Características de mulheres com uma ou mais cesáreas anteriores no nascer no Brasil

Autores/as

  • Marina Barreto Alvarenga Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Programa de Epidemiologia em Saúde Pública, Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0003-1133-1924
  • Silvana Granado Nogueira da Gama Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9200-0387
  • Marcos Nakamura-Pereira Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Programa de Epidemiologia em Saúde Pública, Rio de Janeiro, RJ, Brasil https://orcid.org/0000-0002-4231-0205

DOI:

https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004819

Palabras clave:

Parto Obstétrico, Nascimento Vaginal após Cesárea, Parto Normal, Cesárea, Saúde Materna

Resumen

OBJETIVO: Analisar descritivamente as parturientes brasileiras com cesariana anterior e apontar os fatores associados ao parto vaginal após cesárea (Vaginal Birht After Cesarean– VBAC) no Brasil. MÉTODOS: Foram utilizados dados de mulheres com uma, duas ou três e mais cesáreas da pesquisa Nascer no Brasil. As diferenças entre categorias foram avaliadas pelo teste de quiquadrado (χ2). As variáveis que apresentaram diferença significativa (< 0,05) foram incluídas em regressão logística. RESULTADOS: Do total de 23.894 mulheres, 20,9% tinham cesárea anterior. A maior parte (85,1%) foi submetida a outra cesárea, 75,5% antes do início do trabalho de parto. A porcentagem de VBAC foi de 14,9%, uma taxa de sucesso de 60,8%. Mulheres com três cesáreas ou mais apresentaram maior vulnerabilidade social. As chances de VBAC foram maiores entre aquelas decididas pelo parto vaginal no fim da gestação, com parto vaginal anterior, indução de parto, admitidas com mais de 4 centímetros de dilatação e sem companheiro. Assistência no sistema privado, ter duas cesáreas ou mais, complicações obstétricas e decisão por cesariana no final da gestação diminuíram as chances de VBAC. Faixa etária, escolaridade, adequação do pré-natal e razão da cesárea anterior não apresentaram diferença significativa. CONCLUSÃO: A maior parte das mulheres com cesárea anterior no Brasil é encaminhada para uma nova cirurgia, e o maior número de cesáreas está associado à maior iniquidade social. Os fatores associados ao VBAC foram decisão pelo parto vaginal no fim da gestação, parto vaginal anterior, maior dilatação cervical na internação, indução, atendimento no sistema público de saúde, ausência de complicações obstétricas e ausência de companheiro. São necessárias ações de estímulo ao VBAC, visando reduzir taxas globais de cesarianas e suas consequências para a saúde materno-infantil.

Referencias

Datasus. Nascidos vivos – Brasil. Período: 1994-2019. [citado 14 out 2021]. Disponível em:

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def

Ministério da Saúde (BR). Assistência integral à saúde da mulher: bases de ação programática. Brasília, DF: Centro de Documentação;1985 [citado 17 dez 2021]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/assistencia_integral_saude_mulher.pdf

Ministério da Saúde (BR). Portaria Nº 2.816, de 29 de maio de 1998 [citado 17 dez 2021]. Determinar que no Programa de Digitação de Autorizações de Internação Hospitalar, SISAIH01, seja implantada critica,visando o pagamento do percentual maxim° de cesarianas, em relação ao total de partos por hospital. Disponivel em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2816_29_05_1998.html

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenadora da Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2001 [citado 17 dez 2021]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf

Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologia em Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2017 [citado 17 dez 2021]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf

Organização Mundial da Saúde. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2015 [citado 14 out 2021]. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/161442/WHO_RHR_15.02_por.pdf;jsessionid=4EDA51B15741AFCB90F44F658EC519C4?sequence=3

D’Orsi E, Chor D, Giffin K, Barbosa GP, Angulo-Tuesta AJ, Gama AS, et al. Factors associated with vaginal birth after cesarean in a maternity hospital of Rio de Janeiro. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2001 Aug;97(2):152-7. https://doi.org/10.1016/S0301-2115(00)00523-6

D’Orsi E. Fatores associados à realização de cesáreas e qualidade da atenção ao parto no Município do Rio de Janeiro [tese]. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; 2003.

