa nova”, Suplemento Literário, 17 de dez.

NISKIER, Arnaldo; FEITOSA, Francisco. 1959. “Cantoras da nova safra”, Manchete, 18 de jul.

RADIOLANDIA, 1961, “Adeus às praias”, abril.

REVISTA DO RÁDIO. 1960. “A incrível história de Elza Soares”, 14 de abr.

________. 1960. “A foto da semana”, 25 de jun.

SILVA, Álvares da. 1960. “Os moços do samba estereofônico”, O Cruzeiro, 13 de fev.

SOARES, Elza. 2020. “A arte de João Gilberto é revolucionária, afirma Elza Soares”, Folha de S. Paulo, 25 de nov. 2018.

Elza Soares, A bossa negra. Odeon, 1960.

Alaíde Costa, Alaíde canta suavemente, RCA Victor, 1960.

Publicado

2024-05-16

Número

Sección

Dossiê: Estudos urbanos, processos de racialização e produção da diferença