Associação entre etnia e sobrepeso/obesidade populacional no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.rmrp.2023.198948

Palavras-chave:

Desigualdade racial em saúde , Obesidade coletiva, Comportamento alimentar , Índice de Massa Corporal , Sobrepeso

Resumo

Introdução: A obesidade é uma doença multifatorial, crônica e progressiva, que afeta parcelas consideráveis da população mundial e brasileira. Estudos mostram que sociedades e ambientes com maiores níveis de racismo estrutural podem desencadear maiores níveis de prevalência de obesidade nas suas populações marginalizadas. Assim, a maior vulnerabilidade das populações de etnia preta no Brasil, decorrentes do racismo estrutural e institucional instaurado, leva a maiores índices de sobrepeso e obesidade ocasionadas pela incapacidade de tais populações garantirem a segurança alimentar. Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar a evolução da prevalência do sobrepeso e obesidade nas populações da etnia branca e preta no Brasil, avaliando hábitos alimentares com potencial de promover a obesidade. Além disso, buscou-se relacionar o agravamento do IMC populacional no Brasil com a etnia e o racismo estrutural presente na sociedade brasileira. Método: Trata-se de um estudo descritivo de cunho transversal. Foram selecionadas 12 questões padronizadas do inquérito VIGITEL realizados nos anos de 2011 a 2020. Os dados foram analisados ​​por meio de estatística descritiva, e para comparação entre os grupos étnicos aplicou-se o teste T de Student.

Resultados: Os resultados, de modo geral, evidenciam que indivíduos da etnia preta apresentam maior grau de IMC (Kg/m2) em comparação à etnia branca. Os dados de IMC entre as capitais brasileiras demonstram que tanto em 2011, quanto em 2020, as médias do índice avaliado foram maiores entre a população de etnia preta, apresentando 26,03 Kg/m2 e 27,07 Kg/m2 respectivamente, enquanto os indivíduos declarados brancos tiveram médias de 25,7 Kg/m2 e 26,45 Kg/m2 nos mesmos anos. O IMC médio nos anos de 2011 a 2020, de 25,99 Kg/m2 para a etnia branca, e de 26,50 Kg/m2 para a etnia preta indicam sobrepeso no âmbito nacional. Ademais, o consumo médio de verduras e legumes foi inferior entre a etnia preta, a qual manifestou uma frequência alimentar maior no consumo de refrigerante ou suco artificial do que a etnia branca, apresentando, de um modo geral, uma alimentação de menor qualidade.

Conclusão: O IMC médio e a prevalência de sobrepeso estão aumentando nas populações das capitais do Brasil, sendo tal aumento mais acentuado nas populações da etnia preta. Também se observou que as populações da etnia preta possuem uma alimentação de menor qualidade, quando comparado à alimentação da população de etnia branca.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Thaís da Luz Fontoura Pinheiro, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria (RS), Brasil

    Mestre em Engenharia de Alimentos

  • Lenise David da Silva, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria (RS), Brasil

    Mestranda em Administração

  • Carollyne Maragoni Santos, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), Brasil

    Mestranda em Ciência dos Alimentos

  • Gabriel Mutschal de Oliveira, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria (RS), Brasil

    Doutorando em Administração

  • Dalciomar Pimentel Borba, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria (RS), Brasil

    Mestrando em Administração Pública

  • Eduardo Botti Abbade, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria (RS), Brasil

    Doutor em Agronegócios

Referências

Abbade EB. Análise das internações hospitalares para procedimentos de cirurgias bariátricas financiadas pelo SUS em âmbito nacional. Med Ribeirao Preto Online 2019; 52: 201–211.

Malta DC, Andrade SC, Claro RM, et al. Trends in prevalence of overweight and obesity in adults in 26 Brazilian state capitals and the Federal District from 2006 to 2012. Rev Bras Epidemiol 2014; 17: 267–276.

Rech DC, Borfe L, Emmanouilidis A, et al. As políticas públicas e o enfrentamento da obesidade no Brasil: uma revisão reflexiva. Rev Epidemiol E Controle Infecção 2016; 1: 192–202.

Gibson S, Lambert J, Neate D. Associations between weight status, physical activity, and consumption of biscuits, cakes and confectionery among young people in Britain. Nutr Bull 2004; 29: 301–309.

Louzada ML da C, Baraldi LG, Steele EM, et al. Consumption of ultra-processed foods and obesity in Brazilian adolescents and adults. Prev Med 2015; 81: 9–15.

Silva FM, Giatti L, Figueiredo RC de, et al. Consumption of ultra-processed food and obesity: cross sectional results from the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) cohort (2008–2010). Public Health Nutr 2018; 21: 2271–2279.

Weinsier RL, Hunter GR, Heini AF, et al. The etiology of obesity: Relative contribution of metabolic factors, diet, and physical activity. Am J Med 1998; 105: 145–150.

Bell C, Kerr J, Young J. Associations between Obesity, Obesogenic Environments, and Structural Racism Vary by County-Level Racial Composition. Int J Environ Res Public Health 2019; 16: 861.

Swinburn B, Egger G, Raza F. Dissecting obesogenic environments: The development and application of a framework for identifying and prioritizing environmental interventions for obesity. Prev Med 1999; 29: 563–570.

Mackey ER, Burton ET, Cadieux A, et al. Addressing Structural Racism Is Critical for Ameliorating the Childhood Obesity Epidemic in Black Youth. Child Obes 2022; 18: 75–83.

