Posição do sujeito e posição social: um caso de competição de gramáticas em cartas dos séculos XIX e XX

Autores

  • Silvia Regina de Oliveira Cavalcante Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i1p147-170

Palavras-chave:

Posição do sujeito. Português brasileiro. Cartas pessoais.

Resumo

Tarallo (1993) propõe que a virada do século XX é um marco para a história do Português Brasileiro (PB), em ocorre a emergência de uma gramática brasileira diferente da gramática do português europeu, principalmente no que se refere à preferência por sujeitos plenos e ordem SV rígida (Tarallo, 1993). O PB apresenta características de uma língua parcialmente pro-drop, isto é, um sujeito nulo de terceira pessoa com um referente indeterminado (Holmberg, 2006, Cavalcante, 2007). Uma das consequências dessa mudança recai na posição do sujeito que passa a ser preferencialmente anteposto ao verbo, fazendo com que se possa afirmar que o PB é uma língua de ordem VS restrita (Kato, Cyrino, Duarte, Berlinck, 2006). Neste trabalho, observamos a posição do sujeito numa amostra de cartas pessoais que compõem o Corpus Compartilhado Diacrônico: Cartas Pessoais brasileiras (http://www.letras.ufrj.br/laborhistorico/). Trata-se de uma amostra composta de cartas escritas entre o final do século XIX e início do século XX trocadas entre casais e/ou entre os filhos dos seguintes acervos: Ottoni; Oswaldo Cruz (1889-1915); Affonso Penna; Pedreira Ferraz Magalhães e Jayme-Maria. A hipótese principal que defenderemos aqui é que é possível detectar competição de gramáticas (Kroch, 1989) entre os missivistas no que se refere à posição do sujeito relacionada, principalmente, ao papel social dos missivistas em questão. Por se tratar de correspondência de casais, podemos verificar, já no século XIX, nas cartas das missivistas mulheres um padrão de ordem VS muito parecido com o atual encontrado para o PB: restrito a construções inacusativas e apresentativas; ao passo que nas cartas dos missivistas homens, encontramos diferentes padrões de ordem VS. Isso pode ser explicado por contingências históricas que diferenciam como podemos perceber a configuração da gramática do PB em textos escritos a partir do século XIX: ao longo do século XIX e até meados do século XX, o papel da mulher no Brasil restringe-se aos deveres domésticos, ao passo que cabe ao homem não só o papel de provedor, mas no caso dos nossos missivistas, o papel de senador, médico, presidente. Nesse contexto, acreditamos que nas cartas das missivistas encontraremos padrões mais próximos do PB atual, do que nas cartas dos missivistas.

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Biografia do Autor

  • Silvia Regina de Oliveira Cavalcante, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
    Professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Publicado

2014-07-01

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Posição do sujeito e posição social: um caso de competição de gramáticas em cartas dos séculos XIX e XX. (2014). Filologia E Linguística Portuguesa, 16(1), 147-170. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i1p147-170