Sobre o estatuto epistemológico da racionalidade econômica segundo Karl Popper

Autores

  • Brena Paula Magno Fernandez Universidade Federal de Santa Catarina Autor
  • Duilio de Avila Bêrni Universidade Federal de Santa Catarina Autor

Palavras-chave:

Epistemologia da Economia, Karl Popper, Postulado da Racionalidade

Resumo

Três tipos de críticas são comumente levantados contra a utilização do postulado da racionalidade na ciência econômica. A primeira delas associa-se ao argumento da circularidade, a segunda diz respeito à blindagem da teoria contra a refutação e a terceira – e mais importante delas – refere-se à inadequação empírica. O presente artigo busca encaminhar esta última, à luz do tratamento dado por Popper ao longo de sua carreira para a questão de qual seria o estatuto epistemológico do princípio da racionalidade nas teorias econômicas. Três possíveis respostas a esta questão são aqui examinadas, explicitando-se suas respectivas estruturas lógicas. A primeira delas propõe que o postulado da racionalidade desempenhe o papel de lei geral do comportamento humano. A segunda requer que ele funcione como um axioma da teoria. Finalmente, a terceira proposta sugere que o postulado da racionalidade seja entendido como regra metodológica. Conclui-se o artigo sugerindo que esta última solução satisfaz ao apelo que o tipo de crítica aqui examinada faz ao conceito de racionalidade. Não obstante, ao situar-se no contexto metateórico, o postulado da racionalidade mantém importância inegável na teoria econômica. Sem ele, não se disporia de instrumentos que conduzissem à seleção de dados empíricos voltados ao teste das teorias.

 

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Brena Paula Magno Fernandez, Universidade Federal de Santa Catarina

    Professora Adjunto II do Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina.

     

     

Referências

ABEL, T. The operation called Verstehen. American Journal of Sociology v. 54, n. 3, 1948, pp. 211-218.

APEL, K. Comments on Farr’s paper (II): some critical remarks on Karl Popper’s contribution to hermeneutics, Philosophy of the Social Sciences, v. 13 n. 2, 1983, pp. 183-193

BOWLES, S. Microeconomics; behavior, institutions, and evolution. Princeton: Princeton University, 2004.

CALDWELL, B. Clarifying Popper. Journal of Economic Literature, v. 29, n.1, 1991, pp. 1-33.

CAPONI, G. Aproximação popperiana à distinção explicação-compreensão. In: OLIVEIRA P. E. (Org.) Ensaios sobre o pensamento de Karl Popper. Curitiba: PUCPR, 2012, pp.187-197.

CHURCHLAND, P. The logical character of action-explanations. The Philosophical Review n. 79, pp. 214-236, 1970.

DAVIDSON, D. On the very idea of a conceptual scheme. In: DAVIDSON, D. Essays on truth and

interpretation. Oxford: Oxford University, 1984.

FARR, J. Popper’s Hermeneutics. Philosophy of the Social Sciences, n. 13, 1983, pp.157-176.

FRANK, R.; GILOVICH, T.; REGAN, D. Does studying economics inhibit cooperation? Journal of

Economic Perspectives, v. 7, n. 2, 1993, pp. 159-171.

FRIEDMAN, M. The methodology of positive economics. In FRIEDMAN, M. essays in positive economics. Chicago: University of Chicago, 1966 [1953], pp. 3-46.

HANDS, D. W. Karl Popper and economic methodology: a new look, Economics and Philosophy, v. 1, 1985, pp. 83-99.

HANDS, D. W.Falsification, situational analysis and scientific research programs: the Popperian tradition in economic methodology. In De MARCHI, N. (Ed.). Post-Popperian methodology of economics: recovering practice. Boston/ Dordrecht /London: Kluwer Academic, 1992.

HEMPEL, C. G. The function of general laws in history. Journal of Philosophy, v. 39, n. 2, 1942, pp. 35-48.

HEMPEL, C. G. Filosofia da ciência natural. Rio de Janeiro: Zahar, 1981 [1966].

KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1997 [1970].

KUHN, T. Second thoughts on paradigms. In: SUPPE, F. (Ed.) The structure of scientific theories. Urbana: University of Illinois, 1974, pp. 459-482.

LAKATOS, I. Falsificação e metodologia dos programas de investigação científica. Lisboa: Edições 70, 1978 [1970].

LAKATOS, I. História da ciência e suas reconstruções racionais. Lisboa: Edições 70, 1978 [1973].

LATSIS, S. A research program in economics. In: LATSIS, S. (Ed.) Method and appraisal in economics. New York: Cambridge University, 1976.

MASTERMAN, M. The nature of a paradigm. In: LAKATOS, I.; MUSGRAVE, A. Criticism and the

growth of knowledge. Cambridge: Cambridge University, 1970. pp. 59-89.

MISES, L. von. Ação humana: um tratado de economia. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990 [1949].

NADEAU, R Confuting Popper on the rationality principle. Philosophy of the Social Sciences, v.23, n. 4, 1993, pp.446-467.

NOZICK, R. The nature of rationality. Princeton: Princeton University, 1993.

PIMENTEL, E. Dilema do prisioneiro: da teoria dos jogos à ética. Belo Horizonte: Argumentum, 2007.

POPPER, K. The poverty of historicism. London and New York: Routledge, 1997[1938].

POPPER, K. A sociedade aberta e seus inimigos. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1987 [1945].

POPPER, K. Lógica das ciências sociais. Brasília: Universidade de Brasília, 1978 [1961].

POPPER, K. The Rationality Principle, in MILLER, D. (Ed.) Popper Selections. Princeton: Princeton University Press, 1985 [1967], pp. 357-65. First published as La Rationalité et le Statut du Principe de Rationalité. In CLASSEN; EMIL M. (ed.) Les Fondements Philosophiques des Systemes Economiques. Paris: Payot, 1966.

POPPER, K. Models, instruments and truth – the status of the rationality principle in social sciences. In POPPER, K. The Myth of the Framework – In defence of science and rationality. London and New York: Routledge, 1994 [1967].

POPPER, K. A pluralistic approach to the philosophy of History. In POPPER, K. The myth of the framework in defence of science and rationality. London and New York: Routledge, 1994 [1969].

POPPER, K. Autobiografia intelectual. São Paulo: Cultrix, 1977 [1974].

SEN, A. Rational Fools: a critique of the behavioural foundations of economic theory, Philosophy and Public Affairs, v. 6, n. 4, 1974, pp. 317-344.

SIMON, H. The sciences of the artificial. Cambridge: MIT, 1969.

SUTHERLAND, S. Irrationality. New Jersey: Rutgers University, 1992.

TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. The framing of decisions and the psychology of choice, Science, v.

, 1981, 453-458.

WATKINS, J. Racionalidad imperfecta . In BERGER, R.; CIEFFI, F. (ed.) La explicación en las ciencias de la conducta. Madrid: Alianza, 1970.

WEISS, M. The best way to do economics: moves and countermoves in the history of economic

methodology. Durham: Texto de Discussão da Duke University, 2002. Disponível em:

HTTP://econ.duke.edu/uploads/assets/dje/2002/weiss.pdf Acesso em 22/07/2012.

WEINTRAUB, R. General equilibrium analysis. Cambridge: Cambridge University, 1985.

Downloads

Publicado

01-12-2014

Edição

Seção

Artigo

Como Citar

Fernandez, B. P. M., & Bêrni, D. de A. (2014). Sobre o estatuto epistemológico da racionalidade econômica segundo Karl Popper. Estudos Econômicos (São Paulo), 44(4), 847-880. https://www.revistas.usp.br/ee/article/view/49006