Trabalho doméstico não remunerado: persistência da divisão sexual e transtornos mentais

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004502

Palabras clave:

Trabalho Doméstico, Ambiente Domiciliar, Transtornos Mentais, epidemiologia, Saúde de Gênero, Fatores Socioeconômicos

Resumen

OBJETIVO: Avaliar características do trabalho doméstico não remunerado e sua associação com transtornos mentais, explorando diferenciais de gênero. MÉTODOS: Neste estudo foram analisados dados transversais da segunda onda de uma coorte da população urbana (n = 2.841) com idade a partir dos 15 anos de uma cidade de médio porte da Bahia (BA). A amostra representativa da população foi aleatoriamente selecionada em etapas múltiplas subsequentes. As entrevistas foram realizadas nos domicílios dos participantes do levantamento. O estudo analisou dados sociodemográficos, ocupacionais, do trabalho doméstico não remunerado e adoecimento mental, estratificadas por sexo. Investigou-se associação entre o conflito trabalho-família-tempo para si, o desequilíbrio esforço-recompensa no trabalho doméstico e familiar e a ocorrência de transtornos mentais comuns, de transtorno de ansiedade generalizada e de depressão. Foram estimadas prevalências, razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança de 95%. RESULTADOS: Entre os participantes, verificou-se que as atividades domésticas não remuneradas eram realizadas por 71,3% dos homens e 95,2% das mulheres, que se mostraram as principais responsáveis pelas atividades de trabalho investigadas, exceto pequenos consertos. A inserção em trabalho remunerado foi maior entre os homens (68,1% contra 47,2% entre as mulheres). A distribuição dos estressores e experiência de conflitos evidenciou situação inversa entre homens e mulheres: o maior percentual entre os homens foi de baixo conflito trabalho-família-tempo para si (39,0%), já entre as mulheres, maior percentual foi de alto conflito (40,0%); entre os homens, 45,8% referiram baixo desequilíbrio esforço-recompensa no trabalho doméstico e familiar, enquanto apenas 28,8% das mulheres relataram baixo desequilíbrio. Os transtornos mentais investigados foram mais prevalentes entre as mulheres, que apresentaram significativa associação entre o conflito trabalho-família-tempo pessoal e os transtornos mentais comuns e a depressão; entre os homens o conflito teve maior associação com os transtornos mentais comuns. Já o desequilíbrio esforço-recompensa se mostrou fortemente relacionado aos TMC, ao transtorno de ansiedade generalizada e à depressão. Entre os homens, esse desequilíbrio relacionou-se principalmente à depressão. CONCLUSÕES: O trabalho doméstico persiste como atribuição majoritariamente feminina. As situações estressoras do trabalho doméstico não remunerado e o conflito trabalho-família-tempo para si associaram-se mais fortemente aos efeitos adversos na saúde mental das mulheres.

Referencias

Medeiros M, Pinheiro LS. Desigualdades de gênero em tempo de trabalho pago e não pago no Brasil, 2013. Soc Estado. 2018;33(1):161-87. https://doi.org/10.1590/s0102-699220183301007

Hirata H, Laborie F, Le Doaré H, Senotier D, compiladores. Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: Editora UNESP; 2009. 324 p.

Hirata H. Mudanças e permanências nas desigualdades de gênero: divisão sexual do trabalho numa perspectiva comparativa. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert Stiftung-Brasil; 2015.

Saffioti HIB. Força de trabalho feminina no Brasil: no interior das cifras. Perspectivas.1985;8:95-141.

Bruschini C. Trabalho doméstico: inatividade econômica ou trabalho não-remunerado? Rev Bras Estud Popul. 2006;23(2):331-53. https://doi.org/10.1590/S0102-30982006000200009

Hirata H, Kergoat D. Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Cad Pesq. 2007;37(132):595-609. https://doi.org/10.1590/S0100-15742007000300005

Madalozzo R, Martins SR, Shiratori L. Participação no mercado de trabalho e no trabalho doméstico: homens e mulheres têm condições iguais? Rev Estud Fem. 2010;18(2):547-66. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2010000200015

Pinheiro LS. O trabalho nosso de cada dia: determinantes do trabalho doméstico de homens e mulheres no Brasil [tese]. Brasília, DF: Universidade de Brasília; 2018. 314 p.

Des Rivières-Pigeon C, Saurel-Cubizolles MJ, Romito P. Division of domestic work and psychological distress 1 year after childbirth: a comparison between France, Quebec and Italy. J Community Appl Soc Psychol. 2002;12(6):397-409. https://doi.org/10.1002/casp.697

Pinho PS, Araújo TM. Associação entre sobrecarga doméstica e transtornos mentais comuns em mulheres. Rev Bras Epidemiol. 2012;15(3):560-72. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2012000300010

Araújo TM, Godinho TM, Reis EJFB, Almeida MMG. Diferenciais de gênero no trabalho docente e repercussões sobre a saúde. Cienc Saude Colet. 2006;11(4):1117-29. https://doi.org/10.1590/S1413-81232006000400032

Melo HP, Castilho M. Trabalho reprodutivo no Brasil: quem faz? Rev Econ Contemp. 2009;13(1):135-58. https://doi.org/10.1590/S1415-98482009000100006

Boris E. Produção e reprodução, casa e trabalho. Tempo Soc. 2014;26(1):101-21. DOI: 10.1590/S0103-20702014000100008

Glass J, Fujimoto T. Housework, paid work, and depression among husbands and wives. J Health Soc Behav. 1994;35(2):179-91. https://doi.org/10.2307/2137364

Bird CE. Gender, household labor, and psychological distress: the impact of the amount and division of housework. J Health Soc Behav. 1999;40(1):32-45. https://doi.org/10.2307/2676377

Pinto KA. Gênero e conflito entre trabalho e família: relação com a saúde física e mental de adultos no Brasil [tese]. Salvador, BA: Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia; 2013. 109 p.

