O barbeiro de Sevilha
análise de alguns aspectos da intertextualidade entre a comédia de Beaumarchais e o libreto da ópera de Rossini
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2447-7117.rt.2018.148722Palavras-chave:
música, libreto, Cesare Sterbini, ópera, Rossini, análise intertextualResumo
Compreender o contexto histórico e a elaboração do enredo de uma ópera são elementos fundamentais para uma visão crítica da obra de arte e, para isso, faz-se necessário investigar dados primários e fontes bibliográficas. No caso de O barbeiro de Sevilha de Rossini, o libretista Cesare Sterbini se baseou na comédia O barbeiro de Sevilha de Beaumarchais, escrita na França no final do século XVIII, numa sociedade que passava por grandes transformações sócio-políticas, rumo à Revolução Francesa. Após a leitura dos dois textos, propôs-se a identificação dos trechos da comédia de Beaumarchais mantidos e eliminados no libreto. A partir das informações obtidas, foi realizada discussão e análise das possíveis mudanças genéricas do libreto de Sterbini, tendo em vista o conteúdo de sua fonte. Da comparação do hipertexto de Sterbini com o hipotexto de Beaumarchais, pode-se depreender que o sentido político presente na comédia, derivado do seu caráter satírico (crítica dos vícios morais) é amenizado na ópera. A mudança de gênero produz um deslocamento de tom, tornando o texto de Sterbini mais leve e carregado de comicidade, sem esbarrar nas questões políticas. A caracterização de Rosina e seu destino amoroso fazem com que o texto de Sterbini se aproxime do Romantismo, em desenvolvimento na Europa da época. Assim, os procedimentos de apropriação do hipertexto também servem para adequar o enredo aos preceitos da nova estética em formação. Talvez por isso a ópera tenha se tornado tão popular para o público da época: discutia temas nascentes, como uma nova sociedade e a sua subjetividade.
Downloads
Referências
BARTHES, Roland. Introdução à análise estrutural da narrativa. Trad. Maria Zélia Barbosa Pinto. Petrópolis: Vozes, 1973.
BEAUMARCHAIS, Pierre-Augustin Caron. Le barbier de Séville. Paris: Gallimard, 1982.
BEAUMARCHAIS, Pierre Augustin Caron. O babeiro de Sevilha. Tradução de Mrio Quintana. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1946.
BERRETTINI, Célia. O teatro ontem e hoje. São Paulo: Perspectiva, 1980.
CASOY, Sergio. Óperas e outros cantares. São Paulo: Perspectiva, 2006.
CHARLE, Christophe. A gênese da sociedade do espetáculo: teatro em Paris, Berlim, Londres e Viena. Trad. Hildergard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
COELHO, Lauro M. A ópera clássica italiana. São Paulo: Perspectiva, 2003.
DENT, Edward J. Ópera. Tradução de José Blanc de Portugal. Lisboa: Ulisseia, 1963.
DUCHARTE, Pierre. The Italian comedy. New York: Dover, 1966.
GOLDIN, Daniela. La vera fenice: librettisti e libretti tra Sette e Ottocento. Torino: Einaudi, 1985.
LOEWENBERG, Alfred. Paisiello’s and Rossini’s “Barbiere di Siviglia”. Music & Letters, Oxford, v. 20, n. 2, p. 157-167, abr. 1939.
MOUSSINAC, Léon. História do teatro: das origens aos nossos dias. Trad. Mário Jacques. Lisboa: Livraria Bertrand, 1957.
NEWMAN. Ernest. História das grandes óperas e de seus compositores. Trad. João Henrique Chaves. Rio de Janeiro: Globo, 1960. v. 6.
PISTONE, Danièle. A ópera italiana no século XIX de Rossini à Puccini. Trad. Carlos Caetano. Lisboa: Caminho, 1988.
ROSSINI, Gioacchino. O barbeiro de Sevilha. Trad. Mariana Portas. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2011.
SADIE, Stanley (Ed.). Dicionário Grove de música-edição concisa. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
SCHWARTZ, Leon. A scion of the times: Leon Schwartz. New York: Worthy Shorts, 2010. v. 2
TARTAK, Marvin. The two “Barbieri”. Music & Letters, Oxford, v. 50, n. 4, p. 453-469, out. 1969.
VASCONCELLOS, Luiz Paulo. Dicionário de teatro. Porto Alegre: L&PM, 1987.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob Licença Creative Commons do tipo atribuição CC-BY-NC:
Este trabalho está licenciado sob uma licença CC-BY-NC