Krieger N. Discrimination and Health Inequities. Int J Health Serv 2014; 44: 643–710.

López LC. O conceito de racismo institucional: aplicações no campo da saúde. Interface - Comun Saúde Educ 2012; 16: 121–134.

Carneiro S. Mulheres em movimento. Estud Av 2003; 17: 117–133.

Figueiredo A. Fora do jogo: a experiência dos negros na classe média brasileira. Cad Pagu 2004; 199–228.

NÓRTE C, MACIEIRA R, FURTADO A. Formação: ética, política e subjetividades na Psicologia. Rio de Janeiro: Conselho Regional de Psicologia, 2010.

Bersani H. Aportes teóricos e reflexões sobre o racismo estrutural no Brasil. Rev Extraprensa 2018; 11: 175–196.

Nunes DH, Lehfeld LS, Netto CEM. A desconstrução do mito da democracia racial e o racismo estrutural no Brasil: educação e transformação social. Rev Direito 2021; 0: 79–104.

Barrett CB. Measuring food insecurity. Science 2010; 327: 825–828.

Aaron DG, Stanford FC. Is obesity a manifestation of systemic racism? A ten-point strategy for study and intervention. J Intern Med 2021; 290: 416–420.

Oraka CS, Faustino DM, Oliveira E, et al. Raça e obesidade na população feminina negra: uma revisão de escopo. Saúde E Soc; 29.

NCD Risk Factor Collaboration. The weight of the world–trends in adult body mass index in 200 countries since 1975: pooled analysis of 1,698 population-based measurement studies with 19.2 million participants. Lancet 2016; 387: 1377–1396.

Vitale M, Bianchi MA, Rapetti V, et al. A nutritional intervention programme at a worksite canteen to promote a healthful lifestyle inspired by the traditional Mediterranean diet. Int J Food Sci Nutr 2018; 69: 117–124.

Cordova R, Kliemann N, Huybrechts I, et al. Consumption of ultra-processed foods associated with weight gain and obesity in adults: a multi-national cohort study. Clin Nutr 2021; 40: 5079–5088.

Nardocci M, Leclerc B-S, Louzada M-L, et al. Consumption of ultra-processed foods and obesity in Canada. Can J Public Health 2019; 110: 4–14.

González-Muniesa P, Mártinez-González MA, Hu FB, et al. Obesity. Nat Rev Dis Primer 2017; 3: 17034.

Cheng Z, Zheng L, Almeida FA. Epigenetic reprogramming in metabolic disorders: nutritional factors and beyond. J Nutr Biochem 2018; 54: 1–10.

Ghosh S, Bouchard C. Convergence between biological, behavioural and genetic determinants of obesit. Nat Rev Genet 2017; 18: 731–748.

Bleich SN, Ard JD. COVID-19, obesity, and structural racism: understanding the past and identifying solutions for the future. Cell Metab 2021; 33: 234–241.

Oraka CS, Faustino DM, Oliveira E, et al. Raça e obesidade na população feminina negra: uma revisão de escopo. 2021; 10.

Assari S. Health disparities due to diminished return among black Americans: Public policy solutions.

Sanders R. The color of fat: racializing obesity, recuperating whiteness, and reproducing injustice. Polit Groups Identities 2019; 7: 287–304.

Goes EF, Ramos D de O, Ferreira AJF. Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19. Trab Educ E Saúde 2020; 18: e00278110.

Barreto NMPV, Rios JDC, Ribeiro EB, et al. Vulnerabilidades sociais relacionadas à infecção e mortalidade por covid-19: uma revisão sistemática. Rev Saúde Coletiva UEFS 2021; 11: e6039–e6039.

Jaime PC. Pandemia de COVID19: implicações para (in)segurança alimentar e nutricional. Ciênc Saúde Coletiva 2020; 25: 2504–2504.

GALINDO, E. Working Paper 4: Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil. Berlin: Food for Justice: Power, Politics, and Food Inequalities in a Bioeconomy, https://www.lai.fu-berlin.de/en/forschung/food-for-justice/publications/Publikationsliste_Working-Paper-Series/Working-Paper-4/index.html (2021, accessed 14 February 2022).

IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares : 2017-2018 : análise da segurança alimentar no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101749 (2020, accessed 14 February 2022).

Barroso TA, Marins LB, Alves R, et al. Association of Central Obesity with The Incidence of Cardiovascular Diseases and Risk Factors. Int J Cardiovasc Sci 2017; 30: 416–424.

Dee A, Kearns K, O’Neill C, et al. The direct and indirect costs of both overweight and obesity: a systematic review. BMC Res Notes 2014; 7: 242.

Delisle H, Batal M. The double burden of malnutrition associated with poverty. The Lancet 2016; 387: 2504–2505.

Canella DS, Levy RB, Martins APB, et al. Ultra-Processed Food Products and Obesity in Brazilian Households (2008–2009). PLOS ONE 2014; 9: e92752.

Publicado

2023-04-14

Edição

Seção

Artigo Original

Como Citar

1.
Pinheiro T da LF, Silva LD da, Santos CM, Oliveira GM de, Borba DP, Abbade EB. Associação entre etnia e sobrepeso/obesidade populacional no Brasil . Medicina (Ribeirão Preto) [Internet]. 14º de abril de 2023 [citado 5º de maio de 2024];56(1):e-198948. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/198948