Nakamura-Pereira M, Esteves-Pereira AP, Gama SG, Leal M. Elective repeat cesarean delivery in women eligible for trial of labor in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2018 Dec;143(3):351-9. https://doi.org/10.1002/ijgo.12660

Cragin E. Conservatism in obstetrica. New York Med J. 1916;104(1):1-26. [citado 14 out 2021]. Disponível em: https://archive.org/details/newyorkmedicaljo1041unse/page/n7

Landon MB, Hauth JC Leveno KJ, Spong CY, Leindecker S, Varner MW, et al. Maternal and perinatal outcomes associated with a trial of labour after prior cesareal delivery. Engl J Med. 2004;351(25):2581-9. https://doi.org/10.1056/NEJMoa040405

Silver RM, Landon MB, Rouse DJ, Leveno KJ, Spong CY, Thom EA, et al. Maternal morbidity associated with multiple repeat cesarean deliveries. Obstet Gynecol. 2006 Jun;107(6):1226-32. https://doi.org/10.1097/01.AOG.0000219750.79480.84

Guise JM, Eden K, Emeis C, Denman MA, Marshall N, Fu RR, et al. Vaginal birth after cesarean: new insights. Evid Rep Technol Assess (Full Rep). 2010 Mar;(191):1-397.

Leal MCS, Dias AAM, Gama MAB, Rattner SGN, Moreira D, Theme Filha ME, et al. Birth in Brazil: national survey into labour and birth. Reprod Health. 2012. Aug(22): 9-15. https://doi.org/10.1186/1742-4755-9-15

Vasconcellos MT, Silva PL, Pereira AP, Schilithz AO, Souza Junior PR, Szwarcwald CL. Desenho da amostra Nascer no Brasil. Pesquisa Nacional sobre Parto e Nascimento. Cad Saude Publica. 2014;30 Suppl:49-58. https://doi.org/10.1590/0102-311X00176013

Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério Classificação Econômica Brasil. São Paulo: Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa; 2008 [citado 14 out 2021]. Disponível em: http://www.aba.com.br/wp-content/uploads/content/7727632a373615b34f2a5726fcc5c9e2.pdf

Domingues RM, Viellas EF, Dias MA, Torres JA, Theme-Filha MM, Gama SG, et al. Adequação da assistência pré-natal segundo as características maternas no Brasil. Rev Panam Salud Publica. 2015 Mar;37(3):140–7. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000300003

Dias MA, Domingues RM, Schilithz AO, et al. Factors associated with cesarean delivery during labor in primiparous women assisted in the Brazilian Public Health System: data from a National SurveyReproductive Health. 2016;13(Suppl 3):114. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000300003

Nascer no Brasil. Inquérito nacional sobre parto e nascimento: sumário executivo temático da pesquisa. 2014 [citado 14 out 2021]. Disponível em: https://nascernobrasil.ensp.fiocruz.br/wpcontent/uploads/2019/12/sumario_executivo_nascer_no_brasil.pdf

Organização Mundial da Saúde. Robson classification: implementation manual. Geneva: World Health Organization, 2017 [citado 14 dez 2021]. Disponível em:https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/259512/9789241513197-eng.pdf?sequence=1

Matijasevich A, Victora CG, Silveira MF, Wehrmeister FC, Horta BL, Barros FC, et al. Maternal reproductive history: trends and inequalities in four population-based birth cohorts in Pelotas, Brazil, 1982-2015. Int J Epidemiol. 2019 Apr;48 Suppl 1:i16–25. https://doi.org/10.1093/ije/dyy169

Leal MC, Gama SGN, Pereira APE et al. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil. Cad Saude Pública 2017;33(1):1-17. https://doi.org/10.1590/0102-311X00078816

Ministério da Saúde (BR). Parto vaginal com cesariana prévia. In: Diretrizes de atenção à gestante: a operação cesariana. Brasília, DF: Conitec; 2015 [citado 22 nov 2021]. p.52-64. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2015/Relatorio_PCDTCesariana_CP.pdf