Noor NM. The relationship between wives’ estimates of time spent doing housework, support and wives’ well-being. J Community Appl Soc Psychol. 1997;7(5):413-23. https://doi.org/10.1002/(SICI)1099-1298(199712)7:5<413::AID-CASP433>3.0.CO;2-J

Khawaja M, Habib RR. Husbands’ involvement in housework and women’s psychosocial health: findings from a population-based study in Lebanon. Am J Public Health. 2007;97(5):860-6. https://doi.org/10.2105/AJPH.2005.080374

Mencarini L, Sironi M. Happiness, housework and gender inequality in Europe. Eur Sociol Rev. 2010;28(2):203-19. https://doi.org/10.1093/esr/jcq059

Golding JM. Division of household labor, strain, and depressive symptoms among Mexican Americans and non-Hispanic whites. Psychol Women Q. 1990;14(1):103-17. https://doi.org/10.1111/j.1471-6402.1990.tb00007.x

Vasconcellos IRR. Adaptação transcultural para o Português brasileiro da escala de desequilíbrio esforço-recompensa no trabalho doméstico e familiar entre trabalhadoras de enfermagem [tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz; 2018. 155 p.

Sperlich S, Peter R, Geyer S. Applying the effort-reward imbalance model to household and family work: a population-based study of German mothers. BMC Public Health. 2012;12:12. https://doi.org/10.1186/1471-2458-12-12

Araújo TM, Pinho PS, Almeida MMG. Prevalência de transtornos mentais comuns em mulheres e sua relação com as características sociodemográficas e o trabalho doméstico. Rev Bras Saude Mater Infant. 2005;5(3):337-48. https://doi.org/10.1590/S1519-38292005000300010

Araújo TM, Aquino E, Menezes G, Santis CO, Aguiar L. Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de enfermagem. Rev Saude Publica. 2003;37(4):424-33. https://doi.org/10.1590/S0034-89102003000400006

Araújo TM; Godinho TM, Reis EJFB, Almeida MMG. Diferenciais de gênero no trabalho docente e repercussões sobre a saúde. Cienc Saude Colet. 2006;11(4):1117-29. https://doi.org/10.1590/S1413-81232006000400032

Griep RH, Toivanen S, Santos IS, Rotenberg L, Juvanhol LL, Goulart AC, et al. Work-family conflict, lack of time for personal care and leisure, and job strain in migraine: results of the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Am J Ind Med. 2016;59(11):987-1000. https://doi.org/10.1002/ajim.22620

Greenhaus JH, Beutell NJ. Sources of conflict between work and family roles. Acad Manag Rev. 1985;10(1):76-88. https://doi.org/10.2307/258214

Santos KOB, Carvalho FM, Araújo TM. Internal consistency of the Self-Reporting Questionnaire-20 in occupational groups. Rev Saude Publica. 2016;50:6. https://doi.org/10.1590/S1518-8787.2016050006100

Santos KOB, Araújo TM, Pinho PS, Silva ACC. Avaliação de um instrumento de mensuração de morbidade psíquica: estudo de validação do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). Rev Baiana Saude Publica. 2010;34(3):544-60. https://doi.org/10.22278/2318-2660.2010.v34.n3.a54

Spitzer RL, Kroenke K, Williams JB. Validation and utility of a self-report version of PRIME-MD: the PHQ primary care study. JAMA. 1999;282(18):1737-44. https://doi.org/10.1001/jama.282.18.1737

Fraguas Jr R, Henriques Jr SG, De Lucia MS, Iosifescu DV, Schwartz FH, Menezes PR, et al. The detection of depression in medical setting: a study with PRIME-MD. J Affect Disord. 2006;91(1):11-7. https://doi.org/10.1016/j.jad.2005.12.003

Kroenke K, Spitzer RL, Williams JBW, Lowe B. The Patient Health Questionnaire somatic, anxiety, and depressive symptom scales: a systematic review. Gen Hosp Psychiatry. 2010;32(4):345-59. https://doi.org/10.1016/j.genhosppsych.2010.03.006

Santos IS, Tavares BK, Munhoz TN, Almeida LSP, Silva NTB, Tams BD, et al. do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) entre adultos da população geral. Cad Saude Publica. 2013;29(8):1533-43. https://doi.org/10.1590/0102-311X00144612

Siegrist J. Adverse health effects of high-effort/low-reward conditions. J Occup Health Psychol.1996;1(1):27-41. https://doi.org/10.1037//1076-8998.1.1.27

Publicado

2023-05-30

Número

Sección

Original Articles

Cómo citar

Carneiro, C. M. M., Pinho, P. de S., Teixeira, J. R. B., & Araújo, T. M. de. (2023). Trabalho doméstico não remunerado: persistência da divisão sexual e transtornos mentais. Revista De Saúde Pública, 57(1), 31. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004502

Datos de los fondos