As regras do jogo da morte encefálica

Autores

  • Juliana Lopes de Macedo Universidade Federal do Pampa

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.121932

Palavras-chave:

Morte encefálica, transplantes de órgãos, Antropologia da Ciência

Resumo

Em 1968 a comunidade médica internacional cunhou o conceito “morte encefálica” que passou a ser utilizado para diagnosticar pacientes que, até então, se encontravam na condição do que se conhecia como “coma irreversível”. A partir desse momento, quando o cérebro não apresentasse mais nenhuma atividade biológica, porém, o coração permanecesse em funcionamento, estar-se-ia diante de um caso de morte encefálica. Para a medicina, isso implicou a possibilidade da realização de remoção de órgãos para cirurgias de transplantes, mas, além disso, também representou uma nova maneira de conceber a morte. O presente artigo analisa, a partir da realização de entrevistas com roteiro semiestruturado entre médicos envolvidos neste contexto, o processo de diagnóstico de morte encefálica e a negociação que se estabelece entre os diferentes atores sociais envolvidos neste processo de definição de morte.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ARIÈS, Philippe. 2003. História da morte no Ocidente. Rio de Janeiro, Ediouro.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS. 2006. Registro brasileiro de transplantes. 12(2).

BITENCOURT, Almir Galvão, et al. 2007. “Avaliação do conhecimento de estudantes de medicina sobre morte encefálica”. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 19(2): 144-150.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. 1997. Resolução 1.480 de 08 de agosto de 1997. Dispõe sobre os critérios para definição de morte encefálica.

Conselho Federal De Medicina. 2007. Resolução 1.826 de 06 de dezembro de 2007. Dispõe sobre a legalidade e o caráter ético da suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando da determinação de morte encefálica de indivíduo não-doador.

Douglas, Mary. 1991. Pureza e perigo. Lisboa, Edições 70.

DUMONT, Louis. 1985. O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. Rio de Janeiro, Rocco.

ELIAS, Norbert. 2001. A solidão dos moribundos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

GARCIA, Valter Duro, et al. 2000. “Avaliação dos dez anos de atividades da coordenação de transplantes do rs”. In . (orgs.), Por uma política de transplantes no Brasil. São Paulo, Office Editora e Publicidade Ltda, pp. 36-96.

GOOD, Byron J. 1993. “How Medicine Construct Its Objects”. In . (Org.), Medicine, Rationality and Experience – An Anthropological Perspective. Cambridge, Cambridge University Press, pp. 65-87.

KANDEL, Liliane. 1987. “Reflexões sobre o uso da entrevista, especialmente a não-diretiva, e sobre as pesquisas de opinião”. In thiollen, M. (org.), Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. São Paulo, Editora Polis, pp. 169-189.

LIMA, Cristina. 2005. “Do conceito ao diagnóstico de morte: controvérsias e dilemas éticos”. Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. 12(1): 6-10.

LOCK, Margareth. 2000. “On Dying Twice: Culture, Technology and the Determination of Death”. In Lock, M.; Young, A. e Cambrosio, A. (orgs.). Living and Working the Nex Medical Tecnologies. Cambridge, Cambridge University Press, pp. 233-262.2002 Twice Dead – Organ Transplats and the Reinvention of Death. California, University of California Press.

MENEZES, Rachel Aisengart. 2001. “Etnografia do Ensino Médico em um cti”. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, 5(9): 117-130.

MOLLARET, Pierre e goulon, Maurice. 1959. “Le Coma dépassé (mémoire préliminaire)”. Revue Neurologique, 101(1), pp. 3-15.

PESSINI, Leo e Barchifontaine, Christian de Paul de. 2002. “Eutanásia e o direito a morrer com dignidade”. In . (orgs.), Problemas atuais em Bioética. São Paulo, Edições Loyola, pp. 279-316.

PIO XII. 1958. “The Prolongation of Life”. Pope Speaks, 4(4): 393-398.

RODRIGUES, José Carlos. 2006. Tabu da morte. Rio de Janeiro, Editora Fiocruz.

SAHLINS, Marshall. 2003. Ilhas de história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.

SCHEPER-HUGES, Nancy e Biehl, João Guilherme. 2000. “O fim do corpo – comércio de órgãos para transplantes cirúrgicos”. In deBert, Guita Grin e goldstein, Donna (orgs.), Políticas do corpo e o curso da vida. São Paulo, Editora Sumaré, pp. 49-81.

Shikida, Cláudio D. e araújo jr. Ari Francisco de. 2004. Introdução à economia da alocação de órgãos para transplantes: direitos de propriedade, mercado de órgãos e filas de espera no Sistema Nacional de Transplantes. Disponível em: http://www.ceaee.ibmecmg.br/wp/wp15.pdf.

THE JOURNAL OF THE AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION. 1968. “A Definition of Irreversible Coma. Report of the Ad Hoc Committee of the Harvard Medical School to Examine the Definition of Brain Death”. The Journal of the American Medical Association, 205 (6): 85-88.

TURNER, Victor W. 1974. O processo ritual: estrutura e antiestrutura. Petrópolis, Vozes.

VAN GENNEP, Arnold. 1978. Os ritos de passagem. Petrópolis, Vozes.

Downloads

Publicado

2016-10-14

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Macedo, J. L. de. (2016). As regras do jogo da morte encefálica. Revista De Antropologia, 59(2), 32-58. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2016.121932