Diniz SG, Chacham AS. “The cut above” and “the cut below”: the abuse of caesareans and episiotomy in São Paulo, Brazil. Reprod Health Matters. 2004 May;12(23):100-10. https://doi.org/10.1016/S0968-8080(04)23112-3

Diniz SG. Humanizacão da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Cienc Saude Colet. 2005;10(3):627-37. https://doi.org/10.1590/S1413-81232005000300019

Riscado LC. Os sentidos da cesariana entre usuárias do setor privado e público de saúde: convivência de estratégias biopolíticas no “fazer nascer”. [Tese] – Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, Rio de Janeiro, Brasil, 2016.

Leal MC. Parto e nascimento no Brasil: um cenário em processo de mudança. Editorial. Cad Saude Publica. 2018;34(5):e00063818. https://doi.org/10.1590/0102-311X00063818

Maroyi R, Naomi B, Moureau MK, Marceline BS, Ingersoll C, Nerville R, et al. Factors associated with successful vaginal birth after a primary cesarean section in women with an optimal inter-delivery interval. Int J Womens Health. 2021 Oct;13:903–9. https://doi.org/10.2147/IJWH.S334269

Fitzpatrick K, Kurinczuk J, Quigley M. Planned mode of birth after previous caesarean section and special educational needs in childhood: a population‐based record linkage cohort study. BJOG. dezembro de 2021;128(13):2158-68. https://doi.org/10.1111/1471-0528.16828

Mi Y, Qu P, Guo N, Bai R, Gao J, Ma Z, et al. Evaluation of factors that predict the success rate of trial of labor after the cesarean section. BMC Pregnancy Childbirth. dezembro de 2021;21(1):527. https://doi.org/10.1186/s12884-021-04004-z

Domingues RM, Dias MA, Nakamura-Pereira M, Torres JÁ, d’Orsi E, Pereira APE, et al. Processo de decisão pelo tipo de parto no Brasil: da preferência inicial das mulheres à via de parto final. Cad Saude Publica. 2014;30(Suppl 1):S101-16. https://doi.org/10.1590/0102-311X00105113

Landon MB, Leindecker S, Spong CY, Hauth JC, Bloom S, Varner MW, et al.; National Institute of Child Health and Human Development Maternal-Fetal Medicine Units Network. The MFMU Cesarean Registry: factors affecting the success of trial of labor after previous cesarean delivery. Am J Obstet Gynecol. 2005 Sep;193(3 Pt 2):1016–23.

https://doi.org/10.1016/j.ajog.2005.05.066

Leal MD, Bittencourt SA, Esteves-Pereira AP, Ayres BV, Silva LB, Thomaz EB, et al. Avanços na assistência ao parto no Brasil: resultados preliminares de dois estudos avaliativos. Cad Saude Publica. 2019 Jul;35(7):e00223018. https://doi.org/10.1590/0102-311x00223018

Batista Filho M, Rissin A. Rissin. A OMS e a epidemia de cesarianas. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2018;18(1):3–4. https://doi.org/10.1590/1806-93042018000100001

Nakamura-Pereira M, do Carmo Leal M, Esteves-Pereira AP, Domingues RM, Torres JA, Dias MA, et al. Use of Robson classification to assess cesarean section rate in Brazil: the role of source of payment for childbirth. Reprod Health. 2016 Oct;13(S3 Suppl 3):128. https://doi.org/10.1186/s12978-016-0228-7

Knobel R, Lopes TJ, Menezes MO, Andreucci CB, Gieburowski JT, Takemoto ML. Cesarean-section Rates in Brazil from 2014 to 2016: Cross-sectional analysis using the Robson classification. Rev Bras Ginecol Obstet. 2020 Sep;42(9):522-8.

https://doi.org/10.1055/s-0040-1712134

Publicado

2023-11-13

Número

Sección

Original Articles

Cómo citar

Alvarenga, M. B., Gama, S. G. N. da, & Nakamura-Pereira, M. (2023). Características de mulheres com uma ou mais cesáreas anteriores no nascer no Brasil. Revista De Saúde Pública, 57(1), 89. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004819

Datos de los fondos