Ouçam Mirtes, mãe de Miguel: precarização e resistência no emprego doméstico durante a pandemia
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.cpst.2023.191677Palavras-chave:
Trabalho doméstico, Covid-19, Pandemia, Condições de Trabalho, Estudo de Caso, Psicologia SocialResumo
Este artigo é fruto de pesquisa de iniciação científica da PUC Minas sobre trabalho doméstico e pandemia. Em junho de 2020, morreu Miguel, de cinco anos, filho da empregada doméstica Mirtes Renata, que trabalhava durante a pandemia de covid-19. Miguel caiu do edifício enquanto estava sob os cuidados da patroa de Mirtes. A partir do estudo de caso do “caso Miguel”, aliado à bibliografia sobre trabalhadoras domésticas e relações étnico-raciais, buscou-se: (1) observar as relações entre raça, classe e gênero e a naturalização da precarização deste trabalho; (2) analisar o caso Miguel em sua relação com a profissão e movimentos de resistência na luta por direitos, reconhecimento e justiça. Como resultados, observa-se a potência das mobilizações de coalizão entre movimentos sociais e redes de solidariedade para a identificação do caráter estrutural do fenômeno, atuando em forma ampla pela justiça e transformação dessas estruturas. Conclui-se que a pandemia de covid-19 evidenciou a linha direta entre precarização da profissão e a desvalorização das vidas das trabalhadoras domésticas, sendo a morte de Miguel uma consequência da violência e precarização histórica do lugar da mulher negra.
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