Trajetórias do sagrado

Auteurs

  • Lísias Nogueira Negrão Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Sociologia

DOI :

https://doi.org/10.1590/S0103-20702008000200006

Mots-clés :

Pluralismo religioso, Trajetórias religiosas, Duplicidade religiosa, Religião individual

Résumé

O objetivo deste artigo é analisar a dinâmica atual do campo religioso paulistano, vista não por intermédio da pluralidade de suas organizações religiosas, nem dos posicionamentos de lideranças eclesiais ou grupais. Nele focamos os agentes religiosos individuais e suas atitudes diante do pluralismo religioso crescente, que culminou na formação de um campo altamente diversificado. Para isso selecionamos indivíduos que são mutantes religiosos, isto é, que mudaram de orientação religiosa ao menos uma vez em suas vidas, ou então que são dúplices ou multíplices religiosos, participantes de dois ou mais universos simbólico-religiosos simultaneamente. Por meio do levantamento de suas trajetórias religiosas analisaram-se suas crenças e práticas rituais, independentemente da pertença ou não a grupos organizados. Com a única exceção dos protestantes, tanto históricos quanto pentecostais - estes um tanto diferenciados pela incorporação da magia -, ainda ancorados na concepção de um Deus transcendente e numa forte eclesialidade, podem ser detectadas tendências em direção a uma religiosidade que Troeltsch chamou de mística, o que implicaria, segundo Campbell, em sua orientalização. Os adeptos de qualquer outra religião ou então os dúplices/multíplices aproximam-se de concepções religiosas místicas e práticas mágicas vividas na privacidade, admitem a freqüência a grupos religiosos diversos e repudiam o autoritarismo clerical. As velhas tramas das duplicidades religiosas tradicionais (catolicismo/espiritismo; catolicismo religiões afro-brasileiras) ampliam-se com novas formas (católica/protestante; católica/outras religiões) e com a emergência da multiplicidade, reproduzindo à brasileira as mesmas transformações vividas há muito em todo o Ocidente.

##plugins.themes.default.displayStats.downloads##

##plugins.themes.default.displayStats.noStats##

Références

BOURDIEU, Pierre. (1974), “Gênese e estrutura do campo religioso”. In: A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Perspectiva, pp. 27-69.

CAMPBELL, Colin. (1997), “A orientalização do Ocidente: reflexões sobre uma nova teodicéia para um novo milênio”. Religião e Sociedade, 18 (1).

FOLHA DE S. PAULO. (2007), Caderno Religião, 6/5.

GALVÃO, Walnice Nogueira. (2001), O império do Belo Monte: vida e morte de Canudos. São Paulo, Fundação Perseu Abramo.

HOORNAERT, Eduardo. (1974), Formação do catolicismo brasileiro, 1550-1800. Petrópolis, Vozes.

HOORNAERT, Eduardo. (org.). (1977), História da Igreja no Brasil, tomo 2. Petrópolis, Vozes.

IBGE. (1991), Censo demográfico brasileiro de 1991.

HOORNAERT, Eduardo. (2000), “Tendências demográficas: uma análise com base nos resultados dos censos de 1940 e 2000”. Estudos e Pesquisas, n. 20.

MONTEIRO, Duglas Teixeira. (1974), Os errantes do novo século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. São Paulo, Duas Cidades.

OLIVEIRA, Pedro Ribeiro de. (1976), “Catolicismo popular e romanização do catolicismo brasileiro”. Revista Eclesiástica Brasileira, 36 (141).

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. (1973), “O catolicismo rústico no Brasil”. In: O campesinato brasileiro: ensaios sobre civilização e grupos rústicos no Brasil. Petrópolis, Vozes.

RIBEIRO, Boanerges. (1973), Protestantismo no Brasil monárquico. São Paulo, Pioneira TROELTSCH, Ernst. (1958), Protestantism and progress: a historical study of the relation of protestantism to the modern world. 1ª edição 1907. Londres, Beacon Press.

Téléchargements

Publiée

2008-11-01

Numéro

Rubrique

Dossiê - Sociologia da Religião

Comment citer

Negrão, L. N. (2008). Trajetórias do sagrado . Tempo Social, 20(2), 115-132. https://doi.org/10.1590/S0103-20702008000200006