Currículos de formação de professores: o poder de agência em questão

Autores

  • Maria Julia Carvalho de Melo Universidade Federal de Pernambuco
  • Lucinalva Andrade Ataide de Almeida Universidade Federal de Pernambuco
  • Carlinda Leite Universidade do Porto

DOI:

https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248247432por

Palavras-chave:

Currículo, Poder de agência, Formação de professores, Teoria do discurso

Resumo

Este artigo resulta de uma pesquisa realizada no agreste pernambucano que se inscreve no debate nacional sobre currículos de formação de professores, elegendo como problemática as possibilidades de um processo formativo contribuir com o desenvolvimento do poder de agência dos professores. Como aporte teórico, baseia-se na compreensão de que a agência não é algo que se tem, mas que se alcança, e de que os programas de formação de professores precisam conceber um processo de ensino e aprendizagem que permita aos estudantes, futuros docentes, se desenvolverem para além de executores de determinações externas a eles. Do ponto de vista metodológico, é adotada a teoria do discurso a partir de um registro analítico que nega todo e qualquer fundamento apresentado como último. Nesta orientação, são analisados projetos curriculares de quatro cursos de licenciaturas provenientes de uma universidade federal, localizada no agreste pernambucano, inserindo-os em sua condição histórica e contingencial. A análise dos dados recolhidos aponta o reconhecimento do currículo como espaço de integração não-linear entre o lócus de formação e o de atuação profissional, integração fabricada em projetos de formação que buscam romper com formas tradicionais e que encorajam o recurso a práticas reflexivas e de decisão curricular.

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Publicado

2022-12-19

Como Citar

Currículos de formação de professores: o poder de agência em questão. (2022). Educação E Pesquisa, 48(contínuo), e247432. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248247432por